Universidades federais de Viçosa e Minas Gerais desenvolvem hidratante à base de urucum
Um hidratante corporal feito de extrato de urucum que está sendo desenvolvido por startups mineiras promete diminuir a inflamação da pele e agir como tratamento preventivo da dermatite atópica. O produto tem previsão para chegar às farmácias em setembro deste ano.
O pesquisador da startup Profitus e professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV) Péricles Fernandes, um dos criadores do produto, garante que o hidratante nutre a pele e tem o poder cicatrizante. “Além de promover a hidratação intensa, também será capaz de inibir a inflamação, reduzindo a necessidade do uso de corticoides”, explica.
“Como as tecnologias da composição são 100% naturais, o hidratante não apresenta os efeitos colaterais provocados pela medicação normalmente utilizada”, diz o pesquisador. Ainda segundo Fernandes, a formulação do hidratante já está pronta. “Nos próximos meses, serão iniciados os testes clínicos em pessoas com dermatite atópica para comprovar a eficácia do novo produto”, explica Fernandes.
As tecnologias deste produto foram desenvolvidas pelas startups Profitus, vinculada à Universidade Federal de Viçosa (UFV), e Bioaptus, vinculada à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Ainda de acordo com Fernandes, o projeto surgiu do compromisso social das empresas com a população. “Estar vinculado ao Parque Tecnológico de universidades respeitadas como a UFV e a UFMG nos traz muita responsabilidade. É a busca incessante em produzir inovação, inclusive em segmentos para os quais a grande indústria ainda não possui respostas adequadas”, diz. Ele explica que, em função de todo apoio e incentivo público recebido, é um compromisso da startup desenvolver produtos que possibilitem a melhora de qualidade de vida da população.
A parceria viabilizada com recursos do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) objetiva desenvolver um creme com extrato de urucum e aptâmeros (anticorpos à base de DNA produzidos em laboratório) que são capazes de prevenir respostas inflamatórias indesejáveis na pele ao mesmo tempo em que estimulam a regeneração dos tecidos já afetados ou sensibilizados pela doença.
Os aptâmeros desenvolvidos, segundo os pesquisadores, atuam bloqueando as moléculas responsáveis por iniciar processos inflamatórios na pele, possibilitando assim a redução ou total bloqueio das manifestações da dermatite atópica.
A servidora pública Luciana Teixeira, descobriu que tinha psoríase palmoplantar – doença com sintomas muito semelhantes à dermatite atópica e seus dedos descamavam muito.
“Quando meus dedos estavam naquela situação, eu sentia vergonha. Usei pomadas de cortisona, mas não fez efeito. Passei a usar a natural de urucum e, em sete dias, as feridas já estavam cicatrizadas”, disse.
A dermatite atópica é uma reação alérgica e inflamatória crônica com origem genética. É caracterizada por pele seca e lesões que coçam muito. Atinge principalmente a dobra dos braços e a parte de trás dos joelhos.
O pesquisador Aloísio José dos Reis, um dos fundadores da Profitus, conta que, em 1999, percebeu o efeito cicatrizante da planta ao manipular o urucum com as mãos machucadas. “As lesões eram muito profundas e melhoraram com rapidez impressionante”, diz o pesquisador.
Curioso, Reis procurou o professor da UFV Paulo Stringheta e relatou o acontecido. Juntos, eles comprovaram, em laboratório, as propriedades do urucum. A linha de dermocosmésticos da universidade, lançada em 2016, já conta com quatro pomadas – para tratar escaras; para grandes queimaduras; para pessoas da terceira idade; e outra para lesões de difícil cicatrização, como de diabéticos.
No ano passado, as pomadas começaram a ser exportadas para a Austrália e a Nova Zelândia.
Fonte: O Tempo