Em estudo publicado na revista Antioxidants & Redox Signaling, pesquisadores apresentaram dois novos componentes com mecanismo de ação inovador contra o fotoenvelhecimento, atuando no interior das células da pele para combater os danos solares causadores dos sinais da idade e do câncer de pele
É de conhecimento geral que a exposição desprotegida à radiação solar pode causar sérios danos à pele, acelerando o processo de envelhecimento e o surgimento de sinais da idade, além de ser um fator de risco para o aparecimento de câncer de pele. E a radiação UVA é especialmente preocupante. “A radiação UVA pode penetrar na pele mesmo em ambientes fechados, já que atravessa janelas, ativando enzimas que corroem as fibras de colágeno responsáveis por sustentar a pele, resultando no surgimento de rugas e flacidez, além de também danificar o DNA celular, causando mutações que contribuem para o surgimento de câncer de pele”, explica a Dra. Roberta Padovan, médica pós-graduada em Dermatologia e Medicina Estética. “É claro que é possível prevenir tais danos através da utilização diária de um protetor solar, que permanece na superfície da pele absorvendo a radiação ultravioleta e impedindo que penetre no tecido cutâneo. A questão é que esses produtos agem apenas de maneira preventiva, não sendo capazes de atuar no combate aos danos cumulativos já causados pela exposição solar desprotegida”, afirma a médica. Mas a boa notícia é que uma equipe inglesa de pesquisa da Universidade de Exeter, em estudo publicado em julho na revista cientifica Antioxidants & Redox Signaling, desenvolveu dois compostos (AP39 e AP123) capazes de proteger as camadas mais profundas da pele contra a radiação ultravioleta de maneira inovadora, revertendo e retardando os danos solares que favorecem o envelhecimento cutâneo e o aparecimento de câncer.
Nos experimentos realizados durante o estudo, que foram feitos através da exposição da pele de ratos e de células da pele de humanos à radiação UVA, as moléculas desenvolvidas pela equipe de pesquisa mostraram proteger a pele de forma diferente dos filtros solares tradicionais, penetrando no tecido cutâneo para atuar sobre as mitocôndrias, que geram energia celular, e fornecer um combustível alternativo para as células da pele usarem quando estressadas pela radiação UVA. Como resultado, foi possível observar a ativação de dois mecanismos protetores: a proteína PGC-1 α, que regula a energia celular, e o Nrf2, um conjunto de genes que atenua o dano UVA à pele e desliga a produção de enzimas que causam danos ao tecido cutâneo e aceleram seu envelhecimento. “Certos fotoprotetores e cosméticos contêm ingredientes que protegem as mitocôndrias da radiação ultravioleta. Mas não está claro se estas substâncias são realmente capazes de penetrar nas células da pele. Em contrapartida, esse novo estudo apresenta moléculas que realmente penetram nas células para atuar especificamente sobre as mitocôndrias. E, através da proteção desses componentes celulares, ainda é possível preservar e regular mecanismos responsáveis por controlar a inflamação, proteger as células e prevenir a destruição dos tecidos”, destaca a especialista
Apesar de mais pesquisas sobre esses novos componentes ainda serem necessárias antes de seu uso ser amplamente empregado, os resultados do estudo são promissores. “Esse trabalho apresenta importantes implicações a longo prazo para a área médica e cosmética, já que esses novos componentes podem ajudar não apenas a retardar e reverter o processo de envelhecimento e o surgimento dos sinais da idade, mas também podem contribuir na prevenção e redução de condições importantes relacionadas à exposição UVA, como o câncer de pele e as alergias solares”, diz a Dra. Roberta. Atualmente, o time da Universidade de Exeter está trabalhando no teste de moléculas e componentes mais novos e potentes capazes de realizar essa mesma tarefa utilizando abordagens diferentes.
