Cientistas descobrem origem de alergias de pele a cosméticos e perfumes
Interação de compostos contidos em alguns desses produtos com uma proteína presente na pele ativa nosso sistema imunológico
Pesquisadores da Universidade Monash (Austrália), da Universidade Columbia e da Faculdade de medicina da Universidade Harvard (EUA) descobriram como alguns compostos contidos em produtos cosméticos e perfumes podem ativar as células T humanas, as sentinelas do nosso sistema imunológico. O estudo a esse respeito foi publicado na revista “Science Immunology”.
Sabe-se há muito tempo que certos produtos químicos causam dermatite de contato alérgica (DCA), mas nossa compreensão de por que isso acontece ainda é muito limitada. As equipes lideradas pelo por Jamie Rossjohn, da Universidade Monash, Annemieke de Jong, da Columbia, e Branch Moody, de Harvard, investigaram o papel que uma proteína comum na pele – conhecida como CD1a – poderia desempenhar em reações alérgicas a cosméticos.
Os pesquisadores descobriram mais de uma dúzia de pequenos compostos capazes de se associar à proteína CD1a, levando a uma resposta imune na cultura de células T humanas.
“Normalmente, muitas moléculas de CD1a são preenchidas com bloqueadores naturais em nosso corpo que evitam uma resposta imune exagerada, e esses pequenos compostos basicamente removem tais bloqueadores naturais”, disse Marcin Wegrecki, integrante da equipe da Universidade Monash envolvida no estudo.
Interação em nível molecular
Parte da pesquisa se concentrou em pequenos produtos químicos presentes em muitos óleos essenciais e extratos botânicos, como o bálsamo-do-peru, uma resina oleosa da árvore Myroxylon balsamum var. pereirae encontrada em muitos produtos cosméticos, cremes dentais e fragrâncias.
“O bálsamo-do-peru também foi usado em produtos naturais porque vem de uma árvore – não é sintetizada quimicamente –, por isso era muito popular. Infelizmente, porém, um número significativo de pessoas – até 5% da população – é alérgico a ela, porque ela contém todos esses pequenos compostos”, afirmou ele.
Usando um feixe de raios X de alta energia no Síncrotron Australiano da Universidade Monash, os pesquisadores conseguiram descrever a maneira como a CD1a e o farnesol, outro aditivo comum em cosméticos e cremes para a pele, interagem em nível molecular.
Estratégias
Wegrecki, do Monash Biomedicine Discovery Institute, disse que os resultados publicados deram mais clareza sobre o que estava acontecendo. “Agora sabemos como alguns dos compostos encontrados em produtos para cuidados com a pele e cosméticos podem interagir diretamente com proteínas humanas”, disse ele.
Apesar da ocorrência de alergia, o bálsamo-do-peru ainda é usado em alguns produtos, incluindo creme dental, protetor solar, cremes para o rosto e cosméticos.
Mais pesquisas sobre o significado clínico dessas descobertas moleculares podem agora ajudar os cientistas a entender como esses pequenos produtos químicos induzem a DCA e potencialmente projetam estratégias para reverter seu efeito alergênico.
Fonte: Revista Planeta 06.01.2020