Extrato de jambu será usado na fabricação de anestésicos e de produtos anti-idade
Tecnologia desenvolvida na Unicamp, recentemente licenciada, rende produto mais puro e de alta qualidade
Pesquisadores do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) e da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp desenvolveram um processo que permite a obtenção de extrato de jambu mais puro, com a presença de espilantol – principal responsável pelo efeito anestésico – e livre de clorofila. Também chamado de Agrião, Agrião-Pará ou Agriãozinho, o extrato da planta é utilizado não apenas como ingrediente culinário – especialmente na região Norte -, mas também como anestésico e antibiótico em tratamentos, via oral, para dor de dente e de garganta, por exemplo. Outra utilização possível é na fabricação de cosméticos e produtos anti-idade.
O processo foi licenciado, em caráter não-exclusivo, para a Brasil Aromáticos. A empresa, que atua no desenvolvimento de cosméticos e produtos voltados para o mercado de bem-estar, teve interesse pela tecnologia ao esbarrar em um problema comumente encontrado na indústria: a pouca oferta de matéria-prima na consistência desejada, antes comercializado por apenas um fornecedor, caracterizando uma espécie de monopólio de mercado.
Nós temos um produto importante da empresa que utiliza extrato de jambu. Pago 10 mil reais, o quilo, pela matéria-prima. Mas, por ser um simples extrato de uma planta e não ser algo tão tecnológico, não justifica ser tão caro”, avalia Raquel da Cruz, sócia-fundadora da Brasil Aromáticos. O pesquisador Rodney Alexandre Ferreira Rodrigues, que atuou no desenvolvimento do processo, revela que, além de possibilitar um barateamento na extração do jambu, a tecnologia também apresenta inúmeros benefícios. “Nosso processo de extração permite um extrato mais potente e livre de pigmentos, é simples, rápido, barato e ‘verde’ por não usar produtos tóxicos ou cancerígenos, por exemplo”, afirma Rodrigues.
Raquel conta que chegou até a tecnologia da Unicamp após efetuar uma busca na Internet, visando uma solução que possibilitasse, efetivamente, uma redução nos gastos para a produção de um produto específico, cujos nomes e a finalidade a empresa não pôde revelar por estratégia de mercado. “Com o uso da tecnologia, nós vamos reduzir drasticamente o custo de produção do extrato de jambu. A minha expectativa é que os valores sejam reduzidos em até 70%. Eu vi que tinham outras opções, mas todas eram muito diluídas e não tinham a presença do espilantol. Ao pesquisar por esta última substância, encontrei todo o trabalho desenvolvido pelo Rodney, na área de odontologia, com o extrato de jambu e o espilantol”, lembra.
Também participaram do desenvolvimento do processo os professores Francisco Carlos Groppo e João Ernesto de Carvalho e a doutora Verônica Santana de Freitas Blanco. Somado à redução dos custos, o licenciamento da tecnologia também teve o objetivo de melhorar a performance do produto já vendido pela Brasil Aromáticos. “Atualmente, todo extrato de jambu obtido é na coloração verde, o que dificulta sua aplicação. Como a tecnologia desenvolvida pela Unicamp não resulta na presença da clorofila, o resultado é um extrato sem cor, o que flexibiliza a sua utilização. Outro ponto interessante também é que o extrato de jambu obtido com a tecnologia conta com propriedades estimulantes e não apenas anestésicas, como as demais”, corrobora Raquel. Já Rodrigues aposta na simplicidade da tecnologia como ponto positivo para sua utilização. “Por ser simples, permite aplicação industrial sem requerer equipamentos complexos e sofisticados, é também segura e rápida. Ela é inovadora para anestésicos de plantas”, comenta.
Embora a tecnologia já tenha sido licenciada pela empresa, Raquel conta que ela ainda não está sendo utilizada, pois demanda novas pesquisas para avaliar mais a fundo os níveis de espilantol, principal ativo do extrato de jambu com função anestésica e substância importante para o produto a ser comercializado, presentes no extrato de jambu obtido. Os estudos serão conduzidos em desenvolvimento complementar entre a universidade e a empresa. A sócia da empresa revela que, para as próximas etapas, as pesquisas receberão aporte financeiro do programa PIPE (Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Por se tratar de um processo de extração, Raquel comenta que a empresa tem o intuito, inclusive, de testá-la para obter extratos de outras plantas.
A porta-voz da empresa avalia a atuação da Inova como primordial para gerar inovações de interesse para o mercado. “Se eu tivesse que resumir o papel da Inova em uma só palavra, seria conexão. A Inova tem essa habilidade de conectar interessados em levar as pesquisas da universidade para a indústria”, aponta.
A Feitiços, que detém a marca Brasil Aromáticos, é um grupo que existe há 16 anos e conta com 15 colaboradores em seu quadro de funcionários. A Feitiços Brasil está situada na região de Itaquera, em São Paulo. A empresa foi ganhadora do Prêmio IstoÉ Empresas Mais Conscientes em 2014, por suas ações socioambientais e por promover o desenvolvimento local.
Fonte: A Critica