Filtros solares melhores para as pessoas e para o meio ambiente
Especialista em proteção solar da BASF falou sobre esse assunto, com exclusividade, com a equipe do Portal Cosmetic Innovation
O portal CI marcou presença na in-cosmetics Latin America, que aconteceu em São Paulo, no começo do mês, e aproveitou para, no estande da BASF, conversar com Marcel Schnyder, líder do centro técnico global da empresa para proteção solar. Durante a feira, o profissional ministrou a palestra: “Formulando com filtros UV de alta performance”, abordando, entre outros pontos, o desafio de criar formulações com FPS elevados, que atendam à legislação e tenham sensorial atraente. Confira a seguir a entrevista:
CI – Quais são os desafios da área de proteção solar?
MS: Os desafios em relação ao FPS são os mesmos globalmente. O Brasil é o único mercado no mundo que permite criar produtos com FPS até 99, uma vez que os demais mercados só permitem chegar até 50+. Quando se fala em proteção solar, considera-se a razão entre a proteção UVA e o FPS (proteção UVB). Hoje a legislação para essa razão está unificada entre a América Latina e as demais regiões. Do ponto de vista mercadológico, eu acredito que haja diferenças entre os mercados. Aqui (no Brasil) há mais umidade, o que aumenta a demanda por produtos e formulações mais leves, com sensorial mais seco, e que não brilhem na pele. E isso é um desafio, uma vez que os filtros solares são, em sua maioria, moléculas de natureza oleosa e que necessitam ser dissolvidas em meios oleosos para se formular. Especialmente em formulações com proteção solar elevada, é difícil conseguir o tão desejado sensorial seco. É exatamente por isso que estamos lançando o nosso novo produto: trata-se de um filtro solar UVB particulado, que é adicionado à fase aquosa das formulações.
Então podemos dizer que é mais desafiador formular filtros solares para a América Latina do que para as regiões ao norte do globo?
Sim, em relação à obtenção de um sensorial mais leve e seco. Podemos comparar o sensorial almejado pela América Latina às formulações asiáticas.
Com relação à criação de protetores solares de alta eficiência, o que traz mais resultado é o tipo de ingrediente ou a quantidade de ingrediente aplicado?
Há uma grande variedade de filtros UV no mercado, e cada um possui uma faixa de absorbância específica. Quanto mais eficiente é uma molécula de filtro solar, mais específica é a sua faixa de absorbância, e uma menor quantidade de filtros é necessária na formulação para se atingir uma mesma performance. Criar formulações de alta performance significa utilizar quantidades menores de filtros solares, com a mesma eficiência na proteção.
Quais soluções a BASF apresenta como inovação nesse segmento?
Em relação à proteção solar, o que estamos tentando fazer é desenvolver moléculas de alta eficácia, porém com baixo potencial de irritabilidade, e com um melhor posicionamento ambiental. É necessário pensar que, quando se consegue atingir a mesma performance utilizando-se uma quantidade menor de filtros solares, o impacto ambiental também é consideravelmente menor. Assim, usar produtos mais eficientes, em concentrações menores, é benéfico tanto para o ambiente quanto para a pele. Dessa forma, esse é o nosso objetivo. E “Sun Care” é a área da Cosmetologia que mais se aproxima da área Farmacêutica, portanto o balanço entre a eficácia dos produtos e os riscos para a saúde e o ambiente é fundamental.
Os filtros solares micronizados, como o apresentado pela BASF na feira, é uma tendência nessa área? Eles são melhores? Por quê?
Sim (risos), podemos dizer que eles são melhores porque oferecem a possibilidade de se formular de uma maneira diferente. Em uma emulsão, há a fase oleosa e a fase aquosa. Os filtros solares tradicionais são partículas oleosas, sendo, portanto, incorporadas à fase oleosa das formulações; filtros particulados, por sua vez, podem ser adicionados à fase aquosa das formulações, possibilitando uma redução da carga oleosa total (o que é muito importante para a obtenção de um sensorial final mais leve). Além disso, os filtros particulados não apenas absorvem a luz, como também são capazes de dispersá-la, o que gera um efeito “boosting” na função de proteção solar. O filtro micronizado acaba ajudando os demais filtros solares presentes na fórmula, uma vez que, na maioria dos casos, os produtos finais não são formulados exclusivamente com filtros micronizados, e sim com uma combinação entre vários filtros (exceto em aplicações específicas, como em produtos infantis). Todos os ingredientes possuem vantagens e desvantagens, e o segredo é saber combiná-los, de forma a otimizar seus efeitos positivos.
Pensando em produtos finais, mesmo que esse não seja o negócio da BASF, você pode nos ajudar a dar uma olhada para o futuro? Na sua opinião, o que deverá ou poderá se tornar tendência ou realidade em termos de aplicação/apresentação aqui na região da América Latina?
Sabemos que alguns ingredientes desaparecerão, pois já fazem parte de alguma discussão pública sobre seu comportamento toxicológico, como é o caso de alguns silicones, conservantes e de alguns filtros solares, por exemplo. A legislação para conservantes mudou drasticamente nos últimos anos, em um movimento que se iniciou na Europa e depois seguiu para muitos outros países. E essa “sequência” por outros países está se tornando cada vez mais rápida. Especificamente sobre proteção solar, acredito que haja uma tendência para maior performance ou FPS mais elevados, maiores números.
Fora dessa região, em outros lugares do mundo, há produtos bem diferentes do que temos por aqui que você conhece e poderia citar ou comentar?
O que podemos observar é que os grandes players mundiais de cosméticos geralmente levam tendências de um local (como a Ásia, por exemplo) para as demais regiões. E isso ocorre muito mais rapidamente hoje do que no passado. Na Ásia não existem protetores solares para uso na praia, uma vez que os asiáticos não têm o hábito de ir à praia. Os produtos de proteção solar na Ásia são para uso diário. E vemos que os requisitos mais elevados em termos de sensorial para protetores solares são os asiáticos. Hoje as inovações nessa área, frequentemente, são oriundas dessa região. E os outros países seguem tais tendências.
Há algum assunto ou ponto que não incluímos na entrevista, mas que você gostaria de acrescentar ou comentar?
Toda inovação precisa ser paga. Para o mercado poder trazer novas tecnologias, é necessário haver um pay-back, que vem através dos produtos finais, que são lançados e utilizados pelo consumidor. Se a inovação não for aplicada e comercializada, o ciclo não se fecha, não sendo possível o desenvolvimento de outras. Inovação significa a melhoria de um produto para o consumidor e para o ambiente. E esse é o nosso objetivo: melhorar nossos produtos para o consumidor e para o meio ambiente.