Curso empodera mulheres negras através da maquiagem
A brasileira Daniele da Mata criou uma escola itinerante de make para peles negras. A DaMata Make Up tem feito palestras e workshops há dois anos por diversos cantos do Brasil, mostrando que maquiagem deveria estar disponível para quem quiser usar, sem exceção, com o Projeto Negras do Brasil.
Com 26 anos, ela confessa que não pensava em usar maquiagem até os 20. Antes disso, o que a aproximou do tema foi um estágio que fez aos 15 em uma fábrica que criava produtos de beleza terceirizados, em São José dos Campos, onde morava.
“Encontrei um químico da fábrica que era negro e ele me ‘adotou’, me ensinou sobre maquiagem. Foi assim que eu percebi a carência nesse meio”, Daniela conta em entrevista à ELLE.
Na fábrica, o amigo fazia questão de criar os produtos em todos os tons possíveis, mesmo que as marcas acabassem comprando muito mais as cores claras do que as escuras. “Nessa mesma época, eu comecei a ter contato com grupos feministas e a ter uma percepção diferente de mundo, foi quando eu finalmente entendi o que significava ser negra”.
Aos 19 anos, a menina foi para São Paulo estudar Direito. Até então, seu sonho era trabalhar na área, mais especificamente nos direitos das mulheres. Porém, para juntar dinheiro e pagar o curso, ela precisaria ter outra ocupação.
“Maquiagem era a única coisa que eu entendia, pelos anos de estágio em São José. Por isso, fiz cursos e me tornei maquiadora profissional”. E, como não poderia deixar de ser, sua primeira cliente foi uma adolescente negra. “Eu não tinha a base no tom dela, mas, como já tinha a referência na fábrica, consegui misturar pigmentos para desenvolver o tom da pele igual ao da cliente”, ela conta.
A princípio, o seu curso era apenas de automaquiagem. Daniele gostava muito mais de ensinar o processo do que fazer a maquiagem em si, por isso acreditou que seria uma boa ideia dar aulas. “Mas, sempre que tinha uma menina negra na sala, a aula acabava girando em torno dela. Conversar sobre beleza com uma mulher negra e com uma mulher branca é completamente diferente”, explica.
Então, começou o processo de transformar as aulas para algo que vai além da beleza. “Foi uma maneira de aproximar a minha militância. As aulas são de maquiagem, mas ultrapassam outros assuntos que mulheres negras precisam conversar”.
Quando questionada sobre o motivo de, em 2016, ainda existirem pouquíssimos produtos de maquiagem para a sua cor de pele, ela não mede palavras: “É racismo puro. A indústria de cosméticos é completamente racista porque acredita que a mulher negra não compra. Mesmo com diversos dados econômicos, até mesmo após a ascensão da classe C, as marcas ainda têm dificuldade de entender a tonalidade da pele negra, e faltam pesquisas também”.
Fonte: Elle