Fábricas da Colgate-Palmolive recebem certificação de resíduo zero
O grupo é pioneiro no Brasil a ter esse ‘selo’, que, segundo especialista ouvida pelo Prática ESG, não é ainda muito conhecido no Brasil, mas é um passo importante para chamar a atenção do mercado para o desperdício e aumentar a transparência
As unidades da Colgate-Palmolive em São Paulo e São Bernardo do Campo acabam de receber a certificação TRUE, de resíduo zero em plantas fabris, emitida pela Green Busines Certification Inc. (GBCI). A conquista veio depois que, por 12 meses, mais de 90% de todos os resíduos não perigosos produzidos nas duas plantas deixaram de ser enviados para aterros sanitários, com a adoção de alternativas como reciclagem e de práticas que contribuem para reduzir a própria geração de resíduos, além de reúso e a compostagem de materiais.O grupo é pioneiro no Brasil a ter esse ‘selo’.
Ainda pouco conhecido no mercado, o TRUE é o primeiro programa internacional de certificação de resíduos zero dedicado a medir, melhorar e reconhecer o desempenho de instalações com resíduos zero. Obter essa certificação faz parte da estratégia global de sustentabilidade da Colgate-Palmolive, que quer incentivar práticas capazes de contribuir para resultados ambientais, de saúde e econômicos positivos. Com mais essas fábricas, agora a organização tem 29 unidades no mundo que receberam o TRUE. A meta é certificar 100% das operações globais até 2025.
“Essa conquista é de extrema importância para nós. É um reconhecimento de que mudamos nossos conceitos e ‘mindset’ [mentalidade] sobre gestão de resíduos”, conta Riccardo Ricci, presidente da Colgate-Palmolive no Brasil. Na busca pela certificação, além de reduzir a geração de resíduos em suas plantas, a organização passou a reutilizar interna e externamente materiais que antes eram descartados, como paletes. A empresa também promoveu mudanças na forma de recebimento de alguns insumos (de embalagens para granel), além de implementar ações como o uso de caixas retornáveis na produção, envio de resíduos da produção de tubos de creme dental para fabricação de telhas e placas, transformação de lixo orgânico dos restaurantes das duas fábricas em adubo, entre outras.
Denise Saboya, sócia-diretora de ESG da consultoria Mazars, chama a atenção para a importância da transparência. Segundo ela, à medida que o movimento de desperdício zero continua a ganhar força em todo o mundo, há preocupações crescentes em torno do greenwashing – falas enganosas, incompletas ou distorcidas sobre as reais ações da empresa na agenda sustentável – e de reivindicações ambientais infundadas. “A transparência é a resposta para esses problemas, e a certificação TRUE tem um papel importante a contribuir para aumentar a credibilidade das organizações certificadas com seus consumidores”,
De acordo com Saboya, o redesenho dos ciclos de vida dos recursos, como o incentivado pelo TRUE, resulta em um grande potencial de mercado. Ela lembra que o Brasil é o quarto maior produtor de resíduo plástico do mundo, perdendo apenas para Estados Unidos, China e Índia. São aproximadamente 11,3 milhões de toneladas produzidas anualmente, mas apenas 1,28% deste montante é reciclado. “Como o plástico, temos outros materiais como o aço, por exemplo, que tem um potencial incrível de redução da geração de resíduos com a própria utilização de matéria-prima reciclada”, diz.
A consultora ressalta a importância da diminuição da geração de resíduos sólidos para a redução da pegada de carbono, principalmente aquela envolvida no Escopo 1. Formada em gestão ambiental, Livia Baldo, gerente da Tera Ambiental diz que os modelos econômicos circulares minimizam o desperdício, eliminam o uso excessivo de recursos, priorizam os recursos regenerativos e, com isso, reduzem as emissões de gases de efeito estufa. “Dessa forma, podemos afirmar que a circularidade é necessária para o cumprimento das metas de mitigação das mudanças climáticas”, reforça.
Jornada
Para chegar à certificação, e após o registro do projeto, a Colgate-Palmolive precisou definir um ‘TRUE Advisor’, que assessora a unidade no processo. Ele é um membro da companhia que passou por treinamento técnico no GBCI para compreender as diretrizes da avaliação. Também foi necessário montar um ‘Green Team’, grupo que auxiliou na busca por iniciativas capazes de levar a empresa a atingir 10% ou menos de resíduos direcionados para aterro ou incineração. Essa equipe, também foi responsável pelo suporte ao atendimento aos quesitos de no mínimo 64 créditos para ter o TRUE com nível Platinum – o máximo e que foi obtido pela organização. Durante aproximadamente um ano, o time realizou adequações em diversas áreas da unidade para atingir esses créditos.
Para a Colgate-Palmolive, o maior desafio foi compreender “muito bem” todos os requisitos da certificação. E, também, adaptar o sistema de gestão de resíduos para atender os requisitos em um prazo curto, pois a companhia tem metas ambiciosas de certificação em todo o mundo todo. “Quando entendemos que a utilização de resíduos para aproveitamento energético impactava negativamente nos resultados da certificação, por exemplo, tivemos que revisitar esse fluxo e encontrar alternativas para enviar parte desse resíduo, que virava energia, para compostagem e reciclagem”, conta Malaquias Jimenez, diretor de Manufatura (manufacturing diretor) da Colgate-Palmolive.
“Um exemplo foram os rótulos, que têm uma parte em papel siliconado e não podem ser enviados diretamente para reciclagem “tradicional”. Neste caso, encontramos uma alternativa para a transformação do papel siliconado em celulose reciclada. O envolvimento de pessoas de diversas áreas foi fundamental em todo esse processo”, acrescenta.
A fim de promover a reutilização, foi adotado um sistema de segregação dos resíduos nos pontos de geração, por meio de áreas de estocagem separadas e dedicadas para cada tipo de resíduo. Assim, foi possível separá-los de forma correta para serem enviados para reciclagem, compostagem e reúso. De acordo com Jimenez, a Colgate-Palmolive promove treinamentos para todos os funcionários, contratados e visitantes a respeito do sistema de gestão de resíduos, além de realizar campanhas periódicas sobre o tema.
Outra frente identificada foi transformar o uso dos resíduos alimentares dos refeitórios em adubo, trabalho feito por empresa parceira, que é usado na horta (Veja a foto). Dessa forma, estimular a economia circular. Os próprios canteiros das hortas são feitos com materiais reciclados. As fábricas também deixaram de ter lixeiras individuais e concentraram o descarte em centrais de coleta seletiva nas áreas administrativas, onde o time de limpeza atua. Cada pessoa leva e separa seu próprio lixo.
Ao mesmo tempo, segundo o diretor, a companhia incentiva a reciclagem e o reúso com parceiros pequenos e locais, estimulando a geração de renda e emprego nos pequenos negócios. Um exemplo são os pedaços de madeira que uma empresa transforma em caixas de diversos tamanhos para serem usadas por outras companhias. “Além disso, em conjunto com a empresa que administra os restaurantes das unidades certificadas, a Colgate-Palmolive desenvolveu procedimentos e investiu em equipamentos que permitem a doação do excedente de produção de alimentos, apoiando uma iniciativa que transforma desperdício em benefício social. São algumas ações concretas que ilustram nosso engajamento nesse grande movimento de sustentabilidade”, finaliza Jimenez.
Fonte: Valor 08.05.2022