Confuso com as siglas e apelos de marketing que compõem o rótulo de um protetor solar? Do FPS e PPD ao amplo espectro e antioxidante, saiba como decifrar essa sopa de letrinhas presente em rótulos de fotoprotetores
Todo ano, as preocupações com filtros solares crescem no período de calor – embora as recomendações médicas reiterem que o protetor solar é um produto de uso contínuo durante o ano inteiro (inverno e outono) e em qualquer clima (nublado ou chuvoso). “O protetor solar é, sem dúvidas, o melhor creme antirrugas que existe. O consumidor brasileiro, que não é acostumado a usar protetor solar diariamente, em muitos casos nem imagina o que são as siglas, abreviações e apelos de marketing de um protetor solar. Ao não entender o rótulo desse produto, o paciente pode comprar aquele que não é o mais indicado para sua pele e isso acaba desestimulando o uso desse produto tão importante. Ou então não dar valor a um produto que oferece outras formas de proteção”, destaca a Dra. Jaqueline Zmijevski, dermatologista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Para ajudar a decifrar todas essas informações, montamos um guia fácil e explicado, de maneira didática, pela médica:
SIGLAS E ABREVIAÇÕES
Segundo a dermatologista, entender as siglas de um fotoprotetor é de tamanha importância, já que estamos falando de raios solares que podem causar envelhecimento, manchas e câncer de pele. As principais siglas e abreviações são: FPS, PPD, IR, UVA e UVB.
UVB — A radiação ultravioleta B é aquela capaz de deixar a pele vermelhinha, com eritema, causar queimaduras e ardência. “Essa radiação está presente em maior porcentagem entre às 10 e 16 horas e está envolvida na síntese da vitamina D”, diz a médica.
UVA — É uma radiação presente ao logo do dia, do nascer ao pôr do sol. “É capaz de atravessar nuvens, janelas e vidro dos carros. Sua incidência não muda com a época do ano bem com o clima. Principal responsável pelo envelhecimento precoce (manchas e rugas), esse tipo de radiação é indolor e penetra na profundidade da pele, até a derme, sendo responsável por produzir os temidos radicais livres”, diz a médica.
FPS — A sigla FPS significa Fator de Proteção Solar e é um índice que determina o tempo em que uma pessoa pode estar exposta ao sol sem deixar a pele vermelha. “É o valor obtido pela razão entre a dose mínima de vermelhidão na pele protegida por um protetor solar e a dose mínima de vermelhidão na mesma pele quando desprotegida”, explica. Essa proteção refere-se apenas aos raios UVB. Qual é o FPS ideal? “Se eu aplicar fator 30, ele absorve em média 96,7%% da radiação solar. No caso do fator 50, ele está absorvendo 98% da radiação solar. Uma das estratégias recomendadas é o uso da “regra da colher de chá”, na qual consideramos a aplicação de uma colher de chá no rosto e em cada um dos membros superiores e duas colheres de chá para tronco/dorso e para cada um dos membros inferiores”, explica a Dra. Jaqueline. “Como nenhum protetor solar pode filtrar 100% dos raios UV, as roupas de proteção (com FPS), chapéus e abrigo da sombra também são indicações importantes”, completa a médica.
PPD / FP-UVA — PPD significa Persistant Pigment Darkening e indica o grau de proteção contra os raios UVA. Nos rótulos, o PPD pode aparecer como FP-UVA (Fator de Proteção UVA). “No estudo de UVB (FPS), medimos o quanto a pele demora para ficar vermelha quando exposta ao UVB. No caso do estudo UVA, mede-se o quanto a pele demora a apresentar pigmentação por melanina quando exposta ao UVA. O PPD ideal é a partir de 10 e deve representar, no mínimo, um terço do FPS”, diz a médica.
PA+ — PA+, PA++, PA+++, PA++++ estão presentes em protetores solares, principalmente os importados. O PA é uma escala PPD, ou seja, o grau de proteção UVA de um protetor solar: “De acordo com a metodologia Measurement Standards for UVA Protection Efficacy, descrita pela Japan Cosmetic Industry Association, uma proteção entre 2 e 4 é apontada como PA+, entre 4 e 8 é PA++, entre 8 e 16 é PA+++ e maior que 16 é PA++++, sendo os dois últimos as melhores opções”, explica.
IR — IR é o Infrared ou infravermelho, uma radiação sentida na pele através do calor ou mormaço. “Esse é um comprimento de onda que atinge a derme mais profunda onde estão as fibras de ancoragem e sustentação da pele. E isso traz consequências à elasticidade da pele”. Além disso, o infravermelho também está associado a piora de manchas pre-existentes, especialmente do melasma. A dermatologista explica que, nesses casos, é importante o uso proteção física e antioxidantes que diminuam o processo inflamatório causado pelo Infrared. Para esse tipo de proteção, os filtros físicos ou com cor são uma boa pedida.
APELOS DE MARKETING E INFORMAÇÕES DE RÓTULO
Apelos de marketing em protetores solares nem sempre querem dizer algo com o objetivo único de vender produto e enganar o consumidor. “Muitos apelos de marketing são altamente importantes para entender qual é o produto mais indicado para minha necessidade”, diz a médica.
