A fabricante de cosméticos endividada Coty está trabalhando em um plano para vender ou fechar a maioria de suas fábricas e terceirizar mais operações em uma nova estratégia de “ativos leves” destinada a resistir à tempestade Covid-19, disse seu presidente.

“Vamos nos tornar leves e ágeis”, disse Peter Harf, sócio-gerente da JAB Holdings, acionista majoritário da Coty, que também atua como presidente-executivo desde junho.

A mudança ocorre no momento em que bloqueios e fechamentos de lojas reduziram a receita da empresa por trás das marcas CoverGirl e Max Factor em 63%, para US$ 560,4 milhões no último trimestre do ano, até 30 de junho. Isso deixou a Coty, um dos mais antigos investimentos da JAB, que administra a riqueza da família bilionária Reimann da Alemanha, gerando um prejuízo líquido de US$ 696 milhões no trimestre e US$ 1,1 bilhão no ano inteiro.

Todas as métricas do último trimestre foram muito piores do que os analistas esperavam, de acordo com o consenso compilado pela empresa.

A tarefa de entregar a recuperação há muito prometida agora cairá para a nova executiva-chefe, Sue Y Nabi , que deve chegar em 1º de setembro. A veterana da indústria da beleza, que passou 20 anos na L’Oréal e mais tarde fundou uma marca vegana de cuidados com a pele, será o quinto presidente-executivo da Coty no período tumultuado desde que comprou o portfólio de beleza da Procter & Gamble por US $ 12,5 bilhões em 2015.

Esse negócio tinha como objetivo dobrar o tamanho da Coty e elevar o grupo para o nível superior da beleza, mas em vez disso deixou-o sobrecarregado com dívidas altas, enquanto um processo de integração enfraqueceu suas marcas, assim como novos competidores no Instagram se levantaram.

Embora a Coty seja um dos menores investimentos no portfólio da JAB – o grupo  tem investimentos muito maiores na Keurig Dr Pepper e na empresa de café JDE Peet -, ele provou ser um dos mais problemáticos.

De acordo com seu último relatório anual, a Coty fabrica quase 80% por cento de seus produtos em instalações em países como os EUA, Brasil e China.

A pandemia desferiu mais um golpe para a Coty ao fechar temporariamente os salões de cabeleireiro e manicure onde seus produtos profissionais são vendidos, bem como lojas de departamentos para seus perfumes. Mas suas marcas de mercado de massa, como CoverGirl, continuaram a ser vendidas em farmácias e supermercados que permaneceram abertos.

As maiores rivais da Coty enfrentaram dificuldades semelhantes em meio a bloqueios globais, mas suas vendas no trimestre até o final de junho caíram muito menos: 19% para a L’Oréal e 32% para a Estée Lauder.

No entanto, o Sr. Harf expressou confiança por causa do que ele chamou de “uma melhoria significativa nos negócios” nos últimos dois meses. “Esperamos que o impulso positivo continue, com retorno do lucro no primeiro trimestre”, disse ele, referindo-se ao lucro operacional ajustado.

Harf disse que o acordo assinado em maio com o fundo de private equity KKR para comprar 60% da divisão de beleza profissional da Coty e injetar US$ 750 milhões na própria Coty reforçaria o balanço patrimonial. O negócio traria cerca de US$ 3 bilhões em receitas e a Coty disse que estava “no caminho” para fechar até o final do ano.

A dívida líquida ficou em US $ 7,8 bilhões no final do ano financeiro de 2020, acima dos US$ 7,4 bilhões no final do exercício de 2019 do grupo e US$ 7,3 bilhões em 2018. O aumento da dívida da Coty veio depois que ela consumiu mais caixa do que gerou com os negócios, levando a um fluxo de caixa livre negativo de $ 318 milhões.

Para lidar com isso, a Coty tem cortado custos desde a pandemia, incluindo demissão de pessoal, e em junho prometeu reduzir os custos fixos em US$ 600 milhões nos próximos três anos. Também suspendeu temporariamente o pagamento de dividendos.

“Meu trabalho é cortar custos até o fim, de modo a criar combustível para o nosso novo CEO investir em nossas marcas”, disse o Sr. Harf. “O faturamento precisa crescer para salvar o negócio, já que você só pode cortar custos até um certo limite”.

As ações da Coty caíram 66% este ano, em comparação com um aumento de 7% para a L’Oréal e de 4,5% para a Estée Lauder.

Fonte: Financial Times 26.08.2020