Adcos prepara novas marcas e operação internacional
Empresa farmacêutica encerrou 2022 com vendas recorde de R$ 500 milhões
Um dos maiores incômodos da farmacêutica Ada Mota nos anos 1990 era que, na cosmética, “as pessoas acreditavam em fórmulas mágicas”. E continuam, “mas hoje buscam provas de que as coisas realmente funcionam”. Essa mudança de comportamento, que a farmacêutica diz ser recente, abriu espaço para um outro negócio em sua empresa, a Adcos Dermocosméticos.
Desde 2018, a companhia capixaba cresce a um ritmo de 30% ao ano, bem acima da média atual de 13% do setor, e completará três décadas neste ano colocando em prática planos ambiciosos. A antiga farmácia de manipulação, nascida em Vitória e que encerrou 2022 com vendas recorde de R$ 500 milhões, com alta de 32% sobre o ano anterior, prepara o lançamento de duas novas marcas, a reedição de sucessos e internacionalização nos Estados Unidos e na Europa.
A primeira grife, que a empresa prefere não divulgar o nome, será focada em “clean beauty”, ou “beleza limpa”, uma vertente da cosmética feita apenas com ingredientes naturais e que ganhou holofotes na esteira do sucesso de marcas como Sallve, Biossance e Simple Organic – esta última, comprada em 2020 pela Hypera Pharma.
Prevista para entrar no mercado no segundo semestre, a nova grife terá tíquete alto, de R$ 170, ante a média de R$ 90 do mercado de “beleza limpa”, e estará em “corners” exclusivos nas 140 lojas da Adcos, entre próprias e franquias. O número desses espaços exclusivos para o produto, que pode chegar a 180, se confirmado o plano de Lucas Mota Soares, de agregar 40 novas franquias até dezembro. Lucas Soares é o diretor comercial da empresa e um dos quatro filhos da Dra. Ada, como ela é conhecida no ramo.
Porto Alegre (RS) e shoppings de luxo são focos da expansão da rede. A empresa fechou há duas semanas com o grupo JHSF o aluguel de um espaço no CJ Shops, em São Paulo, a ser inaugurado neste trimestre. Logo depois, a Adcos abrirá um ponto no Shopping Iguatemi, também na capital paulista.
Uma segunda marca, só de bioestimuladores e preenchedores, chegará ao mercado até julho nas clínicas de harmonização facial. Diferentemente da Adcos Dermocosméticos e da Adcos Professional, ambas com produtos de uso tópico, o foco da nova marca – o executivo também não revela o nome – será o desenvolvimento de fórmulas para aplicação intradérmica. Essa é uma seara dominada no Brasil por gigantes estrangeiras como a suíça Galderma e a irlandesa Allergan.
O plano soluciona, em parte, a insistência do público em tentar combater de forma instantânea as marcas do envelhecimento, e preenche um vácuo nos negócios da empresa. Não significa, porém, que o horizonte dos dermocosméticos esteja nublado. O segmento é avaliado em US$ 61,6 bilhões, em nível global, pela consultoria P&S Intelligence e deve atingir US$ 132,7 bilhões até 2030.
“Mas nunca conseguimos competir com o imediatismo. Dez anos atrás, não existia isso de tanta gente sair do consultório do dermatologista com menos rugas, como ocorre agora. Luto para que as pessoas entendam que não adianta fazer procedimentos estéticos se a pele não aguenta. O cuidado tem de ser constante”, diz a empresária.
Tão constante como parece ser o investimento em estudos comprobatórios empreendidos pela empresa anualmente. Dos R$ 50 milhões que devem ser aplicados nas iniciativas deste ano comemorativo, 20% se concentram apenas em pesquisa e desenvolvimento, área liderada na empresa pelo ex-analista da La Roche-Posay, Vitor Seixas.
Além de empregar 800 pessoas e impactar outros 3 mil empregos indiretos, a companhia conta com 4,5 mil representantes que visitam consultórios médicos – origem do boca a boca que tornou a Adcos uma referência em tratamentos para a pele. À frente da consultoria médica estão outros dois filhos de Ada, Felipe e Matheus, ambos dermatologistas. O quarto, Victor Mota Soares, é o diretor financeiro.
Ada Mota revela que, além de um novo produto à base de ácido poliglutâmico, “nova moda em Londres” e que será integrado ao portfólio neste ano para além da reedição de fórmulas, como a de vitamina C para a pele, ela estuda um anti-idade “para mudar o mercado, algo que eu mesma queira usar”.
Dar personalidade ao produto, “sem limite de preço na criação”, seria um dos motivos pelos quais a Adcos se tornou concorrente de gigantes como Skinceuticals, Mantecorp e La Roche-Posay no mercado brasileiro.
“Sempre digo aos meus farmacêuticos, ‘faça um produto que você daria para sua mãe usar’. Se for para a fórmula custar caro, ela vai custar. Prefiro não fazer a ter de colocar algo de qualidade inferior [na prateleira] com uma concentração baixa [do ativo]”, diz Ada Mota, citando uma das características que diferencia os cosméticos dos dermocosméticos.
É o público de alta renda quem paga pelas fórmulas anti-idade – que representam 30% da receita da empresa – e de fotoproteção, na faixa de R$ 149. Os filtros solares são carros-chefe da Adcos, respondendo por 36% das vendas.
As fórmulas são reconhecidas por espelharem o clima brasileiro. Se as estrangeiras foram pensadas para condições do Hemisfério Norte, gerando resultados diferentes nas temperaturas e na umidade tropicais, as da Adcos supostamente se adaptam melhor ao país.
Mas isso não impede a marca de competir no mercado internacional. Entre o fim deste ano e o início de 2024, a Adcos deverá dar os primeiros passos solo na Europa e nos Estados Unidos.
“Existe uma demanda reprimida. Hoje, muitos consumidores pedem por Adcos nesses países. Vamos atuar com os mesmos canais do Brasil [lojas físicas, ‘e-commerce’ e farmácias]”, afirma Lucas Mota Soares, sem detalhar qual país deverá receber primeiro uma loja da marca. Ele reconhece que o desafio é grande, porque “as marcas brasileiras têm dificuldade de serem reconhecidas como difusoras de tecnologia [cosmética] nos mercados maduros”.
Fonte: Valor 27.01.2023