O que a Natura ganha se decidir comprar a Avon
Uma possível aquisição da Avon aumentaria a participação da Natura no mercado brasileiro de higiene pessoal e beleza no país para pouco mais de 17%. A estimativa considera os dados mais recentes divulgados pela empresa de pesquisas Euromonitor, referentes a 2017, quando a Natura respondia por 11,7% das vendas do setor no país e a Avon, por 5,6%.
Naquele ano, a Natura recuperou o primeiro lugar no mercado de cosméticos e cuidados pessoais, superando a Unilever (11,1%), que ocupou a posição por três anos seguidos. O Grupo Boticário — sem considerar a aquisição da Vult Cosmética, ocorrida em março de 2018 — estava na terceira posição em 2017, com 10,8% das vendas totais do setor, que somaram R$ 106,3 bilhões. A Avon ocupava a sexta posição.
Entre as dez maiores empresas de produtos de beleza no país estão também a L’Oréal, com participação de mercado de 7,3% em 2017, Colgate-Palmolive (6,6%), Procter & Gamble (5%), Johnson & Johnson (4,1%), Coty (3,9%) e Beiersdorf, dona da Nivea, com 3,1%.
Como o setor é bastante fragmentado, especialistas ouvidos pelo Valor consideram que a eventual aquisição da Avon pela Natura não seria barrada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), se este considerar todo o mercado brasileiro de higiene e beleza.
Na avaliação de um advogado especializado em questões concorrenciais que preferiu não ter seu nome revelado, a análise da operação pode ser mais complexa e demorada se o órgão antitruste considerar o mercado de vendas diretas — principal canal de distribuição de Natura e Avon no Brasil. A autarquia, segundo ele, tem pouco histórico nesse setor. E, por essa ótica, a participação de mercado das duas companhias aumenta significativamente.
A questão principal, para uma analista de mercado que também não quis se identificar, não estaria em eventuais barreiras impostas pelo Cade, mas nas condições da Natura para arcar com outra aquisição de porte, após ter adquirido a The Body Shop por 1 bilhão de euros em junho de 2017.
Segundo esta analista, o endividamento da companhia brasileira, medido pela relação dívida líquida sobre Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), ainda é alto. O indicador encerrou o ano em 2,71 vezes, com ligeiro recuo de 0,3 ponto percentual ante 2017.
Segundo a fonte, que vê pouca complementariedade no negócio, se as partes chegarem a um acordo, a Natura precisaria desembolsar pela Avon menos da metade do que pagou pela The Body Shop.
Fonte: Valor Econômico 22.03.2019