O Boticário prepara sua primeira incubadora
Pessoas mais conectadas, novo comportamento do consumidor, economia compartilhada, sinergia do mundo físico com o digital sem atritos, além da melhoria da experiência de compra são conceitos que começam a permear mais intensamente a rotina do varejo. Mais do que isso, tiram o sono de quem está à frente das grandes cadeias nacionais, de quem faz da inovação uma marca desde a sua criação. “Não é de hoje que eu me pergunto se já não passou da hora de fazer melhor ou diferente”, afirma Artur Grynbaum, presidente do Grupo Boticário. E o questionamento não está relacionado a resultados, pelo contrário.
Segundo dados da consultoria Euromonitor, O Boticário, com faturamento de R$ 10 bilhões em 2015, responde por 10,9% das vendas no país, atrás apenas da Unilever (12,2%) e à frente da Natura (11,1%), P&G (9,7%) e L’Oreal (6,8%). Em 2010, a fatia era de 6,9%. Com cerca de 4000 lojas em operação, mais de 7 mil funcionários diretos e presente em 1750 municípios, o grupo, fundado em 1977, no Paraná, é considerado a maior rede de franquias de beleza do mundo.
Tudo começou a ficar mais claro há quatro anos, quando, ao visitar uma consultoria de estratégia de negócios nos Estados Unidos ao lado de seus principais executivos, Grynbaum ficou decepcionado com o que viu. “Ou a gente estava fazendo tudo muito certo ou eu não fui capaz de captar nenhuma inovação que pudesse agregar valor ao nosso trabalho”, afirma. De volta ao Brasil, não deixou de pensar no que o grupo, que sempre se destacou pela inovação, poderia fazer diante das mudanças que começavam a rondar o varejo.
Certo de que não existe um modelo único, que cada companhia tem de construir a sua própria estrada, o Boticário começou a desenhar sua receita pautada em tecnologia, inovação disruptiva, comunicação diferenciada e uma interação grande com o público final. Tornouse a primeira marca de beleza brasileira a lançar um produto em cocriação com o consumidor.
A linha de perfumes Rio, Eu Te Amo, lançada em 2014, contou com a participação de mais de 9 mil pessoas no projeto. Causou polêmica ao propor a inclusão de gêneros em suas campanhas promocionais, deixando para trás o tradicional modelo de família.
Há três meses, o grupo inaugurou o BotiLab, um dos primeiros laboratórios digitais do varejo brasileiro, englobando a inovação de dentro e de fora da indústria e das lojas. O próximo passo será abrir as portas, em 2017, da sua primeira incubadora de empresas, nos moldes das existentes nos grandes centros de inovação do Brasil e do mundo.
“Ninguém faz nada sozinho, se nós precisamos de inovações rápidas e as startups de investimento e acompanhamento para ganhar escala, por que não unir as duas pontas?”, questiona o presidente. “É um caminho de compartilhamento de conhecimento, com maior agilidade, velocidade e quantidade de pessoas envolvidas com inovação.”
No momento, a direção está visitando parques e incubadoras do Brasil, a fim de conhecer as melhores práticas e criar o seu próprio projeto. Uma coisa, porém, é certa. A incubadora de O Boticário abrigará startups com produto na fase de prototipagem, não apenas na ideia. Será um modelo aberto, no qual a companhia tanto irá ao mercado nacional e internacional em busca de novidades nas mais variadas áreas, quanto receberá interessados em participar da incubação por meio de editais. “Entre 2011 e 2012 investimos em spinoffs do próprio grupo, nascidas dentro de casa”, diz Grynbaum. “Faço questão que seja junto à sede, no Paraná, porque mais do que ninguém, quero aprender como esse universo funciona.”
Fonte: Valor