Cosméticos de tapioca e amido de milho: USP desenvolve produtos para pele
Formulação é sustentável e consegue maior hidratação e proteção contra o sol e poluição. Novidade foi patenteada e já tem licença para ser produzida comercialmente.
Pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto (SP) desenvolveram uma formulação para cosméticos a partir da mistura de dois ingredientes encontrados facilmente na cozinha de casa: tapioca e amido de milho.
A base apresenta diferentes benefícios e pode ser utilizada para hidratação e proteção da pele contra agressões externas, como sol e poluição, como explica a professora Patrícia Maria Berardo Maia Campos, orientadora do estudo.
A ideia surgiu durante o doutorado do pesquisador Victor Hugo Pacagnelli, que precisava achar uma maneira mais econômica e eficiente de testar formulações cosméticas em 100 participantes.
Como esses produtos costumam ser mais caros, Pacagnelli conta que começou a pensar em alternativas para baixar o valor dos testes, sem perder a qualidade das aplicações.
“Eu tinha feito uma disciplina de polímeros biodegradáveis e a gente tinha falado um pouco sobre o amido e a capacidade que ele tem na estabilização de formulação. Aí veio na minha cabeça ‘por que não tento uma mistura de amidos?”’.
Amido melhora oleosidade da pele
O pesquisador explica que o amido, tanto o de milho como o da tapioca extraída da raiz da mandioca, pode ser usado de diferentes formas.“Você pode usar puro ou ‘cozinhar’. Das duas formas, você vai ter algum tipo de benefício. Quando você usa em pó, por exemplo, pode ter efeito na melhora da oleosidade da pele. Até alguns pós [de maquiagem] são de tapioca hoje em dia”.Para achar a concentração mais efetiva de amido na formulação desenvolvida, Pacagnelli testou diferentes quantidades até encontrar a ideal.No total, foram 36 tentativas, que foram, uma a uma, analisadas matemática e estatisticamente.“Fiz primeiro só com um amido, depois só com outro, aí coloquei as duas [formulações] em uma concentração parecida e vi que alguns parâmetros mudavam muito em relação à textura”.
A mistura dos diferentes tipos de amido e o estado em que eles foram usados têm papel importante na funcionalidade da nova formulação, diz o pesquisador.“O amido de milho não foi hidratado, já o de tapioca foi. Por essa razão, o de tapioca acaba sendo um pouco mais fluido e o de milho tem mais partículas. A hora que você mistura os dois, é como se estabilizasse muito bem formulações cosméticas”.
A nova formulação foi desenvolvida em gel, em razão da versatilidade e poder de estabilização.
Como a pesquisa chegou na base ideal
Para chegar à base ideal, de gel, Pacagnelli explica que ‘cozinhou’ o amido. Segundo ele, o calor faz com que a substância se transforme.“’Cozinho’ o polímero (amido), porque você tem que dar esse calor para virar um gel. Além de ser barato, é muito versátil, você pode usar para muita coisa”.Foi assim que os pesquisadores optaram por testar o amido na formulação de um protetor solar, por exemplo.”A gente usou para a formulação de protetor solar, mas podia ser aplicada no cabelo também. É como se fosse uma base, e essa base apresenta uma versatilidade de formulação”.
Fonte: G1 08.10.2023