A que custo marca de maquiagem vende produtos a US$ 1?
Imagine um sonho para as amantes do mundo da beleza: ele provavelmente incluiria uma marca cruelty free, que possui centenas de opções de produtos e, acima de tudo, preços baixos. Na verdade, não apenas baixos, mas muito baixos. Que tal tudo por apenas 1 dólar? É essa a premissa do Miss A, um e-commerce americano, baseado no Texas, que vende diversas marcas e que desde 2016 também possui a sua própria linha, com batons, paletas de sombras, pincéis e até pós translúcidos.
Como era de se imaginar, ela é um sucesso, principalmente entre o público mais jovem, mas a sua popularidade despertou indagações. Em tempos de debates intensos sobre sustentabilidade, transparência e ética na cadeia produtiva da moda, é de se questionar como esse preço pode ser praticável. No site, há uma aba em que, teoricamente, eles contam o segredo. A fórmula seria a importação diretamente da fábrica e o baixo investimento em publicidade, o que faria com que eles não precisassem aplicar uma margem de lucro muito alta. “Fábricas produzem para marcas como L’Oreal, Urban Decay e NYX. Elas gastam milhões em de dólares em anúncios de televisão, marketing, branding, etc. Para cobrir esses custos, eles precisam aumentar o preço dos produtos consideravelmente. As multimarcas compras dessas marcas e aumentam ainda mais, e nós não trabalhamos dessa forma”, explica a página.
Mas acreditamos que a conta não pode ser tão simples assim. Em uma entrevista recente ao Refinery 29, a fundadora explica que trabalha com 40 fábricas diferentes ao redor do mundo, incluindo na Indonésia, Coréia do Sul, Taiwan e China, cada uma especializada em produtos e fórmulas específicos. Ela aponta que o custo de produção nos Estados Unidos é muito mais alto que em qualquer outra parte do mundo, o que obviamente afeta o preço. Apesar da afirmação da empresária de que todos os funcionários das fábricas são pagos legalmente de acordo com as leis trabalhistas de cada país, ainda assim a marca não revela os seus fornecedores e também coloca em pauta exatamente como grandes empresas podem se beneficiar do fato da legislação de muitos países priorizá-las em detrimento da população, fazendo com que o equivalente ao que conhecemos como salário mínimo seja legalizado, mas ao mesmo tempo, muito inferior ao ideal. Essa situação é explicitada em documentários como o The True Cost e Riverblue.
Por fim, além das diversas questões sobre a cadeia produtiva, o fato de eles venderem na China e se afirmaram cruelty-free também é duvidoso, uma vez que é sabido que o país exige que as marcas de cosméticos façam esse tipo de teste a fim de entrar em seu mercado.
Sem aplicar a transparência, é difícil acompanhar qualquer uma das afirmações da marca, mas, principalmente, vale sempre se questionar a que custo esse tipo de conceito está sendo aplicado. Mesmo dentro das leis de um país, não significa, necessariamente, de que as ações não são exploratórias.