O Ecoparque, complexo industrial da Natura localizado em Benevides, município da região metropolitana de Belém (PA), completa dez anos de operações.
Desde a sua inauguração, em 2014, a fábrica tem sido o elo entre a companhia e a sociobioeconomia amazônica, destacando-se por suas contribuições em pesquisas inéditas de bioativos, práticas industriais sustentáveis e desenvolvimento de produtos a partir da bioinovação. Atualmente, 94% da demanda de sabonetes de Natura &Co América Latina (Natura, Avon e The Body Shop) é atendida pelo Ecoparque, que produziu 505 milhões de unidades somente em 2023 – são mais de 3,2 bilhões em uma década.
Todas as etapas de fabricação dos sabonetes Natura Ekos são realizadas nesse espaço: desde o manejo sustentável dos óleos vegetais fornecidos por comunidades parceiras, passando pela produção da massa base de sabonetes até a finalização da produção com outros insumos incorporados à massa. As formulações utilizam desde frutos mais tradicionais no dia a dia do brasileiro, como o maracujá e a castanha, a bioingredientes menos comuns na cosmética, como a ucuuba, andiroba e o tucumã.
Helder Barbalho, governador do Pará, e João Paulo Ferreira, CEO Natura &Co América Latina e presidente da Natura durante evento de celebração dos 10 anos do Ecoparque realizado nesta terça, 23. . Créditos: Cabron Cabron Studios
Para Angela Pinhati, diretora de Sustentabilidade de Natura &Co América Latina, o complexo é peça-chave da estratégia de atuação da empresa na Amazônia, que desde 2000 incorpora ativos da biodiversidade na formulação de seus produtos, unindo ciência e bioinovação ao conhecimento tradicional. “A inauguração do Ecoparque foi uma decisão estratégica da companhia para gerar progresso econômico local e impulsionar a forte vocação da região para a bioeconomia. Evoluímos imensamente em dez anos e hoje o Ecoparque é, sem dúvidas, a melhor fábrica que temos na América Latina e uma das maiores produtoras de sabonetes no Brasil”, afirma Angela, que liderou durante sete dos dez anos do complexo as linhas de manufatura em operação.
Para Josie Romero, vice-presidente de Operações e Logística, os diferenciais do Ecoparque consistem na adoção de sistemas de gestão e tecnologias muito bem implementadas, uso de óleos e bioingredientes exclusivos da região e o trabalho de uma equipe extremamente engajada e motivada. Atualmente, o Ecoparque conta com aproximadamente 600 colaboradores diretos e indiretos, e 100% da mão-de-obra operacional é paraense, incluindo a alta liderança da fábrica. Para qualificar e reter os talentos da região, a Natura promove programas de capacitação, como especializações técnicas, certificações em metodologias reconhecidas no mercado para liderança, monitoramento e análise de melhorias na operação, e bolsas de estudo integrais em universidades de engenharia para colaboradores.
O Ecoparque se baseia no conceito de simbiose aplicado ao desenvolvimento industrial. Seu propósito é estabelecer uma cadeia produtiva integrada, onde os insumos gerados ou descartados por uma empresa sejam aproveitados na produção de outra. Em 2015, a Symrise, empresa de criação de fragrâncias, inaugurou uma fábrica de manteigas e óleos essenciais dentro do Ecoparque. Recentemente, a empresa de embalagens Box Print também se juntou a esse complexo.
Fomento à sociobioeconomia
O plano de industrialização das comunidades é uma das estratégias da Natura para promover a transferência de tecnologia de processamento das matérias-primas locais, impulsionando mudanças transformadoras entre as famílias fornecedoras no Pará. Os benefícios imediatos dessa evolução incluem a comercialização de produtos de maior valor agregado, a criação de novos postos de trabalho e o aumento da renda das famílias envolvidas, além da otimização da logística de produção dos insumos. “Atualmente, contamos com 18 agroindústrias e 8 centrais de serviço, estabelecidas em comunidades parceiras no Brasil e no restante da América Latina. No estado do Pará, temos 5 agroindústrias e 4 centrais de serviços em operação”, menciona Josie.
A partir do Projeto Carimbó – conjunto de investimentos da Natura para a instalação de agroindústrias de extração de óleos essenciais -, a empresa inaugurou em fevereiro uma usina de extração de óleos essenciais em Santo Antônio do Tauá, na Associação de Produtores e Produtoras Rurais da Comunidade de Campo Limpo (APROCAMP). A agroindústria será pólo de processamento das espécies priprioca, pataqueira, estoraque e capitiú, presentes nos frescores de Natura Ekos e em fragrâncias como Essencial e Natura Homem. O investimento impacta positivamente cerca de 60 famílias e mais de 240 pessoas.
