Pesquisadores utilizam pigmentos do vinho em cosméticos para a pele
Pesquisadores estão utilizando as propriedades bioativas dos pigmentos que conferem a cor vermelha ao vinho do Porto e aos frutos vermelhos, denominados antocianinas, em cosméticos para a prevenção e cuidados da pele.
As antocianinas, que são consideradas bons antioxidantes, estão associadas à prevenção de doenças e ao combate ao envelhecimento precoce, explica Nuno Mateus, pesquisador do Laboratório Associado REQUIMTE, sediado no Departamento de Química e Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), em Portugal.
Segundo o pesquisador, estas atuam na captação de radicais livres, em propriedades antimicrobianas e em atividades de cicatrização e quimio-preventivas, no entanto, a sua estabilidade é “muito afetada por fatores como o pH, a luz e a temperatura”.
Devido a isso, os pesquisadores vão utilizar alguns dos seus derivados, que sejam mais estáveis mas que mantenham a bioatividade e exibam cores atrativas (como o laranja e o azul), para incorporar os produtos de prevenção e cuidados de pele.
Para testar os compostos desenvolvidos, a equipe utilizou um sistema elétrico não-invasivo que permite quantificar a adesão celular, a proliferação, a mobilidade e a resposta celular a um estímulo externo, denominado ECIS (Electric Cell-substrate Impedance Sensing).
Este método possibilita igualmente induzir danos (como por exemplo uma ferida em um modelo de pele), registrar o processo de cicatrização e monitorizar de forma contínua as mono-camadas de células, que desempenham um papel essencial na regulação do movimento livre de moléculas entre os diferentes tecidos.
“Em várias doenças, assim como nos estados inflamatórios, estas barreiras ficam comprometidas, e desta forma, a monitorização da permeabilidade de células tratadas com compostos naturais é de elevado interesse”, disse o pesquisador.
De acordo com Nuno Mateus, a utilização de métodos que utilizem modelos de pele ou epiderme humana reconstruídos surge como uma alternativa para o uso de modelos animais. “Estes são modelos biológicos reprodutivos, acessíveis e similares ao local de aplicação final (pele), permitindo avaliar as matérias-primas e as formulações finais”, explicou.
Alguns dos próximos passos do projeto, que está no segundo ano, passam por estudos de proteção do envelhecimento celular da pele na presença dos derivados de antocianinas e os danos UV, o seu efeito no crescimento do microbiota da pele e a otimização das formulações finais e estudos da estabilidade à luz, temperatura e umidade.
Financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), envolve professores, pesquisadores, bolsistas de pós-doutorado e alunos de doutorado. O grupo de investigação do qual Nuno Mateus faz parte tem-se dedicado durante os últimos 20 anos à recuperação de antocianinas de agro resíduos e ao estudo da química de diferentes classes de compostos presentes em matrizes alimentares, mais concretamente no vinho tinto.
Fonte: Publico.Pt