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Cosmetic Innovation - Know More. Create More.Destaque Matérias EspeciaisSlow Beauty: consumo consciente do campo ao oceano

Slow Beauty: consumo consciente do campo ao oceano

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Consumidores traçam futuro natural, transparente, sustentável e sem desperdícios para a indústria da beleza

Por Estela Mendonça

Mais do que onda ou conceito, a slow beauty é um movimento que, na mesma pegada da slow food e slow fashion, convoca a sociedade a repensar seus hábitos de consumo e pede um basta aos maus costumes enraizados ou aos impulsos consumistas no universo da beleza.

Desde o início da década de 2010, já se ouvia falar em slow beauty, que pregava um retorno às origens, mas que vem assumindo um novo significado, que alia o poder dos ingredientes vegetais à alta tecnologia. Isso tudo para atender consumidores em busca de beleza sustentável, transparente e sem exageros, quer em produtos ou ingredientes.

Turbinado pela expansão das redes sociais, esse movimento, inclusive, criou um novo cenário do mercado de beleza, com espaço para pequenas marcas brasileiras se firmarem, especialmente as focadas em práticas naturais, holísticas, positivas e sustentáveis.

“Afirmações naturais, além de serem importantes motivadores de compra de produtos, quando combinadas com afirmações de eficácia do produto e identidade de marca, acionam o quociente de sustentabilidade”, diz o relatório da Future Market Insights, que identificou a crescente demanda por certificações de rótulo limpo, incluindo não OGM, vegan, cruelty-free e outros dentro da indústria de cosméticos. Segundo o estudo, o mercado de cosméticos orgânicos chegará a US$ 18,7 bilhões este ano.

A empresa de pesquisa também aponta que os consumidores começaram a exigir total transparência das empresas de cosméticos com relação a seus métodos de abastecimento, produtos, ingredientes e práticas de sustentabilidade. “A pressão sobre as marcas e fabricantes de cosméticos para demonstrar suas credenciais sociais e ambientais está aumentando. Portanto, mais deles estão encontrando maneiras de transformar suas próprias marcas por meio de produtos, serviços e experiências de consumo com foco na sustentabilidade”, diz o relatório.

Compreensão 360º

Para a Euromonitor, a COVID-19 acelerou a tendência pré-crise para uma nova versão de consumo consciente que abrange padrões ainda mais elevados em torno da saúde e da sustentabilidade da pele. “A beleza consciente é definida como o culminar de uma compreensão 360˚ das necessidades dos consumidores e do ambiente ao seu redor, equilibrando os fatores de consciência intrínsecos e extrínsecos. Não é apenas necessária uma abordagem personalizada para entender os tipos de pele, mas os consumidores também avaliam o impacto ético e ambiental mais amplo de uma compra com a mesma seriedade das prioridades pessoais”, diz a analista Gabriella Beckwith.

Beleza das cinzas

Mariana Guimarães, coordenadora de Negócios de Personal Care da Dinaco, comenta a tendência: “É hora de desacelerar. Na contramão do consumo em excesso e desenfreado, o conceito slow beauty propõe olharmos o autocuidado de uma forma mais gentil. Baseado na sustentabilidade, consumo consciente e saúde, os adeptos desse movimento procuram conhecer melhor os produtos que estão consumindo, além de escolher ingredientes que sejam benéficos para o seu corpo, como os produtos naturais e orgânicos, e a consumir produtos que gerem menos lixo ao meio ambiente”.

Alinhada ao conceito, a Dinaco trouxe para o mercado brasileiro a Biosilica™, sílica biogênica desenvolvida pela Aprinnova. Derivado das cinzas da cana-de açúcar, provenientes da queima do bagaço, o ingrediente é um subproduto do processo de fermentação e fruto da economia circular.

Mariana Guimarães, coordenadora de Negócios de Personal Care da Dinaco

De acordo com Mariana, ao contrário de outras fontes naturais, o bagaço da cana-de-açúcar contém níveis elevados de sílica, em torno de 25% ou mais. Por meio de tecnologia diferenciada, realiza-se a extração da sílica que é processada e desenhada para atender as principais características para o uso em cosméticos.

