Estudo aponta excesso de exposição ao formol em salões de beleza
Desenvolvido em Bauru, o trabalho apontou que 100% dos cremes ultrapassaram em até 18 vezes a concentração de formol permitida pela Anvisa.
Um estudo desenvolvido em parceria pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e a Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP) em Bauru mostrou que em 39% dos salões de beleza analisados na cidade paulista foi ultrapassado o limite de tolerância de concentração de formol no ar. Além disso, todos os produtos de alisamento utilizados nos salões excederam significativamente a quantidade de formaldeído determinada como limite pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A substância é cancerígena e está proibida no Brasil para esse tipo de procedimento desde 2001.
A conclusão é fruto da dissertação de Marcelo Eduardo Pexe pela FSP-USP, cuja proposta foi quantificar a exposição ocupacional de cabeleireiros ao formaldeído – popularmente conhecido como formol – caracterizando espaços físicos, processos de trabalho e a avaliação quantitativa da exposição dos profissionais à substância em salões de beleza.
As amostras de ar coletadas nos 23 salões analisados foram levadas para o Laboratório de Análises Químicas do IPT, no qual foi realizada a quantificação de formol, baseada em uma metodologia própria do Instituto. Segundo Amanda Marcante, responsável pela análises no IPT, o método é mais preciso que os demais disponíveis no mercado por separar a substância de outros tipos de aldeído. Os dados obtidos mostraram que 39% dos salões ultrapassaram o limite de tolerância de concentração estabelecido no Brasil, que é de 1,6 ppm (ou 2,3 mg/m³) de ar para uma jornada de até 40 horas semanais.
Foram analisadas também amostras dos cremes utilizados para o alisamento capilar, e todas as 18 marcas avaliadas ultrapassaram significativamente as concentrações de formol determinadas pela Anvisa para esse tipo de cosmético, que é de 0,2%. As quantidades variaram entre 3,64% e 10,96% – até 54 vezes o permitido pela Anvisa.
“O uso do formol é popular por ser rápido, barato, de fácil aquisição e por proporcionar muito brilho aos fios. Mas é uma substância tóxica, inclusive banida no Brasil desde 2001 para esse tipo de procedimento. Cerca de 65% das cabeleireiras apresentaram queixas de doenças ocupacionais, relatando irritação ocular, lesões de pele, cefaleia, dor em membros superiores e inferiores e problemas respiratórios”, explica Pexe.
Pexe também identificou, contudo, que outros fatores influíram na exposição dos profissionais ao formol. Em geral, a altura do pé direito da edificação, o tamanho e quantidade de portas e janelas e o nível de ventilação no ambiente ajudaram a dispersar a substância no ar, resultando em menores exposições durante a aplicação. Além disso, a lavagem do cabelo antes da etapa de secagem e ‘pranchamento’ dos fios também mostrou relação com a diminuição da exposição química dos profissionais, já que parte do produto é retirada com esse procedimento.
Fonte: IPT