O que esperar das embalagens para um mundo mais sustentável
Em tempos onde o aquecimento global pode exterminar alguns povos e ecossistemas no planeta em que habitamos, precisamos como seres humanos, ter muito claro o que podemos fazer para eliminar, mitigar ou postergar ao máximo esse iminente risco que nos assombra.
Em dezembro último, ao final do COP 21, em Paris, 55 países que são responsáveis pela emissão de aproximadamente 55% das emissões globais de gases de efeito estufa chegaram a um acordo: se comprometeram a implementar ações efetivas que limitem o aquecimento global a 2 graus Celsius até 2100.
E qual o papel das embalagens nisso tudo? O que podemos fazer diferente?
Pois bem. Vale, no momento de criar e executar, ter a clareza de qual o impacto cada produto que conceituamos, viabilizamos, desenvolvemos, lançamos e compramos, tem na cadeia de abastecimento e em aspectos socioambientais no planeta em que vivemos.
Existe hoje à disposição uma grande diversidade de materiais e meios mais sustentáveis, com menor emissão de resíduos de embalagens e gases de efeito estufa no meio ambiente e, neste artigo, cito alguns que, na minha visão, podem trazer uma diferenciação mercadológica aos produtos cosméticos, além de auxiliarem significativamente nos aspectos ambiental e sustentável.
Um deles é o próprio papel cartão. A maioria das indústrias gráficas utilizam ou tem acesso a papéis com origem certificada. Ou seja, com origem de manejo garantido e oriundos de reflorestamento. O mesmo vemos em produtos que contém madeira, como por exemplo, os lápis de sobrancelha. O quanto isso hoje é reconhecido ou preferido pelas indústrias cosméticas é o ponto a ser avaliado e observado.
O polietileno oriundo de fontes renováveis também está disponível para utilização. Esse recurso tecnológico é bastante interessante por todo o benefício de captura de CO2 durante o processo de cultivo da cana de açúcar e, também, pela sua destinação após o uso ser a mesma do polietileno de origem fóssil, o que torna a opção de reciclagem e de reuso uma realidade.
Racionalizar dimensionais de uma embalagem primária ou secundária já com o intuito de aproveitar melhor as caixas de embarque, suas unitizações de transporte, seja em pallets ou os ainda não muito difundidos slip-sheets e extrapolando para o transporte nos caminhões, containers ou trens (esse último, em minha opinião, símbolo de racionalização de transporte em países desenvolvidos). É um dever e um ato de cidadania eliminar os desperdícios e as emissões de gases provenientes do transporte e distribuição dos produtos. Programas computacionais podem auxiliar de forma rápida e eficaz tais dimensionamentos.
Um frasco de vidro mais leve, com uma distribuição de massa eficaz, que permita uma decoração de acordo com o que se deseja transmitir traz uma percepção de diferenciação na utilização de recursos naturais aos consumidores.
Uma embalagem que permita seu reuso após o consumo, aumentando assim o ciclo de vida do produto, traz a percepção de superioridade de tal item. Seja ele um cartucho de papel ou uma lata de aço ou alumínio a qual, além de perpetuar a marca nos lares dos consumidores poderá dar uma sensação aos que consomem o produto de realmente estar contribuindo com a preservação do planeta, ainda que seja com um pequeno e singelo ato.
A proposta de valor de um produto deve ter total consonância com o valor percebido pelo consumidor, E esse valor percebido, cada vez mais, passa por uma proposta mais sustentável e pela destinação final de seus resíduos. A nova geração está muito atenta aos componentes da embalagem, seus selos de reciclabilidade e destinação. Ensina-se nas escolas, nos dias de hoje, a necessidade de separação do lixo, noções de ecologia, o valor da água e das reservas naturais. Como pais conscientes, temos o dever de reforçar essas lições em nossas casas e, dessa forma, auxiliar para que as próximas gerações possam desfrutar desse planeta maravilhoso no qual vivemos.
Rodrigo Madalosso Wielecosseles
Engenheiro Químico, especialista em desenvolvimento de embalagens e gerente de Desenvolvimento de Produtos no Grupo Boticário.