Natura eleva receita em 24% com ajuste em sistema de venda
A mudança no sistema de vendas diretas levou a Natura ao maior crescimento na receita líquida consolidada dos últimos 14 trimestres, de 24,3%, totalizando R$ 2,36 bilhões de julho a setembro deste ano. O desempenho das marcas Aesop e The Body Shop também ajudaram. Apesar disso, João Paulo Ferreira, presidente da fabricante de cosméticos, acredita que o cenário econômico ainda inspira cautela para o consumo.
“Notamos uma ligeira melhora [no cenário econômico], mas não conseguimos atestar nenhuma mudança estrutural”, afirmou o executivo. Ele destacou, no entanto, que companhia verificou uma retomada importante no terceiro trimestre, com recuperação da participação de mercado, melhoria da lucratividade e geração de caixa.
Parte do crescimento na receita na marca Natura foi decorrente das ações adotadas para estimular as vendas de produtos para o corpo, perfumaria e no canal on-line. Além disso, foi feita uma reversão de uma provisão sobre despesas com Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), no valor de R$ 66,3 milhões, que correspondeu a 5,2% do crescimento na receita líquida no terceiro trimestre, em relação a igual período do ano passado. O lucro líquido, por sua vez, caiu 16,6%, para R$ 61 milhões no período. A última linha do balanço foi impactada por despesas com aquisições e provisões.
A produtividade medida pelas vendas por consultora aumentou 15,4% no terceiro trimestre, ante queda de 2% em igual período do ano anterior, reflexo das alterações no sistema de vendas, feitas em maio deste ano. O novo modelo tem o objetivo de fidelizar os revendedores oferecendo margens de lucro maiores, conforme o volume de vendas. Os consultores são classificados em cinco estágios, com margens de variam de 20% a 35%. O formato ainda será implantado na América Latina, começando pelo Chile.
As operações na América Latina cresceram 11,5% e a empresa manteve a liderança em vendas diretas no Chile e na Argentina, além de ter avançado nos mercados colombiano e mexicano.
A geração interna de caixa entre julho e setembro foi de R$ 259,2 milhões, crescimento de 60,5% em relação ao mesmo período de 2016. Já o caixa livre consolidado no período foi de R$ 79,1 milhões ante R$ 138,3 milhões verificados há um ano. Houve impacto de R$ 63,4 milhões da compra da britânica The Body Shop, cuja aquisição foi finalizada em setembro.
A alavancagem da empresa medida pela relação entre a dívida líquida e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ficou em 3,52 vezes no fim de setembro, abaixo da projeção para o ano de 3,6 vezes, feita após a compra da Body Shop. O endividamento líquido ficou em R$ 5,55 bilhões, avanço de 2,9 vezes na variação anual.
Segundo Ferreira, a Natura quer acelerar o processo de desalavancagem financeira após a compra da Body Shop o mais rápido possível, mas ainda é cedo para rever essa meta.
Com a nova operação, o presidente disse que existe oportunidade para a Natura crescer mundialmente e ganhar posição no setor de cosméticos. Atualmente, a fabricante é a décima maior empresa da área e está presente em 69 países. “Esperamos ganhar mais espaço nos próximos anos”, afirmou o executivo sem revelar a ambição nesse ranking.
Sobre os planos de expandir as operações para a China, Ferreira afirmou que a companhia continua a monitorar a política de testes de cosméticos em animais, algo que é contrário à filosofia da marca. Por isso, entrar no mercado chinês está fora dos planos neste momento. Ele disse que a Body Shop está em campanha arrecadando assinaturas para pleitear na Organização das Nações Unidas (ONU) o banimento desse protocolo.
Fonte: Valor