À prova d’água – Embora a informação pareça óbvia, o que significa dizer que o protetor é à prova d’água? Alguns protetores solares são resistentes à água do mar e piscina, e também ao suor. “Quando um filtro solar é resistente à água, ele permanece eficaz por, em média, 40 minutos na pele molhada. Quando ele é muito resistente à água, o filtro solar permanece eficaz por 80 minutos na água. A versão muito resistente à água’ é mais indicada para crianças e esportistas. No entanto, sempre reiteramos a recomendação de reaplicar o filtro a cada duas horas e após os banhos de mar e piscina, uma vez que também tendemos a passar mais a mão no rosto ou no corpo, ajudando a retirar o filtro. Reaplicando, garantimos uma pele protegida”, explica a Dra. Jaqueline.
Amplo espectro – A proteção solar é um conceito que pode envolver uma cobertura da pele contra os danos causados pela radiação ultravioleta A (UVA) e ultravioleta B (UVB), que são prejudiciais à pele. “Mas um filtro solar de amplo espectro protege a pele do envelhecimento (manchas, rugas e flacidez) de queimadura e ajuda a prevenir o câncer de pele, e também pode conter extratos e ativos antioxidantes e anti-inflamatórios, que “limpam” parte da “sujeira” deixada pela radiação que escapou do filtro solar. Esses ativos são importantes porque, como vimos, nenhum filtro confere 100% de proteção; e nem sempre aplicamos de maneira uniforme e na quantidade adequada”, destaca a dermatologista.
Antioxidantes — Essas moléculas tornaram-se muito famosas nos últimos anos. “Os antioxidantes minimizam a formação de radicais livres (e em alguns casos revertem os danos causados por eles). Eles são considerados excelentes aliados no dia-a-dia. Os radicais livres são átomos ou moléculas instáveis e altamente reativas que, em excesso, passam a atacar células sadias, como proteínas, lipídios e DNA. A radiação solar, o infravermelho e a luz visível são capazes gerar radicais livres, que também danificam a membrana e a estrutura da célula, podendo, em casos extremos, levar à morte celular”, diz a médica. Quando um protetor solar tem antioxidante, geralmente ele também é considerado de amplo espectro e oferece benefícios adicionais como ação: anti-inflamatória, reparadora e antipoluente. “Os antioxidantes mais famosos são as Vitaminas E, C e B3 (Niacinamida), além do ácido ferúlico e do resveratrol”, diz a médica.
Cor — Filtros com cor ajudam uniformizar o tom da pele, mas não só isso: “Eles têm substâncias, normalmente o dióxido de titânio e óxido de zinco, que conferem proteção física à luz visível. São excelentes aliados principalmente para pacientes com melasma, já que as manchas podem piorar com a exposição prolongada à luz visível.
Filtros químicos e físicos — Divididos entre químicos e físicos, os filtros atuam de maneiras diferenciadas. “Existem dois tipos de ação para o filtro solar. Os filtros físicos (óxido de zinco e dióxido de titânio) refletem a luz solar. É como se fosse uma parede de tijolos em que a luz bate e volta. Já os filtros químicos absorvem a radiação UV, transformando-a em baixa energia, sem capacidade de causar prejuízos. A maioria dos produtos ofertados no mercado, sem cor, conta com a proteção química, já os produtos com cor oferecem ambos tipos de proteção. Os filtros puramente físicos costumam apresentar na embalagem a informação de que são “100% mineral” e são mais indicados para pessoas de pele sensível ou sensibilizada. Ou ainda para aquelas que possuem doenças fotossensíveis”, diz a dermatologista.
Fotoenvelhecimento — Quando há a informação no rótulo do filtro de que protege contra o fotoenvelhecimento, ele está reforçando a ideia de que o protetor solar é a melhor arma de uso tópico contra o aparecimento das manchas e envelhecimento precoce.
Luz visível — A luz visível é emitida não só pelo sol como também por computadores, celulares, tablets e outras telas que você possa ter em casa. Esse tipo de radiação, explica a Dra. Jaqueline, está relacionada especialmente ao aparecimento de manchas; inclusive piorando o melasma, condição crônica caracterizada pelo aparecimento de manchas escuras geralmente no rosto. Quanto à luz azul, um estudo recente mostrou que, apesar da baixa irradiância efetiva emitida por dispositivos eletrônicos e luz artificial em relação à radiação solar, que poderia levar a pensar que não há efeito de fotodano dos dispositivos artificiais, devemos considerar que as respostas da pele são consequência da integração de toda exposição diária à luz e todas as fontes de radiação. “Dessa forma, as luzes azuis são potencialmente prejudiciais à pele a longo prazo”, destaca a médica.
Protetor solar com repelente – Cuidado! Pode parecer tentador ter tudo em um produto só, mas o problema dos multifuncionais é a quantidade que você aplica e a frequência das reaplicações. O protetor solar deve ser aplicado de forma generosa; o repelente de insetos deve ser aplicado em fina camada e com menos frequência do que o protetor solar.
Toque seco — Muitas vezes a textura, ou melhor, o veículo do protetor solar também consta no rótulo. São eles: gel, creme, gel-creme, loção, spray, bastão. E também informações como “toque seco” “efeito matte” ou “hidratante”. “Todos esses são veículos que carregam as partículas protetoras e devem ser considerados na hora da escolha de um fotoprotetor, pois uma textura adequada ao seu tipo de pele e rotina ajuda na adesão ao uso diário”, finaliza a Dra. Jaqueline.