No Brasil, pensar em produtos com ingredientes antipoluição exige um olhar duplo, tanto ao mercado de produtos para pele quanto ao segmento capilar

Não é só na China que a poluição assusta, mas há algumas diferenças entre o que acontece por lá e no Brasil. Obviamente que a maioria das pessoas por aqui ainda não anda com máscaras protetoras no rosto, porém, mesmo assim, é preciso cuidar do corpo, entre outros aspectos da saúde. A pele e os cabelos certamente já sentem efeitos negativos, principalmente em cidades maiores, mais poluídas. Com isso, as pessoas devem buscar soluções que minimizem os problemas ou mesmo que os previna.

Um estudo da consultoria Mintel, divulgado em setembro deste ano, afirma que os consumidores, globalmente, estão preocupados com os efeitos da poluição na pele e nos cabelos, mas ainda assim o benefício antipoluição aparece apenas em 1% dos lançamentos no setor cosmético.

Paralelo a esse cenário, o número de ingredientes que combatem os efeitos da poluição cresce, segundo a consultoria, o que deverá modificar a situação. “É uma questão de tempo”, afirma Vivienne Rudd, analista global da empresa.

Ao mencionar benefícios antipoluição, a maioria dos fabricantes não revela exatamente quais são os ativos ou ingredientes responsáveis por essa missão, de acordo com a Mintel. A Clarins é uma das exceções, segundo a consultoria, que afirma que a empresa francesa é líder em lançamentos antipoluição e foi responsável por 13% dos lançamentos na Europa em 2015.

“A Clarins está agora em sua quarta geração de complexo antipoluição, composto por extrato de chá branco, Succory Dock-Cress (um tipo de planta/flor) e moringa.” Esta última, segundo a Mintel, exerceu papel protagonista em 2015, marcando presença em 6% dos lançamentos de produtos com benefícios antipoluição.

A Mintel afirma que as fornecedoras de matérias-primas estão trabalhando duro em novos ativos antipoluição. “No futuro, o número de produtos com esse benefício deverá crescer, dado o número de novos materiais lançados na in-cosmetics Paris 2016”, afirma Vivienne.

Benefício escondido – As funções antipoluição, contudo, aparecem muitas vezes subentendidas na comunicação dos produtos. Talvez esse seja o caso do Nuxellence Detox, da Nuxe, que, segundo a marca, é um poderoso sérum anti-idade noturno que revela a juventude da pele por meio da desintoxicação cutânea.

A tecnologia do item, segundo a assessoria de imprensa da marca, atua na eliminação de resíduos naturais, toxinas e metais pesados, bem como em todas as moléculas danificadas pelos radicais livres.

Já a Vichy acabou de lançar Idéalia Dayproof, um produto que promete combater os sinais da idade e do cansaço ao longo do dia. Porém, a embalagem do produto não destaca o benefício de combate à poluição. A marca de dermocosméticos pertence à divisão Cosmética Ativa da L’Oréal.

Um diferencial desta fórmula é o efeito refrescante. Segundo a empresa, há uma tecnologia de microesferas de captação de água, que inicialmente refrescam a pele, e, então, absorvem a umidade em até 100 vezes o peso. Além disso, ressalta a marca, é capaz de diminuir até 2ºC na temperatura da pele, proporcionando uma refrescância imediata.

Imunidade – A marca japonesa Shiseido, reconhecida mundialmente pela alta tecnologia nas linhas skincare, lançou no Brasil o que considera um dos mais inovadores produtos de tratamento para a pele: o Ultimune Power Infusing Concentrate (agora também com uma versão para a região dos olhos). O produto demandou duas décadas de pesquisa junto aos cientistas da marca, alocados na Universidade de Harvard durante este período.

Após estudarem tudo sobre o mecanismo natural de defesa da pele do rosto, foi descoberto que são as células de Langerhans as responsáveis pela imunidade da pele. Isso porque na pesquisa foi detectado que com o passar dos anos, a produtividade destas células diminui, deixando a pele vulnerável ao envelhecimento biológico, por causa do estresse e de fatores externos principalmente.

