O que é ‘essence’ e porque está ganhado impulso no mercado norte-americano?
Produto que integra rotina de beleza das mulheres orientais ganha impulso no mercado norte-americano
Ela tem sido chamada de “água milagrosa”, mas uma essence – o produto de beleza que é considerado um passo vital nas rotinas de cuidados com a pele por coreanas e japonesas – não é água.
Também não é um tonificante, sérum ou hidratante. Um amálgama de todos os itens acima, esta combinação provocou elogios e ceticismo desde que entrou no mercado de beleza dos EUA a partir da Ásia, cerca de sete anos atrás.
Victoria Tsai, a fundadora taiwanesa-americana da Tatcha, uma marca japonesa de produtos para a pele, era uma dessas pessoas céticas, recusando-se a acrescentar uma essence quando a marca foi introduzida em 2009.
“Nossos cientistas queriam fazer uma essence, mas eu não conseguia entender como isso melhoraria os benefícios de nossos cuidados com a pele”, disse Tsai. “Sou uma mãe, tenho um orçamento. Qualquer coisa que dê um passo extra ou que custe dinheiro a mais não me parece atraente”, diz.
Mas ao longo de sete anos, os cientistas da Tatcha formularam uma essence em segredo, testando mais de 200 cepas de leveduras e aperfeiçoando o processo de fermentação dos componentes Hadasei-3, uma mistura de algas de Okinawa, arroz Akita e chá verde Uji, para produzir um potente preparado de aminoácidos.
“Parecia água, mas era transformadora”, disse Tsai. “Minha pele ficou super macia e tenra, e quando vimos nossos resultados clínicos – como ela instantaneamente aumentou a hidratação da pele – isso confirmou minha experiência”.
Como funciona
Uma essence é aplicada no rosto limpo, preparando a pele para absorver efetivamente produtos subsequentes, como sérum e hidratante. Ni’Kita Wilson, química de cosméticos que é vice-presidente de vendas e inovação da Aware Products, compara o papel da essence à preparação do solo do jardim, antes de regá-lo.
“Se você regar o solo afofado, ela pode fluir para o fundo, mas se ele estiver firme e compacto, o que você colocar por cima vai ficar lá mesmo”, disse ela. “Não conseguimos perceber que, para que os ingredientes fluam facilmente através das camadas da pele, você precisa de hidratação e de que a sua pele esteja preparada.”
Tsai recomenda aplicar o correspondente ao que cabe na palma da mão e pressionar levemente direto na pele. “Minha pele aos 40 anos parece melhor do que quando eu tinha 20 anos”, diz ela. “Se pudesse tomar banho na essence, eu o faria.”
Como as essences foram concebidas
É difícil identificar seu primeiro uso ou sua origem, mas a documentação no Japão pode vir do Miyakofuzoku Kewaiden, um guia centenário, de 1813, sobre rituais de beleza de gueixas. “Há referências a águas de beleza, que eram feitas de extratos de plantas obtidos por alquimia ou a partir de um sistema de cocção de chá”, fala Tsai.
Em 1897, a Shiseido se tornou a primeira marca japonesa a trazer uma essence para o mercado com a Eudermine, ou Shiseido’s Red Water, e levou à onipresença de essences de marca em toda a Ásia. “Minha mãe a usou quando eu era pequena, e minha avó a usou quando minha mãe era pequena”, conta Nicole Takahashi, fundadora do blog de beleza japonês Beau Tea Time, em Tóquio. “Faz parte do nosso ritual de cuidados com a pele há muito tempo. Não existe uma marca japonesa de produtos para a pele que não tenha uma essence.”
As essences no Japão, ao que parece, são chamadas de loções, enquanto os séruns são referidos como essences – terminologia que contribuiu para a confusão sobre o que é exatamente uma essence nos Estados Unidos.
Por que elas são novas nos Estados Unidos
Embora elas sejam tão profundamente enraizadas em regimes de beleza asiáticos, as essences têm sido lentamente adotadas nos EUA, o que tem muito a ver com a rotina típica de limpeza americana: direto a água e sabonete, em vez de um limpador oleoso para dissolver maquiagem.
“Tonificantes com bastante álcool foram inventados para remover os últimos vestígios de maquiagem que seu sabonete deixou para trás”, disse Tsai. “Por causa do álcool, você sente o efeito refrescante, a sensação de enrijecimento e então aplica um rico hidratante com muito óleo e cera. Como isso funciona como o passo final, se você não hidratar a pele primeiro, não há muito para se selar”.
Some-se a isso um certo grau de masoquismo na beleza americana – se não estiver queimando ou ardendo, não está funcionando. Não é difícil ver por que um fluido aquoso, por mais benéfico que seja, possa parecer supérfluo. “Na Ásia, você jamais remove a pele”, disse Tsai. “Você a nutre com micronutrientes e a sela com um hidratante leve – o que é muito mais próximo de seu equilíbrio natural.”
“Nos Estados Unidos”, ela acrescenta, “as mulheres gostam de ver sua pele ligeiramente ferida porque parece que elas agiram. É uma abordagem bastante agressiva”.
Mas o boom da beleza K (coreana), e o aumento do interesse pela beleza J (japonesa) vem mudando esse pensamento, estimulando uma demanda das marcas globais por essences.
A Estée Lauder lançou sua Loção de Tratamento Ativador de Pele Micro Essence em 2014, La Prairie lançou sua Skin Caviar Essence-in-Lotion em 2016, e a marca coreana Missha reformulou seu best-seller First Treatment Essence Intensive para incluir ingredientes hidratantes, como a cevada roxa do Himalaia, em 2017.
A Fresh, uma marca de beleza natural, apresentou este ano a sua essence de tratamento facial Black Tea Kombucha.
Eles valem o que custam?
Leves em peso e de rápida absorção, as essences variam de textura (de consistência aquosa a viscosa) e objetivos, com algumas criadas para visar uma preocupação específica, como vitamina C para uniformizar o tom da pele, niacinamida e peptídeos para combater os sinais de envelhecimento ou os alfa-hidroxi ou beta-hidroxi-ácido (AHAs e BHAs) para remover células mortas da pele.
Os preços podem ser altos, por isso é melhor evitar o teor alcoólico e, para maior valor, procurar uma alta concentração de ingredientes ativos. Wilson acredita que vale a pena: “Você ganhará mais dinheiro se preparar a pele primeiro. Você verá mais benefícios com seus produtos se estiver usando uma essence.”
Joshua Zeichner, diretor de pesquisa clínica e cosmética do Hospital Mount Sinai, concorda que “a espinha dorsal de qualquer regime de cuidados com a pele é garantir que a barreira da pele esteja funcionando de forma ideal”.
“Usar a essence apropriada para o seu tipo de pele é uma maneira de hidratar a pele e prepará-la para o resto da sua rotina de cuidados com a pele”, afirma.
Os convertidos de beleza acreditam nisso. Tsai diz que a essence Tatcha se esgotou constantemente desde a sua introdução em 2017. Kazumi Toyama, gerente sênior global de comunicações científicas da SK-II, disse que mais de 20 milhões de garrafas da Essence Facial Treatment foram vendidas desde seu lançamento em 1980.
“Para mim”, fala Tsai, “é a melhor coisa a se fazer para mudar o jogo e o mais gentil que você pode fazer pela sua pele”. // Tradução de Claudia Bozzo
Fonte: Estadão