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O ímã da autoestima

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Pique da Inoar Cosméticos reflete resistência do setor de higiene & beleza ao mercado maltratado pela piora no custo de vida

O primeiro semestre acendeu o botão de alarme com o desfecho do balanço de 2021 na Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). Tendo ainda fresca na memória a praxe pré-pandemia de o setor crescer anualmente dois dígitos, a entidade encara como modesto e preocupante o aumento aferido de 4% nas vendas ex factory (resultado líquido de impostos sobre vendas) de janeiro a junho último, um pisão no calo do quarto mercado mundial no gênero e atribuído à inflação e instabilidade política. O período marcou por quedas nas vendas de categorias como cosméticos (-3,9%). Mas entre os segmentos a salvo, desponta o salto de 9,4% no movimento de produtos de higiene pessoal, mérito óbvio dos cuidados preventivos contra o corona. Um clima sob medida para a brasileira Inoar Cosméticos estrear em sabonetes líquidos e íntimo, talco e desodorantes viabilizada pela compra formalizada em setembro, por montante não revelado, da conhecida marca Banho a Banho, integrante do portfólio da Cellera Farma e criada pela Johnson & Johnson’s. Sediada na Grande São Paulo, a Inoar sente vento a favor, mesmo com a economia nacional mal das pernas, para faturar R$ 150 milhões este ano, receita a ser vitaminada daqui para frente com a soma de sua nova linha a um mostruário com mais de 370 produtos. Na entrevista a seguir, Inocência Manoel, sócia fundadora dessa empresa há 13 anos em campo, justifica o investimento e comenta as mudanças nos hábitos de consumo e as embalagens plásticas adotadas pela Inoar.

Como o poder de compra empobrecido tem afetado as vendas de suas linhas de produtos?
A Inoar não teve problema de aceitação de suas linhas, mesmo diante da diminuição de renda da população. Em 2020, fizemos a lição de casa em relação aos itens de menor giro e sempre mantivemos o foco na oferta de alta qualidade a preço justo. Por sinal, os lançamentos do ano passado foram muito assertivos, a exemplo da produção de álcool em gel envasado em garrafas de PET da água mineral Minalba, desenvolvimento das duas empresas em tempo recorde. Aliás, dispomos ainda de álcool em gel em frascos opacos com spray, ofertados também em nossa loja oficial on line. Retomando o fio, entendemos a dificuldade do momento em relação à liquidez dos clientes, porém temos linhas que se encaixam perfeitamente ao momento no país.

O movimento de produtos para higienização tem sido bafejado pela prevenção contra o corona. Foi essa procura e a crença de que o hábito da assepsia mais constante deve perdurar após a pandemia que levaram a Inoar a comprar a marca Banho a Banho de desodorantes, sabonetes e talco?
A aquisição da Banho a Banho teve duplo objetivo: inserir a Inoar nesta categoria de produtos de higiene pessoal (desodorantes, sabonetes, hidratantes) e fortalecer a estratégia de internacionalização da companhia. Afinal, já atuamos em mais de 45 países. A aquisição engloba três marcas: “Banho a Banho”, “Banho a Banho Adventure” e “Shower to Shower”. A Inoar não divulga o valor de seus empreendimentos, mas estimamos um investimento de R$ 12 milhões no desenvolvimento dessa linha incorporada.