Com base neste estudo, a empresa desenvolveu um produto de alta performance que ativa os receptores das células de Langerhans. O concentrado promete estimular o poder multi-defensivo da tez, imunizando-a contra fatores ambientais, como poluição, estresse cotidiano e ações naturais de envelhecimento. O resultado dessa ‘ação imunizadora’ é uma pele resistente, iluminada e com aspecto saudável, segundo a marca. Com tudo isso, entretanto, a embalagem não traz essa informação, a do poder antipoluição. Está nas entrelinhas, subentendido.

A Nivea também não ressalta a funcionalidade diretamente na embalagem, mas cita o benefício antipoluição em alguma etapa da sua comunicação, como acontece no caso do Nivea Facial Hidratante Protetor Equilíbrio Nutritivo. A sua assessoria de imprensa explica que se trata de um produto de textura leve, com um ativo regulador do brilho e FPS 30, com proteção UVA UVB. E que o item protege contra a poluição e hidrata por 24 horas. A fórmula contém vitamina E e B5, além de Hydra QI, uma tecnologia exclusiva de produtos Nivea que estimula a formação de novas aquaporinas. 

Cabelos – A marca brasileira Acquaflora, de produtos de cuidado com os cabelos, apresenta Detox, uma linha criada para estimular o bom funcionamento das glândulas sebáceas, resolver problemas como oleosidade e caspa de intensidade leve e promover a desintoxicação, estimulando o crescimento e reestabelecendo o equilíbrio do cabelo como um todo.

Neste caso, a embalagem também não destaca a ação antipoluição, apesar de a comunicação da marca para a imprensa mostrar que os produtos, xampu e fluido, promovem limpeza profunda dos fios e do couro cabeludo, removendo resíduos de poluição e de cosméticos usados diariamente, que acumulam no cabelo e não saem na lavagem habitual.

No nicho de profissionais, ocorre algo similar. A embalagem não conta, mas a comunicação da marca sim. Nano Block, da Ponto 9 Professional (distribuída em salões de beleza), promete neutralizar odores indesejados dos cabelos e couro cabeludo. Segundo a marca, o item pode ser usado após processos químicos e também é alternativa natural para exposição à fumaça, cigarros e poluição. Pelo menos é o que o consumidor poderá ler em revistas e materiais de divulgação.

Oportunidades – No Brasil, pensar em produtos com ingredientes antipoluição é algo que exige um olhar duplo, tanto ao mercado de produtos para pele quanto ao segmento capilar. Ambos representam fatias importantes do setor de higiene e beleza e apresentam oportunidades, principalmente a projetos que incluam o claim antipoluição. 

O mercado de cuidados com os cabelos no Brasil alcançou uma venda total de 1,45 bilhão de produtos no ano passado, indicando uma queda de 4,9% em comparação ao resultado de 2010. A variação média anual dessa categoria neste período foi de -1%, segundo dados da Euromonitor.

Em valor, porém, haircare atingiu a marca de R$ 20,22 bilhões em 2015, um aumento de 3,9% sobre a registrada em 2010. O crescimento médio anual foi de 0,8%. A categoria de produtos capilares é uma das mais importantes no faturamento total do setor, ainda nesses tempos mais desafiadores, devidos principalmente à crise econômica enfrentada pelo País.

A categoria de cuidados com a pele faturou R$ 10,16 bilhões no ano passado, segundo a Euromonitor, representando uma queda de 2,5% na comparação com o resultado de 2010. Skincare apresentou recuo médio anual de 0,5%.

Em volume, o resultado percorreu a direção oposta. Houve venda de 370,1 milhões de itens em 2015, o equivalente a 21,9% a mais do que o número obtido em 2010. O crescimento médio anual foi de 4% neste período. 

Matérias-primas – O tema antipoluição não é mais uma tendência, ou um modismo apenas, mas um assunto que faz parte do dia a dia das fabricantes cosméticas. “Cada vez mais estudos são publicados, relacionando a poluição ao envelhecimento”, afirma Daniela Valverde, gerente técnica de aplicação da Seppic. A executiva diz que a empresa está atenta a oportunidades e oferece soluções a seus clientes que desejam crescer com esse claim em suas formulações.

