Elas criaram um novo jeito de vender perfume e, na pandemia, cresceram 60%
Filha de empreendedores da indústria da beleza, Larissa Mota, 39, reconhece que crescer no meio influenciou na criação da empresa de perfumaria Amyi. “Brinco que nasci em uma caixinha de cosméticos e aprendi matemática no estoque dos meus pais”.
No entanto, foi em Nova York, em 2011, depois de fazer um MBA em empreendimento em Boston, cinco anos antes, que Larissa voltou para o mercado da beleza. Ela trabalhou na perfumaria Givaudan, onde nasceu sua paixão pelo segmento. Em 2014 quando voltou para o Brasil, passou a liderar o desenvolvimento da marca Mary Kay na América Latina. Foi nesse período que a ideia da marca Amyi começou a surgir.
Descontente com os rumos e dificuldades em gerar mudanças no mundo corporativo, Larissa pediu demissão em 2018 e decidiu reavaliar seus propósitos de carreira. “Ter que trabalhar e viajar muito prejudicou o acompanhamento na educação dos meus filhos. Além disso, sou uma pessoa que projeta mudanças e, no mundo corporativo, vi dificuldades para isso. Decidi, então, caminhar com minhas próprias pernas.”
Em novembro do mesmo ano, começou a planejar a marca Amyi. Conversou com investidores para ter capital inicial e precisou de alguns encontros para convencer a amiga, Luciana Guidi, 39, formada em administração de empresa, “a pular nesse barco e tornar-se sócia.”
Durante o período de desenvolvimento da marca, Larissa e Luciana conversaram com casas de fragrância e perfumistas – profissionais que desenvolvem as fragrâncias e perfumes – sobre o objetivo de dar mais liberdade para o desenvolvimento dos perfumes. “A indústria trabalha de uma forma que limita o perfumista, antes de desenvolver a fragrância o profissional precisa se submeter a um orçamento e informações pré estabelecidos. Nós fizemos diferente, decidimos dar completa liberdade.”
Novo jeito de vender perfume
O produto passou por um teste com 45 mulheres que participaram do que a empreendedora chamou de “jornada olfativa”: experimentaram o perfume e responderam um questionário sensorial com perguntas baseadas em neurolinguística, “nosso principal propósito é que as pessoas se reconectem com seu olfato e escolham o perfume de acordo com seus sentimentos e memórias.”
A perfumaria foi lançada um ano depois que Larissa sentou para colocá-la no papel com investimento inicial de R$390 mil. Venderam parte do estoque até março – no e-commerce e em eventos e feiras. Aí, chegou pandemia do Coronavírus. “Tudo foi cancelado. O primeiro baque foi no dia 14 de março, quando nossas vendas caíram a zero de uma noite para o dia. Durante 15 dias nós não vendemos absolutamente nada.”
A dupla usou o susto como oportunidade de aprendizado, “tivemos que repensar prioridades e buscar equilíbrio entre a necessidade de resultados financeiros e o foco no consumidor”, diz Larissa. A equipe criou uma versão gratuita da experiência online: nela, o potencial cliente pode conhecer a marca sem precisar comprar o kit completo.
Mas foi no final de abril, quando um perfume da Amyi foi indicado na categoria Perfumaria Independente na 7ª edição anual da premiação Art and Olfaction Awards, que as vendas aumentaram e a marca ganhou projeção internacional entre especialistas. “Em maio crescemos 60% sobre o faturamento de abril.”
Protagonismo, liberdade orçamentária e de criação são o tripé da fórmula da empresa e foram fundamentais para o desenvolvimento da coleção e, consequentemente, indicação do prêmio da 7ª Edição do Art and Olfaction Awards. “O [perfumista] Samuel [Moraes, 45 anos], por exemplo, que usou a erva flouve em um de seus perfumes [Amyi VIII], sempre sonhou em usá-la, mas não teve a oportunidade por conta do preço. Na Amyi ele contou que pode usar com abundância”. Dentre os três perfumes da Amyi que estavam concorrendo a premiação, o Amyi VIII está entre os finalistas”, diz Larissa.
Além disso, Larissa afirma o foco no tratamento aos clientes fundamental para o sucesso da empresa. “Nossos feedbacks são diretos e analisados um a um, e não apenas sob a expectativa de venda no mercado.”
Segundo a empreendedora, com menos de sete meses no mercado, a Amyi teve um faturamento de R$ 190 mil e acompanha a margem das grandes marcas de beleza neste período, “vemos positivamente esse valor e acreditamos que sobreviveremos este ano apenas com o próprio faturamento. “A longo prazo, daqui sete ou oito anos, projetamos uma empresa de R$ 100 milhões. E quando falamos em ser uma marca de perfumaria de qualidade, nosso objetivo é ser a perfumaria fina mais importante do Brasil.”
Fonte: Uol 15.07.2020