Artur Grynbaum acredita em retomada do consumo após eleições
Mesmo em um ano de incertezas econômicas e políticas , o grupo Boticário comprou a concorrente Vult, voltada para o público de classe C e D, reverteu lojas franqueadas em próprias e ainda planeja a expansão de lojas de todos os seus negócios – que incluem Eudora, Quem disse, berenice?, The Beauty Box e Multi B.
O presidente da empresa, Artur Grynbaum, diz que mantém os pés no chão, porque os dados recentes indicam que a retomada será mais lenta do que o previsto, mas não abdica da empolgação.
“Tenho uma convicção grande de que todo varejista tem de ser otimista”, afirmou o empresário.
A perspectiva é que o crescimento da economia em fevereiro vem abaixo do esperado. Qual a expectativa para 2018?
Fevereiro nos trouxe um pouco de pé no chão. Hoje eu acredito que o mercado pode até avançar, mas a retomada vai mesmo ficar para o segundo trimestre, para depois das eleições. Continuo achando que 2018 será melhor, mas que [a retomada] será mais picada do que achavam no começo.
A rede já começou a contratar funcionários temporários dentro da nova lei trabalhista?
Estamos experimentando [a contratação de temporários] por meio de nossas lojas próprias para, depois de testado o modelo, expandir para os nossos franqueados. A questão é que você contrata mais desses profissionais quando você tem um movimento mais forte [do comércio]. Então precisamos entender o ritmo do varejo primeiro. Dessa forma, vamos poder dimensionar novas vagas adequadas com a estrutura que temos em nossas lojas para atender melhor o consumidor.
Nos últimos anos, o Boticário tem apostado em propagandas de diversidade, motivo pelo qual a marca sofreu ataques de homofobia. Qual a vantagem, então, de investir nessa abordagem?
Não é uma questão de investir na abordagem de diversidade. A diversidade é o que é. As marcas têm um papel importante de trazer essa realidade do mundo [para a publicidade] de uma forma carinhosa. É o que nós fazemos com nossas campanhas: aproximar a sociedade da realidade.
Você já tinha visto antes [do Boticário] alguma marca falar de Natal com pais separados, pais adotivos?
Não. Mas nos deparamos o tempo inteiro com histórias assim no nosso dia a dia. Diversidade não é a nossa bandeira. É um valor que temos dentro do grupo com todo o respeito que nós temos pela sociedade.
Quais os planos da companhia com a recente compra da Vult Cosmética?
Não podemos comentar muito porque a compra espera aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Mas a marca apresentou um crescimento robusto nos últimos anos. Criada por dois empreendedores, ela atende o público das classes C e D, com quem não tínhamos tanto contato. De um lado, ajudaremos a Vult a se expandir e, de outro lado, o grupo poderá aprender a operar com novos canais de distribuição, catálogos e a atender esse tipo de consumidor.
Está prevista a abertura de 70 lojas neste ano. Já determinaram o segmento?
As inaugurações estão previstas para todos os nossos negócios. Vamos entrar em novos shoppings e em cidades onde ainda não estávamos presentes. Das 4.000 lojas, 90% são franquias.
Por que optaram por recomprar algumas unidades no ano passado?
Foi um movimento pontual, um olhar mais estratégico em algumas praças, seja para trabalhar melhor a marca, seja porque o franqueado queria se desfazer do negócio, mas não tinha para quem passar a franquia.
Quanto essa conversão representou do total de lojas?
Não chega a 4%. O modelo de franquia nasceu conosco e acreditamos nele. Mas com lojas próprias podemos aprender e enxergar tendências para ajudar os franqueados.
Que ajustes tiveram de ser feitos na empresa durante a recessão?
Em 2015 fizemos uma reformulação no grupo e mexemos no organograma para ter uma agilidade maior nas decisões. Assim, pudemos dar respostas mais rápidas para atender a mudança de hábito dos consumidores.
O que foi destaque de vendas no período?
Quando o bolso aperta, o consumidor acaba escolhendo produtos que conhece e confiança. Não se dá ao luxo de testar outros. Preservamos a cesta de produtos de sempre e, no caso dos novos, reduzimos os preços.
Como manter o ritmo de crescimento em um cenário econômico tão incerto?
Não tem outro jeito, apenas trabalhando. Tenho uma convicção grande: todo varejista tem de ser otimista. Não importa o cenário.
Fonte: Folha de S. Paulo