Estratégias contra o fotoenvelhecimento – Até que mais estudos sejam realizados sobre esses novos componentes, o recomendado é apostar nas medidas já consagradas contra o fotodano causador do envelhecimento da pele, principalmente caso você tenha predisposição a sofrer mais com a ação da radiação ultravioleta. “Apesar do sol ser responsável por cerca de 80 a 90% do envelhecimento da pele de qualquer pessoa, alguns indivíduos apresentam ainda maior suscetibilidade ao fotoenvelhecimento, como aqueles que apresentam uma variante do gene MMP1, que promove uma degradação do colágeno oito vezes maior que o normal após a exposição solar”, destaca o geneticista Dr. Marcelo Sady, Pós-Doutor em Genética e diretor geral da Multigene, empresa especializada em análise genética e exames de genotipagem. Esse tipo de traço genético pode ser descoberto através da realização de exames de genotipagem, que, além de apontarem a predisposição ao fotoenvelhecimento, ainda podem ajudar o dermatologista na prescrição de uma abordagem extremamente personalizada e, consequentemente, mais eficaz para o combate aos danos solares.
Mas mesmo quem não possui predisposição genética ao fotoenvelhecimento também deve investir em cuidados contra os danos solares, principalmente na fotoproteção. “O uso diário de protetor solar é a única maneira de garantir que a pele esteja realmente protegida dos efeitos nocivos dos raios solares, que estão cada vez mais fortes. Mas é importante que o produto possua, no mínimo, FPS 30 e amplo espectro de proteção solar, para combater a radiação UVA e UVB, além de dever ser reaplicado a cada duas horas”, aconselha a Dra. Roberta. Invista também em um produto com proteção contra a luz azul do sol e dos dispositivos eletrônicos. “A luz azul também penetra em nossa pele e aumenta a produção de radicais livres, o que favorece o surgimento e o escurecimento das manchas e a acelera o envelhecimento”, completa.
Além da fotoproteção, é importante investir também em cosméticos ricos em ingredientes antioxidantes que vão complementar a ação do nosso sistema antioxidante endógeno, principal linha de defesa contra os danos celulares causados pela radiação solar. “O sistema antioxidante é responsável por combater os radicais livres, moléculas altamente reativas que, na pele, podem provocar danos celulares, favorecendo o envelhecimento precoce, com aparecimento de rugas, flacidez de pele, manchas e perda de luminosidade, além do câncer de pele. Mas, por conta de um processo metabólico, produzimos mais radicais livres quando expostos a radiação solar, a poluição e hábitos ruins, o que faz com que o organismo não dê conta do recado. Por isso, é fundamental investir nos cosméticos formulados com antioxidantes”, explica a especialista. Opções interessantes de substâncias antioxidantes incluem, por exemplo, a Vitamina E e, principalmente, a Vitamina C. “A Vitamina C é um poderoso antioxidante que confere ação reparadora, já que protege a pele contra os estragos da oxidação causada pelos radicais livres, ameniza rugas e linhas de expressão, visto que é um dos fatores essenciais na síntese de colágeno, e ainda é capaz de uniformizar o tom de pele, clareando e prevenindo manchas”, recomenda a Dra. Roberta Padovan. Mas, por fim, é importante ressaltar que, antes de utilizar qualquer produto, o ideal é consultar um dermatologista para receber as recomendações adequadas.
FONTES:
*DRA. ROBERTA PADOVAN: Médica Pós-graduada em Dermatologia. Graduada em Medicina pela Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE) e especialista em Medicina Estética e Dermatologia pela INCISA. Com participação regular em congressos, jornadas e cursos nacionais e internacionais, a médica é proprietária de duas clínicas, no no Maranhão e em São Paulo, com diversos tratamentos para saúde e beleza da pele. Além disso, atuou como médica residente no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.
*DR. MARCELO SADY – Pós-doutor em genética com foco em genética toxicológica e humana pela UNESP- Botucatu, o Dr. Marcelo Sady possui mais de 20 anos de experiência na área. Speaker, diretor Geral e Consultor Científico da Multigene, empresa especializada em análise genética e exames de genotipagem, o especialista é professor, orientador e palestrante. Autor de diversos artigos e trabalhos científicos publicados em periódicos especializados, o Dr. Marcelo Sady fez parte do Grupo de Pesquisa Toxigenômica e Nutrigenômica da FMB – Botucatu, além de coordenar e ministrar 19 cursos da Multigene nas áreas de genética toxicológica, genômica, biologia molecular, farmacogenômica e nutrigenômica.