“Cada vez mais se fala em Modern Life Protection Factor, sabe-se que o estresse oxidativo – oriundo de fatores externos, como radiação UV e poluição, e também de fatores internos, como fadiga, estilo de vida e alimentação – é um dos principais responsáveis pelo envelhecimento celular da pele ou até mesmo dos cabelos”, diz Daniela.

A gerente afirma ainda que o mercado brasileiro tem potencial ainda para se desenvolver nessa questão, e por isso a empresa entrega tecnologias que prometem benefícios aos fabricantes e consumidores.

Premiado – Uma delas é o Ephemer. O ingrediente possui ação antioxidante imediata, 24 horas, e de longo prazo, 28 dias. Promete aumentar a proteína da longevidade (SIRT-1), oferece proteção celular contra os radicais livres, devido ao incremento da catalase, protege o DNA mitocondrial e melhora o micro-relevo cutâneo.

“Tem ação no núcleo da célula, faz a proteção das camadas mais profundas da pele, e, além disso, seu benefício também é visível com a diminuição das linhas de expressão”, explica Daniela.

Segundo a gerente técnica, o Ephemer consiste em um ingrediente pioneiro para aplicações cosméticas provenientes da cultura de gametófitos originários de um tipo raro e precioso de macroalga. Por biotecnologia, a Seppic foi capaz de isolar, estabilizar e extrair células instáveis e que vivem apenas algumas semanas no oceano, mas que são fundamentais para o ciclo de vida da alga marrom Undaria pinnatifida.

“Para os fabricantes, esse é um ativo eficaz e de ação comprovada com testes in vivo, proveniente de fonte responsável e sustentável, ecocertificado, com um excelente claim atrelado e que foge do lugar comum. Já para os consumidores, consiste em um ingrediente natural que promove a proteção celular, atua contra os fatores que provocam danos na pele, como radiação UV e poluição, e, além disso, tem benefícios visíveis na pele em apenas um mês de uso”, afirma.

O ingrediente foi reconhecido com o Prêmio Ouro na in-cosmetics Paris 2016, no primeiro semestre, como ingrediente verde com tecnologia inovadora e de fonte responsável que possui um impacto significativo para o meio ambiente.

Combate aos radicais-livres – Outra solução do portfólio da Seppic é Sepitonic M3, um conjunto de minerais que pode ser usado em produtos faciais e corporais. O ingrediente, de acordo com a fornecedora, gera o bom funcionamento de enzimas responsáveis pelo metabolismo celular.

“Com a sua ação de melhora do funcionamento da cascata energética, ajuda a célula no processo de renovação e combate aos radicais livres. Além disso, o ingrediente ajuda a potencializar a ação de outros ativos, o que é um benefício para o formulador, pois se pode diminuir a concentração de aplicação para obter a mesma efetividade” diz Daniela.

Hidratação – Daniela ressalta que um dos malefícios causados pela poluição é a desidratação, que, consequentemente, faz com que a pele fique enfraquecida. Segundo a especialista, essa desidratação promove um ‘desbalanço’ no fluxo e reservas de água, o que gera alteração na renovação epidérmica, descamação descontrolada e desestruturação do micro-relevo cutâneo.

“Entretanto, a simples adição de um agente hidratante, como a glicerina, não garante que a pele se restabelecerá e vá recuperar a homeostase novamente. Nosso ingrediente Aquaxyl possui testes in vivo que garantem a melhora do micro-relevo cutâneo”, diz.

O produto, segundo Daniela, regula a descamação de água, promove hidratação instantânea e também, em longo prazo, reforça a barreira da pele, diminui a perda de água provocada pelo uso de glicerina e corrige seus efeitos negativos (de ressecamento).

“O ingrediente oferece vantagens tanto para o consumidor, com seus benefícios, quanto para o formulador, porque é um produto versátil, que pode ser trabalhado a quente ou a frio para produtos de pele e cabelos”, finaliza.