Os planos da Lush para uma ‘segunda vida’ no Brasil
Nos anos 1970, Mark Constantine trabalhava como cabeleireiro na Inglaterra. Começou a desenvolver, para a clientela, produtos naturais para o tratamento de cabelos. Descoberto pela The Body Shop, desenvolveu produtos para a rede de cosméticos por mais de uma década. Quando decidiu seguir novos rumos e empreender, fundou a Lush – rede que tenta se diferenciar com um apelo sustentável. Presente em mais de 50 países com 900 lojas, a empresa está fazendo uma segunda tentativa de se estabelecer no País.
Na década passada, a Lush chegou a ter 25 lojas no Brasil, em uma operação com sócios locais. A divisão de trabalhos não deu certo, e a parceria foi desfeita. Apesar de a briga ainda se arrastar na Justiça, a Lush decidiu apostar uma segunda vez no País – agora, por conta própria. A companhia está em fase de obtenção de licenças para montar uma fábrica em Bom Jesus dos Perdões (SP) e prepara a abertura de uma loja-conceito nos Jardins, na capital paulista.
Apesar de o porte da empresa ter crescido muito nos últimos anos, a Lush tentará se diferenciar no mercado brasileiro por seu apelo “artesanal”. A gerente-geral da Lush no Brasil, Renata Pagliarussi, diz que os produtos feitos aqui terão, a exemplo do que ocorre lá fora, a fotografia do trabalhador responsável pela manipulação dos ingredientes no rótulo. O galpão industrial da Lush, na definição de Renata, se parece menos com uma indústria de cosméticos e mais com uma padaria.
O planejamento inicial para o retorno ao País prevê a abertura de 30 lojas. É uma meta modesta em comparação às redes líderes – só O Boticário, por exemplo, tem mais de 3,6 mil pontos de venda. A Lush quer se apresentar como uma opção de nicho. Evitar concorrer no mercado de massa, diz o especialista em varejo Alberto Serrentino, pode ser uma saída para a companhia não ser esmagada pelos gigantes. “O conceito da Lush é interessante, e a empresa tem a seu favor a lembrança que o consumidor ainda tem de sua primeira passagem pelo País.”
Mudanças. Nos últimos anos, além de crescer internacionalmente, a companhia adicionou serviços ao seu portfólio. Serão justamente essas mudanças que ficarão evidentes nesta “segunda vida” no Brasil. A loja-conceito da Lush terá o primeiro spa terapêutico da marca na América do Sul. Como a loja será aberta antes de a fábrica ficar pronta, Renata diz que os produtos serão inicialmente importados. “Mas vamos segurar o custo. Os preços já refletirão a economia proporcionada pela produção local”, diz a responsável pela operação brasileira.
As transformações na Lush estão sendo implementadas à medida que o negócio cresce. Segundo Hilary Jones, diretora de ética da matriz da Lush, o negócio de spas foi uma ousadia permitida pelo crescimento. A receita global da empresa está ao redor de US$ 600 milhões.
Apesar do alcance global, a Lush não mudou de sócios – 60% do negócio continua nas mãos de Mark Constantine. Segundo a executiva, isso garante o compromisso com a sustentabilidade. A empresa se opõe aos testes em animais e desenvolve seus fornecedores. “Nossa equipe de compras viaja o mundo e fecha contratos de matérias-primas com comunidades. Eliminamos atravessadores para remunerar melhor”, diz Hilary.
Fonte: O Estado de S. Paulo