Em 1º de setembro, Ana Paula Magri, com mais de 25 anos de experiência na área de beleza e que ocupava o cargo de diretora comercial, foi promovida a gerente geral do Grupo Pierre Fabre no Brasil, indústria farmacêutica e de dermocosmética, detentora das marcas Avène, Ducray e da brasileira Darrow. É a primeira vez que a companhia francesa coloca um brasileiro para comandar as operações no país, que já conta com quatro mulheres entre os oito cargos de diretoria. Confira entrevista exclusiva que a executiva concedeu ao Portal Cosmetic Innovation.
Você poderia contar um pouco de sua trajetória profissional que a levou a assumir essa importante posição?
Tenho mais de 25 anos de experiência no mercado de cosméticos e de dermocosméticos. Nesse tempo, trabalhei em todos os canais de distribuição no Brasil e passei por muitas áreas, de forma transversal, o que me proporcionou uma trajetória profissional bastante diversa. Além disso, sempre busquei me preparar, estudando sobre as áreas nas quais tinha menos conhecimento e vivência. Inclusive, após a universidade, tive a oportunidade de estudar na França. Tudo isso me deu um grande repertório para assumir este novo desafio.
Como você avalia o fato de ser a primeira brasileira e mulher a assumir a direção geral da Pierre Fabre no país?
A Pierre Fabre no Brasil é bastante pioneira na busca pela equidade em sua liderança. Dos oito integrantes da nossa diretoria, quatro eram mulheres. Nossa empresa tem ações globais voltadas para a diversidade, mas o Brasil está bastante acelerado neste aspecto.
O ponto mais significativo aqui, além de ser mulher, é o fato de eu ser brasileira. Estamos num momento de transição da nossa empresa, que chegou aqui no Brasil há 22 anos, e desde então, vinha sendo liderada por franceses. Até que veio o Philippe de Carvalho, que é um franco-brasileiro, e assumiu nossa liderança em 2017. E isso mostra o movimento do grupo de colocar líderes locais em seus países para uma próxima etapa de crescimento. Nosso mercado brasileiro é importante e único e está ganhando autonomia para que seja gerido de forma única.
A decisão de colocar uma brasileira no cargo reflete essa segunda etapa do grupo de ter líderes locais dirigindo as filiais, por eles possuírem um conhecimento maior das equipes e dos clientes locais, além de mais entendimento sobre o contexto do país e sobre o consumidor local e sua pele.
Quais são os seus principais desafios no cargo?
Alguns dos principais desafios da posição são: continuar num ritmo de crescimento muito acelerado, o que indica estar crescendo pelo menos 1.5 x o mercado ao ano e trazer cada vez mais inovações desenvolvidas no nosso Centro de Inovação Brasileiro (BIC), em parceria com os dermatologistas brasileiros, todas focadas na pele do consumidor brasileiro.
Além disso, temos o desafio de tornar a filial do Brasil ainda mais digitalizada e de ter o consumidor ainda mais ao centro. Ou seja, de chegar onde este consumidor está, de estar digitalmente com ele.
Outro desafio é dar continuidade ao projeto que iniciamos aqui ano passado com foco em diversidade e inclusão. Tudo isso com o objetivo de colocar o Brasil entre as cinco principais filiais da Pierre Fabre no mundo.
Quais marcas ou linhas de produtos são o carro-chefe de vendas no Brasil?
Atualmente, comercializamos as marcas internacionais Avène e Ducray, e a brasileiríssima marca Darrow Laboratório, adquirida pelo grupo em 2006. Aqui vale destacar que temos uma fábrica na região serrana do Rio de Janeiro, em Areal, que é voltada para a fabricação dos nossos produtos, em especial os de Darrow.E nossos campeões de venda são os produtos para acne: Actine, da marca Darrow, e Cleanance de Avène.
Quais foram os últimos lançamentos ou inovações da empresa no Brasil?
Em Darrow, Actine Gel de limpeza, que passou por uma renovação na fórmula, trazendo a inovação da vitamina C, que proporciona ação antioxidante e ajuda a combater o envelhecimento da pele. Também houve a adição de P-Refinyl ™, que é a substância que reduz a aparência de poros dilatados e controla a oleosidade da pele.
Em Avène, Cleanance Matificante, um hidratante facial diário que complementa a nossa linha Cleanance. Ele é formulado com Comedoclastin™, um extrato vegetal das sementes de cardo mariano. É um gel creme de textura ultraleve e acabamento matte, que proporciona hidratação de longa duração, com controle e redução da oleosidade.
E dando um spoiler, em breve, lançaremos o Cleanance UV, que é um protetor solar desenvolvido no Brasil, voltado para a consumidora brasileira.
Como avalia o atual momento do mercado de dermocosméticos e quais são as perspectivas?
O mercado de dermocosméticos é muito dinâmico. E acho que a Pierre Fabre e as demais empresas do setor vêm atuando de forma privilegiada num mercado que cresce há mais de 10 anos consecutivos. Apesar do receio que houve durante a pandemia, a categoria se mostrou forte. Além disso, os dermatologistas continuaram presentes na relação com as consumidoras, e o mercado seguiu evoluindo de forma bem significativa, com mais de duplo digito de crescimento nos últimos anos.