“A Biosilica™ é uma excelente alternativa aos microplásticos e oferece melhor desempenho comparado à sílica tradicional, extraída da areia, recurso não renovável e com intensa exploração no planeta”, alerta a executiva.

Mariana acrescenta que, aplicada em diversas categorias, como maquiagens, cuidados com a pele e proteção solar, a Biosilica™ oferece controle da oleosidade, efeito soft focus sem deixar a pele seca, matificação e proporciona uma textura elegante ao produto. “A sílica da Aprinnova é um ingrediente natural e orgânico para consumidores conscientes valorizarem seu tempo de cuidados pessoais e o meio ambiente”.

Formatos sólidos

“Aspectos como escolher um produto seguro quanto aos seus componentes, que não causem impactos nem à saúde nem ao meio ambiente e que não tenham sido testados em animais ganham mais relevância e influenciam cada vez mais na decisão de compra”, avalia Georgios Theodoropoulos, responsável pelo Desenvolvimento de Negócios de Home e Personal Care do Grupo Solvay na América Latina.

Segundo o executivo, o foco do trabalho da Rhodia, empresa do Grupo Solvay, na área de ingredientes de formulação de produtos para personal care, está voltado para oferecer soluções que respondam às necessidades do mercado, de acordo com as grandes tendências da sociedade. “Os consumidores estão cada vez mais atentos e conscientes de seu poder de compra, buscando produtos de beleza que efetivamente possam contribuir com seu bem-estar e ao mesmo tempo ofereçam credenciais de sustentabilidade”.

Georgios Theodoropoulos, Gerente de Desenvolvimento de Negócios na Solvay

Theodoropoulos comenta que uma dessas novas realidades no setor de personal care tem sido, por exemplo, os formatos sólidos para cuidados e tratamento dos cabelos. “É crescente a busca por formulações de xampus e condicionadores em barra, que têm como proposta de valor principal o consumo consciente e o cuidado com o ambiente, com o uso reduzido de água na produção e não utilização de embalagens plásticas”. Além disso, ele lembra que a utilização de xampus e condicionadores sólidos garantem diversos outros benefícios, como a redução da emissão de carbono, graças à menor circulação de transporte logístico, e a redução no uso de conservantes.

Considerando-se que, para se formular um xampu sólido, são fundamentais três categorias de ingredientes: agentes de limpeza, tensoativos suaves (para reduzir a irritação e aumentar a qualidade da espuma) e ingredientes condicionadores, a Rhodia oferece todas elas em seu portfólio, inclusive na forma não líquida.  Entre eles, Theodoropoulos destaca o Mackaderm® LIA, que permite formular produtos com alto nível de condicionamento (xampu, condicionador), origem 100% vegetal, biodegradável, validação COSMOS e pode ser utilizado em formulações de produtos veganos. “Desenvolvido e produzido na Rhodia Brasil, esse é um dos produtos do nosso portfólio que apresenta alta performance e apelo sustentável. Ele reúne um conjunto de atributos cada vez mais valorizados pelos clientes e pelos consumidores finais”.

Outro destaque são os produtos da linha Jaguar®, que entregam alto nível de condicionamento, além de possuírem credenciais de sustentabilidade: polímeros naturais, validação COSMOS, vegano, cruelty-free.

Ativos encapsulados

Sob a ótica da sustentabilidade e da consciência de consumo, a TNS apresenta suas cápsulas constituídas por polímeros naturais. “São materiais formulados de acordo com as tendências clean e slow beauty, ditadas pelo consumidor nos tempos atuais, livres de formaldeído, microplásticos e capazes de adicionar funcionalidades especiais em diferentes formulações”, ressalta Alexsandra Valério, gerente técnica da TNS Nano.

Alexsandra Valério, gerente técnica da TNS Nano

Alexsandra explica que o processo de encapsulamento é capaz de proteger fragrâncias, óleos essenciais e ativos de fatores ambientais externos, como radiação UV e variações de temperatura, por exemplo, além de promover uma liberação gradual do material encapsulado.

A estabilidade química é uma das vantagens: “O encapsulamento de materiais de caráter oleoso, como fragrâncias ou óleos essenciais, e até alguns nutrientes em matrizes hidrofílicas, torna possível sua aplicação em formulações de base aquosa, garantindo sua estabilidade química”.