Nos últimos anos pré-pandemia, houve uma proliferação de empreendedores menores em produtos de higiene pessoal e cosméticos. A conjuntura instável de hoje pode levar esses players a fusões ou aquisições em busca de capital, escala e redução da concorrência?
De acordo com estudo realizado em 2020 pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) sobre o impacto da pandemia, realmente houve uma mudança no funcionamento de 5,3 milhões de empresas menores no país, o que equivale a 31% do total. Em torno de 58,9% delas interromperam as atividades temporariamente. Entretanto, o empreendedorismo no setor de beleza e higiene pessoal tem crescido com a mudança de hábitos do consumidor e a transformação digital. Era esperado que as restrições sanitárias a encontros sociais afetassem o mercado de uma maneira significativa, mas, de acordo com os levantamentos de mercado da Abihpec, os números mostram exatamente o contrário. Ou seja as vendas de produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos fecharam 2020 com crescimento de 4,7%, na contramão da queda de 4,1% do PIB. E 2021 não parece diferente, pois o setor registrou no primeiro quadrimestre alta de 5,7% nas vendas. Voltando ao estudo do Sebrae, nele também é possível observar como as formas de atuar dos pequenos empreendedores estão evoluindo desde o começo da pandemia. Percebeu-se uma adaptação deles para não interromper o funcionamento total dos serviços.

Qual a participação estimada das embalagens em geral nos custos de produção da Inoar?
Em torno de 40%.

Em razão do encarecimento dos frascos de polietileno de alta densidade (PEAD), várias grifes de higiene & beleza estão pendendo para o preço e apelo da transparência das embalagens de PET. Qual a posição sobre isso da Inoar, forte usuária das embalagens opacas de polietileno?
Temos utilizado os frascos PET há alguns anos. Além de seguros, são sustentáveis graças às possibilidades de reciclagem e à eficiência energética na sua fabricação.

Grandes marcas de higiene & beleza prezam muito a sustentabilidade do plástico reciclado de boa qualidade, material de oferta restrita e mais caro que o similar virgem. Com a economia instável e o poder aquisitivo encolhido, esse entusiasmo do setor pelo reciclado pode cair, devido ao encarecimento da embalagem produzida com ele?
De acordo com uma pesquisa da Abihpec sobre tendências de comportamento do consumidor, conceitos como sustentabilidade, personalização, valor social, tecnologia e transparência já se tornaram decisivos no momento da escolha de um produto. A biodiversidade está redesenhando a indústria de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos. Por sinal, a relação do consumidor com as marcas e seus produtos está mudando. No levantamento Beauty and Personal Care Trends 2018, a consultoria Mintel Global explicava que vender um ótimo produto não será mais suficiente.  As marcas precisam demonstrar personalidade e propósitos que se alinhem às crenças dos consumidores para conquistá-los. O mercado aponta para essa direção. Por exemplo, 56% dos norte-americanos ouvidos para o estudo da Mintel afirmaram que deixam de comprar produtos de determinada marca ou loja se acharem que eles não são éticos. Já cerca de 29% dos respondentes brasileiros preferem comprar produtos de empresas com práticas sustentáveis. No mesmo trabalho, 57% dos latino-americanos topam pagar a mais por produtos de qualidade e padrão de segurança elevados, enquanto 48% concordam em fazer o mesmo para produtos que não agridam o meio ambiente e 39% para produtos que mostrem responsabilidade social.

A Inoar embarcou nessa tendência?
Temos investindo em campanhas educacionais sobre a reutilização do plástico. Também trabalhamos com frascos recicláveis e, por sinal, já está previsto para a nova linha Banho a Banho o emprego de stand-up pouch, embalagem flexível com quantidade de plástico capaz de chegar a ser 85% inferior à do recipiente rígido para envase do mesmo volume de conteúdo.

Quais as principais mudanças trazidas pela pandemia nos hábitos de consumo de produtos de higiene & beleza?
O isolamento social e a decorrente mudança de rotina nos protocolos de higiene pessoal afetaram, sobretudo, a saúde mental de variadas formas. O estresse foi apontado como uma das principais consequências, refletindo-se nas condições capilares, ocasionando perda de cabelo, caspa, ressecamento e pontas duplas dos fios. Além dos produtos para esses tratamentos, a higienização das mãos intensificou a procura por álcool em gel. São hábitos de autocuidado que não devem ser abandonados quando o vírus for enfim eliminado.

 

Fonte: Plasticos em revista 08.10.2021

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