Então as perspectivas são de que esse dinamismo continue e que a Pierre Fabre seja responsável por boa parte dele, com todas as inovações que nós já temos desenhadas até 2025.
Com o crescimento de abordagens cada vez mais científicas para o desenvolvimento de produtos de personal care e cosméticos, como você avalia essa fronteira cada vez mais tênue entre cosméticos e dermocosméticos?
Existe uma fronteira tênue talvez em relação ao entendimento da consumidora, mas a ciência por trás de um produto dermocosmético é muito maior do que nos cosméticos. Os ativos usados na fórmula dos produtos dermocosméticos são clinicamente comprovados. Eles contam com uma equipe que desenvolve e avalia toda essa formulação, além de serem também avaliados por dermatologistas e cientistas. Há estudos clínicos que comprovam sua eficácia, inclusive registrados na Anvisa, que é onde o produto também é registrado. Diferentemente de um cosmético, o dermocosmético tem por trás toda uma ciência e uma tecnologia considerada mais de ponta.
Acredito que no futuro estaremos nos questionando sobre a linha tênue entre um dermocosmético e um medicamento, de tanta tecnologia que o produto tem. Como é o caso do nosso Cleanance Comedomed, de Avène, que é formulado com Comedoclastin™, um extrato vegetal das sementes de cardo mariano.
Quais peculiaridades e que categorias requerem desenvolvimentos específicos para o consumidor brasileiro? Pode citar exemplos?
O Brasil é o país com a maior miscigenação do mundo, o que leva a características de pele muito peculiares. Adicionado ao fato de ser continental, o que propicia variações no nosso clima, que vão do calor extremo ao frio, passando por índices de umidade que também variam muito.
Um dado interessante a ser destacado aqui é que cerca de 80% da população feminina brasileira declara ter uma pele oleosa a mista, o que traz características bem específicas para todos os produtos, sobretudo os de pele. E junto com isso, vem o enorme desafio de como atender a essas características. Por isso, desenvolvemos e inauguramos nosso Centro de Inovação aqui no Brasil (BIC), em 2018, com o objetivo de atendermos cada vez melhor às necessidades da pele brasileira.
A empresa alterou seu cronograma de lançamentos, antecipando ou adiando, para se adaptar aos impactos da pandemia? Dê exemplos.
A empresa tomou a decisão de não adiar seu plano de lançamento. Inclusive, logo no início da pandemia lançamos pela primeira vez um produto de maneira 100% digital, que foi o A-Oxitive noite, de Avène. Ressalto que o lançamento foi totalmente online tanto para imprensa e mídia, como na visitação médica. Decidimos por essa ação pioneira para não deixar nossas consumidoras sem esse dinamismo do mercado de dermocosméticos, tão habitual para elas.
Nossos principais parceiros de mercado, os dermatologistas, também nunca pararam de atender seus pacientes e suas necessidades neste período. Coube a nós garantir que a forma de operar da categoria não parasse. Fizemos o melhor que pudemos, mesmo com alguns desafios de importação e matéria-prima. Mas nada que tenha abalado os lançamentos.
Quais segmentos são vistos e que categorias serão prioritárias para o lançamento de produtos depois da pandemia?
Todos os segmentos de dermocosméticos são vistos por nós como promissores e tem seis categorias que concentram nosso foco para os próximos anos, e que representam 90% desse mercado: acne, solar, hidratação corporal, anti-idade, capilar e cicatrização.
Quais os principais caminhos que a inovação em dermocosméticos deverá seguir nos próximos anos?
As inovações tecnológicas em dermocosméticos estão seguindo caminhos de tanta sofisticação que os produtos estão se aproximando, muitas vezes, até de medicamentos.
O mercado dermocosmético é movido à inovação. Novos ativos, tecnologias, embalagens e produtos são lançados todos os anos. Acreditamos que as inovações no mercado brasileiro estarão cada vez mais antenadas com as demandas do consumidor, e muitas vezes serão desenvolvidas em cocriação com eles, como fazemos na Pierre Fabre. Texturas cada vez mais adaptadas à pele brasileira, novos ativos com respaldo científico e eficácia comprovada, além de produtos multifuncionais vão continuar com destaque nas inovações. Mas não devemos esquecer que estão na pauta de nossos consumidores o clean beauty e desenvolvimento eco-responsável. Assim, ativos controversos e processos produtivos que não respeitem o meio ambiente tendem a perder espaço nos lançamentos.
A tendência é que as próximas inovações mais disruptivas aconteçam nas categorias de pele e cabelo, como proteção solar, tratamentos da acne e tudo relacionado ao couro cabeludo.
A empresa pretende realizar novos investimentos no país? Em que áreas?
Sim, a empresa está num ciclo bastante virtuoso. Estamos realizando muitos investimentos na nossa unidade de produção, nossa fábrica em Areal, para suportar futuros projetos. Também estamos investindo no nosso Centro de Inovação, aumentando sua capacidade.