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Cosmetic Innovation - Know More. Create More.Destaque Empresas & Negócios EntrevistaDiretora científica da L’Oréal Brasil explica a grande transformação em pesquisa e inovação

Diretora científica da L’Oréal Brasil explica a grande transformação em pesquisa e inovação

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“Iremos revisitar e reinventar nosso portfólio de matérias-primas e formulações”, diz Cristina Garcia

Por Estela Mendonça

Em 2020, a demanda uma beleza ‘limpa’ e ‘segura’ foi reforçada, com os consumidores buscando segurança na transparência de ingredientes provenientes de fontes éticas e sustentáveis. Esses novos comportamentos, agravados pela crise sanitária, representam um enorme desafio para as marcas, que precisam se adaptar para reconquistar a confiança dos consumidores.

A L’Oréal, que adota desde março de 2019 uma abordagem de transparência em seus ingredientes com a iniciativa Inside Our Products, acaba de lançar a plataforma Por Dentro dos Nossos Produtos, em português, quem tem por objetivo posicionar a L’Oréal como líder na indústria em transparência em relação aos ingredientes e à composição.

A empresa também iniciou uma grande transformação em pesquisa e inovação, justamente orientando suas pesquisas e métodos para as Ciências Verdes, que consiste, por exemplo, desde os cientistas descobrirem formulações cada vez mais ‘eco-friendly’, como podem alcançar uma pegada ambiental hídrica menor e descobrir que ingredientes da biodiversidade valem a pena e são seguros.

Essa transição para uma pesquisa sem petroquímica no horizonte 2030, permitirá ao Grupo L’Oréal atender as novas demandas dos consumidores, com inovações mais do que nunca respeitando o meio ambiente. “Contamos com os enormes avanços e inovações trazidos pelas ciências naturais, agronomia, biotecnologias, ecoextração, química verde ou físico-química. É assim que iremos revisitar e reinventar nosso portfólio de matérias-primas e formulações. E a integração do princípio da circularidade nos permitirá penetrar em novas áreas de inovação”, vislumbra Cristina Garcia, diretora científica da L’Oréal Brasil, em entrevista exclusiva para o Portal Cosmetic Innovation. Confira.

Quais foram ou são os maiores desafios do P&D voltado para as ciências verdes para substituir ingredientes?

Durante os últimos 10 anos, operamos uma profunda transformação para reduzir o impacto em toda a nossa cadeia de valor. Reinventamos totalmente a forma como projetamos e produzimos os nossos produtos, sempre com a sustentabilidade como requisito fundamental. Fomos adquirindo conhecimento e desenvolvendo ferramentas para chegar ao que chamamos hoje de Ciências Verdes, que é agora um dos pilares da nossa Pesquisa & Inovação. Este conceito é, na verdade, um conjunto de conhecimentos científicos que engloba: práticas agrícolas inovadoras que protegem os ecossistemas e têm um impacto ambiental limitado (sistemas agroflorestais, permacultura); tecnologias de transformação respeitosas ao meio ambiente (Biotecnologia, Química Verde, com o uso de solventes sustentáveis, redução e consumo de energia e de emissão de resíduos); e formulação sustentável, usando ingredientes naturais ou de origem natural. Sempre ouvimos muito as demandas de nossos consumidores e, notadamente, nesses últimos anos, o consumidor está buscando cada vez mais fazer escolhas mais conscientes de produtos que, além de serem seguros para sua saúde, tenham impacto social e ambiental positivos.

Você pode citar algum produto ou linha de produtos que exemplifique na prática resultados desse empenho?

Como exemplos da aplicação das Ciências Verdes, temos a Máscara Natural, formulação ecológica com 99% de ingredientes naturais.  Outro exemplo é o Shampoo Gen 1, de Garnier, o primeiro shampoo em barra e sem embalagem plástica da L’Oréal. Esta nova tecnologia traz sustentabilidade na formulação à base de plantas, sem sulfato, sem silicone e sem sabão para cabelos. Outro ponto forte dessa tecnologia é o enxágue rápido, o que encurta a lavagem, diminuindo, assim, o consumo de água. Porém, estes produtos ainda não chegaram ao Brasil.

Há pesquisas sendo conduzidas pelo time de P&D no Brasil? Como é a interação com os demais centros de P&D da L’Oréal pelo mundo?

Sim, estamos constantemente em busca de melhorias e inovações no nosso Centro de Pesquisa & Inovação, no Rio de Janeiro. Aqui, nossos focos são inovações para cabelo e fotoproteção, e já estamos aplicando alguns dos conceitos das ciências verdes nessas categorias. Trabalhamos em parceria e muito próximos aos outros 20 centros de pesquisa da L’Oréal em todo o mundo, sempre atentos às demandas dos nossos consumidores desses locais. Mas buscando sempre compartilhar informações e tecnologias entre eles, para que uma inovação iniciada em um dos centros possa ser aproveitada pelas diversas regiões em que ela é relevante para o consumidor.

Quais peculiaridades do consumidor brasileiro têm sido especificamente consideradas nas pesquisas em andamento?