A ação prolongada é mais um atributo. Segundo Alexsandra, uma vez que compostos voláteis, nutrientes ou bactérias sensíveis estão protegidos, seu tempo de ação na formulação final também será prolongado quando comparado com o ativo livre. “Teste quantitativo (veja gráfico abaixo) realizado em meio aquoso demonstrou que uma fragrância encapsulada foi capaz de manter sua ação por um tempo quatro vezes maior quando comparada com a fragrância livre”, exemplifica.

Liberação de fragrância encapsulada chega a ser quatro vezes do que a fragrância livre

Outra vantagem apontada pela gerente é que a liberação do ativo pode ser modulada de acordo com gatilhos específicos no local da liberação solicitado pelos clientes. “A diferença de pH, o aumento de temperatura, a presença enzimática ou até a fricção podem ser variações físico-químicas (gatilhos) solicitados para o rompimento da cápsula”, afirma, acrescentando que a prática do encapsulamento, em sua grande maioria, permite a utilização de menor quantidade de ativos, em virtude de sua liberação prolongada e do efeito protetivo que a cápsulas da TNS oferecem.

TNS Care

No que se refere à versatilidade e ao potencial de aplicações das cápsulas TNS, Alexsandra reforça que a utilização de as chamadas bactérias do bem em formulações de biocosméticos estará ainda mais presentes no mercado de cosméticos.

“Dado seu imenso potencial em produtos, as cápsulas TNS são uma excelente alternativa para proteção de bactérias, tornando sua adição em formulações estratégicas, tanto para sua estabilidade quanto para garantia de qualidade e gatilhos específicos demandados para aplicação final”, completa Alexsandra.

Assumidamente slow beauty

A Simple Organic, maior empresa brasileira dedicada a cosméticos naturais, orgânicos e veganos, fundada em 2017 em Florianópolis (SC), demonstra bem que os negócios de beleza voltados à sustentabilidade, saúde e consumo consciente estão ganhando protagonismo. Em dezembro, foi adquirida pela farmacêutica Hypera Pharma, deixando evidente a estratégia de abreviar sua entrada nesse caminho sem volta que a indústria da beleza deve percorrer nos próximos anos.  “Esta aliança é um marco para o mercado de beleza brasileiro, possibilitando que a Simple Organic ganhe dimensões em vários aspectos com a estrutura operacional e know-how da Hypera Pharma, mas sempre preservando sua identidade”, disse a fundadora Patrícia Lima, que seguirá à frente do negócio, após a aquisição majoritária pela farmacêutica.

Entre os destaques, a Simple Organic lançou recentemente o Balm CB2, desenvolvido para diminuir a resposta inflamatória e promover bem-estar da pele. Formulado com um blend de complexos naturais da Amazônia, com eficácia similar ao CBD, o balm ativa os receptores CB2 do sistema endocanabinoide. A sensação de conforto, calma e relaxamento é atribuída aumento da produção de β-endorfina. O balm também conta com esqualano e óleo essencial de menta piperita.

Balm CB2, da Simple Organic, com complexos da Amazônia, promete eficácia similar ao CBD

Rotina simples

“Os adeptos deste movimento consomem menos cosméticos, porém com mais qualidade, dando preferências a fórmulas orgânicas. O objetivo, além de manter uma rotina de cuidados mais saudável, é gerar menos lixo e simplificar o dia a dia”, define Caroline Villar, fundadora da Souvie, criada em 2015 em Itupeva (SP), que na época investiu R$ 30 milhões no negócio especializado na produção de cosméticos orgânicos certificados.

“De forma simples, esse movimento propõe um novo olhar sobre a rotina de autocuidado e beleza por meio de seus três pilares básicos: sustentabilidade, saúde e consumo consciente, que defendem a beleza natural com produtos orgânicos e veganos, livres de componentes sintéticos, como parabenos, silicones ou sulfatos”, define Caroline.