A executiva explica que o Ecoparque consolida o fomento à bioeconomia e o relacionamento próximo com as comunidades agroextrativistas na região. “É no Pará que está alocada a nossa Gerência de Relacionamento e Abastecimento da Sociobiodiversidade da Natura, apelidada de GRAS, equipe dedicada a atuar em campo junto às comunidades. São eles que nos apoiam a expandir as cadeias produtivas sustentáveis por meio de relacionamento próximo com as famílias, entendendo suas necessidades para investirmos em capacitação, eficiência produtiva e transferência de tecnologias. O objetivo é que as cooperativas agroextrativistas prosperem com a economia da floresta em pé, produzam riqueza localmente e sejam vetores na promoção do desenvolvimento social, conservação e regeneração ambiental”, afirma Josie.
Instalações da fábrica da Natura no Ecoparque. Créditos: Cabron Studios
Atualmente, a Natura se relaciona com 10.191 famílias em 44 comunidades da Amazônia. São 94 cadeias de fornecimento que colhem bioativos respeitando os limites da floresta e o calendário das safras, bem como os modos de vida locais. Juntas, empresa e famílias contribuem para conservar 2,2 milhões de hectares no bioma. Somente em 2023, R$ 42,8 milhões em recursos foram alocados nas comunidades locais.
“O Ecoparque é protagonista na consolidação do nosso propósito, que é transformar desafios socioambientais em oportunidades de negócio e de desenvolvimento local sustentável. Exemplo disso é o primeiro sistema agroflorestal de dendê do mundo, o SAF Dendê, localizado no município de Tomé-Açu. Começamos o projeto há 15 anos e passamos de 18 hectares plantados para os atuais 413. A meta audaciosa de expansão é atingir 40 mil hectares até 2035, proporcionando um aumento significativo no volume de produção e garantindo um abastecimento sustentável para a Natura”, explica. Para isso, a empresa está investindo no relacionamento com agricultores familiares, médios e grandes produtores, implementando estratégias específicas para cada frente. O óleo de dendê do SAF está presente na formulação de Natura Biōme, primeira linha de produtos em barra da marca com fórmulas veganas e até 99% de origem natural.
Operação ecoeficiente
A estrutura do Ecoparque foi pensada para operar de maneira ecoeficiente. A área, que equivale a 140 campos de futebol, conta com iluminação e ventilação natural, seus pisos mantêm a permeabilidade do solo, há utilização de água da chuva na caldeira, nos sanitários, na torre de resfriamento e na manutenção dos edifícios. O local conta ainda com uma área de compostagem de resíduos orgânicos. Sobras de alimentos do restaurante, aparas de jardinagem, resíduos do processo de extração de óleos de sementes e frutos da Amazônia, e cinzas da caldeira, são transformados em adubo. A matéria orgânica é utilizada na jardinagem do local e, a parte excedente, destinada para a Secretaria de Agricultura de Benevides. Já os jardins filtrantes do Ecoparque ficam encarregados pelo tratamento de efluentes, utilizando raízes de plantas para o processo. Por meio da fitorremediação, sem o uso de produtos químicos, bactérias presentes nas raízes de plantas aquáticas degradam os poluentes.
Outra estratégia para conservar recursos ambientais foi a implementação de sistemas de geotermia, nos quais dispositivos capturam o ar externo e realizam trocas térmicas no subsolo para reduzir a temperatura dentro dos edifícios. Há também o aproveitamento da água da chuva, cuja captação ocorre nos telhados dos armazéns, passando por processos de filtragem e tratamento, com capacidade de até 40m³/hora. Posteriormente, essa água é utilizada em atividades de limpeza, irrigação de jardins, sanitários e alimentação da caldeira.
Equipes do Ecoparque também fazem acompanhamento da vida aquática e terrestre do entorno. Esse monitoramento avalia as condições da fauna e do ambiente para entender os impactos da instalação e propor medidas para mitigá-los. A área do complexo serve como um refúgio importante para animais e vegetais de grande relevância ambiental. Destacam-se espécies como o Tamanduaí, o menor tamanduá do mundo; o Ipecuá (uirapuru de bando), uma ave ameaçada que só habita áreas não perturbadas com locais adequados para sua reprodução, além de pequenos roedores, que desempenham papéis fundamentais nos ecossistemas vegetativos, entre outros. O monitoramento abrange 289 espécies da fauna aquática e 201 da fauna terrestre.