Um estudo publicado recentemente na revista científica Neurobiology of Aging, desenvolvido em parceria entre pesquisadores da L’Oréal Brasil, Instituto D’Or, UFRJ e Episkin, empresa do Grupo L´Oréal, líder em engenharia de tecidos para uso em métodos alternativos in vitro, avançou na compreensão das mudanças na fisiologia cutânea ao longo dos anos e a consequente perda da sensorialidade da pele.
Realizada com um modelo de pele humana reconstruída (RHE) da Episkin, a pesquisa mostrou que a formação de agregados proteicos, já conhecidos por degenerar neurônios, também contribui para o envelhecimento da pele. Os pesquisadores descobriram que agregados da proteína alfa-sinucleína causam afinamento da pele porque deflagram inflamação e reduzem a multiplicação das células. A alfa-sinucleína já é conhecida por se agregar no cérebro e causar lesões em determinadas regiões que culminam na doença de Parkinson.
Vanja Dakic, pesquisadora da Episkin no Brasil
“Nosso estudo investigou o papel dessas proteínas na pele e possíveis causas da fragilidade cutânea com o envelhecimento”, diz Vanja Dakic, pesquisadora da Episkin no Brasil. Segundo o estudo, esses aglomerados também podem impactar neurônios sensoriais da pele, responsáveis por transmitir sensações do toque ao cérebro. “As alterações nos sentidos que ocorrem com a idade, como perda de visão e audição, são amplamente estudadas. No entanto, as alterações fisiológicas na pele e a perda tátil ainda precisam de uma melhor compreensão”.
O portal Cosmetic Innovation conversou com a cientista Vanja, que explicou como a descoberta abre caminho para novas pesquisas para entender os mecanismos de prevenção do acúmulo dessas proteínas ao longo do envelhecimento, bem como o desenvolvimento de produtos que estimulem a sensorialidade da pele envelhecida.
Quando você diz que “as alterações fisiológicas na pele e a perda tátil ainda precisam de uma melhor compreensão”, você se refere a quais aspectos?
As alterações nos sentidos que ocorrem com a idade, como perda de visão e audição, são amplamente estudadas. No entanto, as alterações fisiológicas na pele e a perda tátil ainda precisam de uma melhor compreensão. A diminuição da sensorialidade da pele envelhecida tem implicações psicológicas, afetando a sensação de bem-estar ao aplicar um produto, por exemplo, durante um abraço. Além disso, a deterioração da sensorialidade pode impactar diretamente a qualidade de vida, expondo os idosos a riscos adicionais relacionados à diminuição na percepção de mudanças de temperatura ou texturas.
Sabe-se que rugosidade-suavidade, dureza-maciez, pegajosidade-escorregadio e quente-frio são dimensões perceptivas predominantes na percepção de macro, micro e nanotextura. No entanto, não está claro até que ponto a discriminação de textura tátil ativa permanece intacta com a idade. A diminuição geral da capacidade tátil induz disfunção física e emocional em idosos e tem uma importância crescente para o envelhecimento da população.
Que linhas de pesquisa deverão ser desenvolvidas para desenvolvimento de produtos que estimulem a sensorialidade da pele envelhecida?
Outro estudo publicado por pesquisadores da L´Oréal na França em 2018 (Nature) utilizou um método baseado na exploração de superfícies microtexturizadas para quantificar a acuidade tátil. O estudo revelou que participantes idosos apresentam capacidade de discriminação de textura fina significativamente reduzida. O grupo de idosos também apresentou coeficiente de atrito dos dedos, umidade e elasticidade estatisticamente menores, sugerindo uma ligação. No entanto, uma subpopulação de idosos foi capaz de manter a capacidade de discriminação independente da condição cutânea e isso pode estar relacionado a uma maior densidade de receptores neuronais nas pontas dos dedos. A tribologia da pele não é, portanto, a principal razão para o declínio da discriminação tátil com a idade. A remediação das propriedades cutâneas através da reidratação, no entanto, leva a uma acuidade tátil significativamente melhorada e indica que a perda tátil neurológica pode ser compensada temporariamente pela restauração da mecânica de contato cutâneo. Essa restauração mecânica da habilidade tátil tem o potencial de aumentar a qualidade de vida em idosos.
Em quais outras pesquisas a pele humana reconstruída vem sendo utilizada?
Já existem métodos alternativos, sem uso de animais, para a maioria dos parâmetros necessários para o desenvolvimento de novas moléculas e produtos cosméticos. Além dos modelos de epiderme humana reconstruída, existem modelos de pele que possuem fibroblastos formando a derme e com melanócitos, capazes de responder à radiação UV e induzir a pigmentação da pele em laboratório. Modelos de pele humana reconstruída produzidos pela Episkin têm sido amplamente utilizados em pesquisas relacionadas com envelhecimento cutâneo, proteção solar e pigmentação, e até em modelos de doenças como melanoma e psoríase, além de doenças infecciosas.
Esses métodos in vitro aceleram pesquisas para descoberta de novas moléculas, formulações e novos alvos terapêuticos, complementando um amplo conjunto de ferramentas de avaliação para avaliação de eficácia e segurança.
Para quais produtos os testes com a pele humana vêm sendo aplicados? Você poderia dar exemplos?
Estes tecidos são ferramentas validadas para serem usados como métodos alternativos para teste de segurança e eficácia de produtos e ingredientes cosméticos, materiais escolares, químicos, saneantes e dispositivos médicos.
Qual o potencial de utilização da pele humana reconstruída para o desenvolvimento de novos produtos cosméticos?
Existem diversas aplicações para modelos de pele humana reconstruída como, por exemplo, para o estudo do microbioma, com o cultivo de diversos microorganismos que colonizam a pele, como o P. acnes, S. epidermidis e M. restricta, por exemplo, que é o fungo causador da caspa. Também mostrou potencial de aplicação em estudos de produtos hidratantes, saneantes contra vírus como o Covid-19, além da avaliação da formação de filme de produtos para proteção solar, permeação cutânea, impactos da poluição sobre a qualidade da pele, fotoenvelhecimento, inflamação, dermatite atópica, potencial alergênico, etc.
Como a Episkin está posicionada no mercado?
Há mais de 30 anos no mercado, a EPISKIN produz em escala industrial tecidos humanos como a pele e a córnea, seguindo um rigoroso controle de qualidade de acordo com normas ISO e OECD, desde 2019 disponibilizando essa tecnologia no Brasil e LATAM, além de dar treinamento e suporte para implementação desses métodos alternativos em laboratórios interessados em parar de testar em animais. Estes modelos de tecidos reconstruídos são produzidos em Lyon (França), Xangai (China) e no Brasil, no Centro de Pesquisa e Inovação da L’Oréal, no Rio de Janeiro, e disponibilizados às partes interessadas nas indústrias de cosméticos, farmacêuticas e químicas, em todo o mundo, juntamente com as universidades.