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Natura e Itaú lançam plataforma para compensação de créditos de CO2

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 “O fio condutor do projeto surgiu quando nós recebemos propostas para compensar três milhões em créditos de carbono e só precisávamos de um milhão. Aí ficamos pensando que se outras empresas tivessem acesso a esses parceiros para neutralizar sua emissão, seria incrível”, diz Andrea Alvares, vice-presidente de Marketing, Inovação e Sustentabilidade da Natura.

A empresa, que se orgulha de ter sido a primeira companhia de capital aberto a se tornar carbono zero, está lançando uma plataforma conjunta com o Itaú Unibanco para compensar as emissões de gases de efeito estufa. É quase uma “uberização” do carbono zero, juntando de um lado as empresas que querem comprar créditos e, do outro, os projetos certificados que podem permitir essa compensação.

O edital público Compromisso com o Clima é praticamente a versão das empresas brasileiras de um Acordo de Paris, sem os desmandos de Donald Trump. Até o dia 24 de outubro, as empresas podem se inscrever gratuitamente para adquirir toneladas de CO2 para compensar suas emissões. O regulamento e a inscrição estão disponíveis na plataforma Ekos Social. Até o lançamento, a plataforma já tinha 50 inscritos e a estimativa era a aquisição de 500 mil toneladas.

No evento de lançamento da plataforma em São Paulo, o presidente norte-americano foi citado algumas vezes como a visão contrária à jornada natural do homem daqui para frente. “Não existe um caminho alternativo. Só existe o caminho acordado em Paris”, afirmou o climatologista Carlos Nobre, um dos convidados do evento. Trump ignora a questão das mudanças climáticas, ao contrário de seu antecessor, Barack Obama. “O que pode nos comprometer é a nossa incapacidade de imaginar um caminho diferente para o futuro. O maior bem do século 21 é o conhecimento e o maior volume de conhecimento está na biodiversidade tropical”.

A defesa do compromisso por um futuro mais verde já havia sido feita por João Paulo Ferreira, presidente da Natura. Ao lembrar a ECO 92 como momento de disseminação de consciência e discussão dos princípios de convívio, ele reforçou que o consumidor demanda que os agentes sociais se comportem dessa maneira. E aproveitou para citar uma frase de Fabio Barbosa, do conselho de administração da Natura, sobre a importância da responsabilidade da empresa. “Seremos julgados pelas ações que tomamos hoje, mas com as leis e morais do futuro”.

Tanto a Natura quanto o Itaú já contavam com processos enraizados de emissão zero. O banco, inclusive, dá um peso a esse aspecto do negócio em suas negociações de crédito. Mesmo durante o auge da crise econômica, os green bonds registraram crescimento no país. “Cada vez mais a adoção de práticas que consideram o ambiente e integram eficiência se tornam um padrão de escolha para o investidor”, afirmou Denise Hills, superintendente de Sustentabilidade e Negócios Inclusivos do Itaú. A diferença é que, ao unir forças com a Natura, as demais empresas ganham um acesso mais simplificado, com fornecedores auditados. “As empresas vão ter que olhar para o seu negocio e promover essa transformação. Até lá, podem usar a compensação e, com isso, aumentamos a escala”, disse.

Se para os investidores o cenário já é de mudança, ainda há um caminho a percorrer quando se olha para o papel individual de cada cidadão. Ao defender a necessidade de uma conscientização e de ação por parte das instituições e das pessoas, Carlos Nobre lembrou que foram os pesquisadores de “sua geração” que apontaram o problema, mas há uma vontade clara de encontrar soluções. Nessa jornada, há negócios que devem sofrer um impacto direto, caso do agronegócio e do setor de óleo e gás. “Nós temos de deixar todo hidrocarboneto, todo petróleo enterrado, inclusive o nosso pré-sal, que tanto orgulho deu aos brasileiros e que tanto nos traria desgosto. É inevitável”.

De acordo com Nobre, 45% das emissões de gases de efeito estufa são provenientes da pecuária e da cadeia do agronegócio, que inclui o desmatamento de áreas para pasto. Ele entende que no mundo todo, é preciso diminuir muito o consumo de carne. “O Brasil é o país que poderia ter em 2050 uma matriz energética totalmente renovável”, diz.

Fonte: Época Negócios

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