A empresa trouxe no ano passado uma novidade para o mercado de desodorantes, lançando quatro novas versões de desodorantes veganos com ação hidratante para mulheres. A versão para mulheres entre 18 e 25 anos possui extrato de melissa em sua composição, com ação antisséptica, calmante e anti-inflamatória, que protege, acalma e suaviza a pele. A fórmula também conta com óleo de girrassol, rico em vitamina E, capaz de promover ações emolientes, cicatrizantes e hidratantes. Já o Desodorante Hidratante 45-60 tem ingredientes que ajudam na recuperação da pele, que já foi exposta a diferentes métodos depilatórios e atrito com tecidos.  Para isso, contém extrato de maçã e óleo de rosa mosqueta, ricos em vitamina C e antioxidantes naturais, que favorecem a rápida regeneração e nutrição da pele.

Desodorantes da Souvie consideram diferentes fases da vida da mulher

Barras sólidas

Impulsionados principalmente pela geração millennial, que tem demonstrado interesse em conhecer os componentes dos produtos que consomem, bem como toda a cadeia produtiva e seu impacto no meio ambiente, os cosméticos sólidos estão ganhando mercado. A  B.O.B (Bars Over Bottles), marca que visa reduzir o uso de embalagens, zerar o uso de plástico e acabar com a contaminação das águas, transforma todos os seus produtos em barras sólidas e secas, que concentram apenas o mais importante dos melhores ingredientes.

Marca B.O.B transforma todos os seus produtos em barras sólidas

Mesmo durante a pandemia muitas marcas viram seu faturamento engordar. Foi o caso da AhoAloe, fundada em 2017 por Larissa Pessoa e Rodrigo Lanhoso, que decidiram empreender em cosméticos com a aloe vera. No ano passado, a marca cresceu 700% no e-commerce. A empresa conta com uma plantação com mais de 30 mil pés de babosa e um portfólio com cerca de 50 produtos, entre séruns, sabonetes, cremes e óleos essências. Um de seus mais recentes lançamentos é o óleo facial Therapy, cocriado e assinado pela esteticista Suellen Campanhola, reúne óleos essenciais de pracaxi,  abacate, jojoba e copaíba, que auxiliam na sustentação da pele, estimulando a síntese do colágeno, elastina e ácido hialurônico, além de uniformizar a tonalidade da pele.

Óleo facial Therapy, da AhoAloe, que cresceu 700% no e-commerce em 2020

A paranaense Piunature é outra marca que surgiu oferecer produtos à base de óleos essenciais e vegetais. Criada em 2016 pela química e cosmetóloga Lígia Mocelin, um destaque de seus produtos é a Bruma Facial Remineralizante com silício orgânico, hidrolato de lavanda, hamamelis, gingko biloba, Pantenol e outros ativos. A bruma ajuda a evitar e tratar as irritações sofridas pela pele e pode ser aplicada várias vezes ao dia.

Bruma Facial Remineralizante da Piunature acalma a pele

Para competir no mercado de maquiagem, Iasmim Dias criou em Brasília no ano passado a Mooi, marca de maquiagem multifuncional, com ingredientes 100% naturais, como cera de carnaúba, esqualeno, aloe vera, manteiga de manga, óleos de argan, buriti, açaí, jojoba, pistache e pracaxi. Os primeiros produtos foram lançados em formato stick: três tonalidades de iluminadores, dois tons de bronzers e quatro cores do multi-stick, que pode ser utilizado como batom, blush e sombra.

Mooi aposta em cosméticos multuncionais no formato stick

Tempos desafiadores

Em seu relatório sobre as tendências no mercado de beleza e personal care, a Mintel acredita a redução na renda dos consumidores levará ao que chamou de “Beauty Re (Valued)”, uma reavaliação dos produtos, já que as decisões de compra dependerão cada vez mais da funcionalidade, qualidade e benefícios, continua o relatório. “Se as empresas desejam aumentar a lealdade de seus grupos-alvo, devem comunicar o valor que as marcas e os produtos podem trazer para a vida cotidiana”, diz o relatório.

De acordo com a Mintel, após a pandemia de COVID-19, as questões ambientais se tornarão mais um foco para os consumidores do que antes.  Definida como “Beauty Eco-lution”, a tendência prega que os consumidores levarão em consideração fatores éticos e de segurança ao tomar decisões de compra. Como resultado, muitos consumidores estarão mais propensos a optar por produtos locais em vez de preços baixos.

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