O Brasil foi escolhido para abrigar um dos Centros de Pesquisa & Inovação da L’Oréal por ser um terreno muito fértil para pesquisa e inovação, principalmente, para produtos para cabelo e de fotoproteção. É o único país a reunir todos os oito tipos de cabelo mapeados por nós. Além disso, a consumidora brasileira tem a rotina de beleza mais complexa do mundo, usando cerca de cinco produtos diariamente: shampoo, condicionador, cremes de pentear ou tratamento, sprays finalizadores/fixadores e óleos de hidratação.

Então, o país é ideal para entendermos esses tipos de cabelo, os usos da consumidora e criar novas fórmulas, que podem ser testadas localmente. Ou seja, é o laboratório dos sonhos para poder desenvolver produtos capilares. Ao mesmo tempo, aqui encontramos 55 dos 66 tons de pele mapeados e temos um clima quente e úmido, favorecendo a inovação para produtos de fotoproteção. A consumidora procura produtos que reúnam características como alta proteção, toque seco e cor (efeito de maquiagem), por exemplo.

A pandemia impactou o trabalho do P&D, especialmente com as medidas de restrição e o trabalho remoto?

A pandemia impactou a vida de todos. Mas o trabalho de Pesquisa & Inovação nunca parou. Definimos um novo modo. Inclusive, demos uma grande contribuição para a sociedade com a formulação, produção e distribuição de álcool em gel, que não faz parte do nosso portfólio. Pudemos ajudar, em um momento em que o país enfrentava a escassez do produto e de matérias-primas para a sua produção. Fornecemos mais de 800 mil unidades de álcool gel para o Brasil inteiro, a hospitais na linha de frente, comunidades mais vulneráveis e a comunidades indígenas. Nossos colaboradores se mobilizaram de forma única para fazer esse plano de solidariedade acontecer.

Assim como a Covid-19 mudou hábitos e as demandas do consumidor, como isso tem impactado as pesquisas?

A pandemia acelerou ainda mais algumas demandas que já existiam, como uma preocupação cada vez maior do consumidor com sua própria saúde, mas também com a origem e os impactos ambientais dos produtos consumidos. Sendo assim, para levar ainda mais transparência e empoderamento ao consumidor, criamos a plataforma “Por Dentro Dos Nossos Produtos”, para trazer ao consumidor de forma clara, objetiva e numa linguagem acessível todas as informações sobre nossos ingredientes e nossa forma de desenvolver nossas fórmulas.

Essa plataforma está agora disponível em português, e já conta com 42 fichas detalhadas sobre alguns dos ingredientes mais emblemáticos, mas também traz um glossário com mais de 300 outros ingredientes. Além disso, há seções com respostas às perguntas mais frequentes, artigos sobre a nossa forma de garantir a segurança e a qualidade de nossos produtos e vídeos com nossos pesquisadores, que contam, por exemplo, como eles formulam e testam a eficácia de nossos produtos.

Ao mesmo tempo, a inovação sustentável está sendo revolucionada pelas Green Sciences (ou Ciências Verdes) e está sendo acelerada por todas as possibilidades oferecidas pelas biotecnologias, biofermentação e Química Verde. É o eixo de inovação sustentável, que combina o progresso científico com o respeito ao planeta. Na verdade, as Ciências Verdes abrem perspectivas fascinantes: um novo campo de possibilidades para a inovação e, ao mesmo tempo, uma nova abordagem da circularidade dos recursos. Contamos com os enormes avanços e inovações trazidos pelas ciências naturais, agronomia, biotecnologias, ecoextração, química verde ou físico-química. É assim que iremos revisitar e reinventar nosso portfólio de matérias-primas e formulações. E a integração do princípio da circularidade nos permitirá penetrar em novas áreas de inovação. Um exemplo concreto é a vitamina C produzida a partir do amido por bactérias. Hoje, a genômica efetivamente transforma bactérias em “minifábricas” para produzir novos ingredientes. Como você pode ver, esse progresso científico está nos levando a novas fronteiras em termos de desempenho de produtos, ao mesmo tempo em que nos dá novas formas de agir com responsabilidade e compromisso com o planeta.

Quais categorias têm sido priorizadas nas pesquisas ou têm apresentado mais desafios?

Como falado, para o Brasil, estamos constantemente em busca de melhorias e inovações no nosso Centro de Pesquisa & Inovação. Aqui, nossos focos são inovações para cabelo e fotoproteção. Mas produtos formulados em todo o mundo chegam às consumidoras brasileiras. Um desafio transversal a todas as categorias é o de buscar soluções tecnológicas, para ter um produto cada vez mais sustentável, e, por isso, a nossa determinação de integrar as Ciências Verdes como um de nossos pilares.

Neste horizonte para 2030, como a L’Oréal vislumbra seu portfólio de produtos?

Como parte do programa L’Oréal para o Futuro, até 2030, o Grupo L’Oréal pretende garantir que 95% de seus ingredientes sejam de origem biológica, derivados de minerais abundantes ou processos, com 100% de suas fórmulas avaliadas por meio de sua plataforma de testes ambientais, para garantir que não causem danos à diversidade dos ecossistemas aquáticos costeiros e de água doce. Além disso, pretendemos inovar, para reduzir o consumo de água por parte dos nossos consumidores, pois sabemos que a questão é muito importante para o planeta. O maior consumo de água no ciclo de vida do produto é a fase do uso. Isso sem falar nas ações de redução de embalagens, uso de plástico reciclado ou de origem vegetal e a intensificação de embalagens recarregáveis, recicláveis e comportáveis.

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