Pandemia acelera transformação digital e sustentável na L’Oreal
Até o fim do ano 10% dos negócios da empresa no País devem ser feitos online; companhia vai destinar 150 milhões de euros para questões ambientais e projeto brasileiro será o primeiro beneficiado
A pandemia da covid-19 está acelerando transformações no modelo de negócios da gigante do setor de beleza L’Oréal. O grupo acaba de lançar um programa de sustentabilidade com metas ambiciosas até 2030, e assiste a uma verdadeira revolução digital impulsionada pela mudança de comportamento dos consumidores durante o período de isolamento social.
“O comércio eletrônico será o grande vencedor dessa crise. Todas as nossas divisões tiveram crescimento de três dígitos no e-commerce. No final deste ano vamos ter perto de 10% do nosso negócio no País online”, disse a presidente da L’Oréal Brasil, An Verhulst-Santos.
É calcada na reinvenção do negócio digital que ela afirma ter “ambições extremamente fortes” para a operação em 2020, apesar da previsão de queda de 9,1% do PIB brasileiro pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
Para surfar essa onda no quarto maior mercado de beleza do mundo, a L’Oréal Brasil escalou uma equipe para trabalhar 24 horas por dia na transformação digital, com criação de tutoriais e gerenciamento de redes sociais. Nnovos modelos de vendas, via WhatsApp e Rappi, também entrou no radar.
Em termos de categorias, o grupo identificou que houve forte aumento na demanda por cosméticos para a pele, de marcas como Vichy e La Roche-Posay. A L’Oréal vê ainda oportunidades para marcas de coloração capilar, já que na quarentena mais mulheres passaram a retocar a raiz dos cabelos em casa.
A outra ponta da transformação de negócios da multinacional a ganhar força foi a da sustentabilidade. Na última sexta-feira, durante o lançamento global do programa “L’Oréal for the Future”, o CEO do grupo, Jean-Paul Agon, destacou que a pandemia foi um forte alerta sobre o que pode ocorrer no caso de uma crise climática global.
“Com a disseminação do novo coronavírus, os desafios ambientais e sociais ficaram mais patentes. Ficou muito claro que acelerar nossos esforços na transformação sustentável era uma prioridade”, afirma An.
A ideia do programa é expandir as ações iniciadas em 2013 para reduzir o impacto ambiental direto da cadeia de valor da L’Oréal. Além de mudanças na forma de produzir, o objetivo agora é influenciar fornecedores, clientes e seu 1,5 bilhão de consumidores a fazerem escolhas sustentáveis. As questões sociais também entram nessa equação.
Projeto no Brasil será o primeiro a receber dinheiro do novo fundo
Seguindo essa diretriz, a companhia destinará 150 milhões de euros para tratar de questões sociais e ambientais que considera urgentes. Desse total, dois terços serão divididos entre projetos vinculados à economia circular e outros para apoiar mulheres vulneráveis. Outros 50 milhões de euros irão para projetos de restauração de florestas e ecossistemas marinhos.
Com a maior biodiversidade do planeta, o Brasil terá protagonismo nesse processo. A diretora de Sustentabilidade da L’Oréal Brasil, Maya Colombani, conta que é brasileiro o primeiro projeto selecionado para receber parte dos recursos do recém-criado Fundo L’Oréal para a Regeneração da Natureza, cujo portfólio será montado nos próximos três anos.
“O Brasil é um país extremamente estratégico para o grupo”, diz Maya. A L’Oréal Brasil será carbono neutro até o fim de 2020, cinco anos antes da meta global do grupo, com 100% de eletricidade renovável. A empresa também foi a primeira do setor de bens de consumo a adotar caminhões a biometano no País.
A nova fase do programa de sustentabilidade da L’Oréal prevê, entre outros pontos, que até 2030 todo o plástico usado nas suas embalagens serão de fontes recicladas ou renováveis, e que suas emissões de gases de efeito estufa por produto acabado cairão 50% frente a 2016.
A empresa desenvolveu e adotará a Rotulagem de Impacto Ambiental e Social, que dará notas aos produtos em termos de impactos, facilitando a escolha do consumidor. A primeira marca a usar o rótulo será a Garnier.
Questionada se a condução da política ambiental pelo governo Jair Bolsonaro preocupa e se pode interferir nos investimentos da multinacional, a exemplo do que manifestou recentemente um grupo de investidores estrangeiros detentores de US$ 4,1 trilhões, a presidente da L’Oréal Brasil afirmou que tem um compromisso de longo prazo com o País.
“Acompanhamos o que acontece com as regras governamentais, mas achamos que nesse momento as empresas podem e precisam fazer a diferença. É uma responsabilidade não só dos governos”, afirma.
Dentro dessa filosofia, durante a pandemia a L’Oréal se comprometeu a manter empregos ao menos até o fim de junho no Brasil, passou a produzir álcool em gel em suas fábricas e a negociar pagamentos de faturas devidas por salões de beleza, distribuidores e perfumarias independentes, na tentativa de minimizar os impactos econômicos da crise para esses clientes.
Fonte: Estadão 01.07.2020