Ageless beauty: o movimento que está fazendo a indústria repensar o uso do termo anti-aging
Depois de uma autocrítica do mercado de beleza, o termo antienvelhecimento é ressignificado e a tendência de ageless beauty se fortalece
Não faz tanto tempo assim, apenas dois anos, que a mídia e a indústria de beleza começaram a repensar o conceito de anti-idade. A atriz inglesa Helen Mirren, na capa da edição de setembro de 2017 da revista Allure, aos seus 72 anos foi um marco dessa discussão. A publicação, inclusive, baniu o termo de suas páginas: a palavra dá a entender que se está batalhando contra a idade em vez de aceitá-la e celebrá-la.
O manifesto do título americano ganhou força rapidamente. Hoje já é natural dar de cara com uma mulher de 86 anos estrelando uma campanha de maquiagem – no caso, Joan Collins. E, se algum dia as atrizes de Hollywood tiveram “data de expiração” por conta de suas idades, Gwyneth Paltrow não deve se lembrar. Com quase 50 anos, ela não apenas segue protagonista das telas como se tornou referência de beleza. Gwyné o corpo e coração da plataforma (milionária) de wellness Goop.
O termo anti-aging morreu. E assim abriu espaço para novidades que não prometem lutar contra o tempo, mas melhorar a pele e nos ajudar a criar consciência quando o assunto é saúde da derme. Os antioxidantes, por exemplo, um clássico de qualquer antiga fórmula de anti-aging, continuam sendo hiperconsumidos, mas de maneira atual: aliados a ativos antipoluição. Afinal, aprendemos que fatores externos como ar, água e até os alimentos que consumimos estão mais tóxicos que nunca e, consequentemente, mais nocivos. Aplicativos e gadgets como o recém-lançado Fofo, da sueca Foreo, fazem parte da categoria healthy tech. Com sensores de ouro, o acessório faz uma leitura do rosto e acusa a sua “idade de pele” indicando a rotina de cuidados mais adequada.
Ao mesmo tempo em que recorremos à tecnologia, achamos auxílio em outro extremo para nos cuidar, com abordagem mais natural, que inclui terapias holísticas e hábitos alimentares limpos. A urgência na questão ambiental e a crescente preocupação coma saúde mental criaram mais consciência e uma predisposição à mudança de comportamento. Nesse contexto emergiu o slow beauty, movimento de consumo ético e sustentável, e tratamentos complementares se tornaram boas alternativas na busca de equilíbrio e rejuvenescimento. O mercado passou a investir no conceito de beleza de dentro para fora.
Recentemente um outro nicho de cosméticos, focado em mulheres na menopausa, começou a ascender. Trata-se de produtos pensados para alterações de pele associadas a cada etapa deste período: fórmulas que aliviam vermelhidão e acne, comuns na pré-menopausa; cremes poderosos para o ápice dessa fase, em que a pele resseca; e fórmulas que atenuam as rugas da pós-menopausa. Essa nova classe de cosméticos inclui também loções livres de estrogênio para diferentes áreas do corpo (de mãos e pés à vagina) e suplementos alimentares que aliviam efeitos colaterais como baixa libido e suor excessivo. Mais que só uma tendência de skin care, o nicho tem se fortalecido à base de dados. Segundo o New England Journal of Medicine, só nos Estados Unidos, até 2020 mais de 50 milhões de mulheres devem atingir os 51 anos, idade média da menopausa.
“Existe a necessidade de qualificar as pessoas por número. Não vejo problema em dizer quantos anos tenho, mas o que esse número diz sobre mim? Nada”, questiona a jornalista e apresentadora Fátima Bernardes, em evento organizado pela L’Oréal no Rio, em agosto passado. Cláudia Raia também apela para uma mudança de comportamento em torno do envelhecimento. “Precisamos parar de achar que uma mulher de 40 anos está morta. Não pode se casar de novo, não pode usar roupa curta… Eu, com 52, fiz e faço tudo isso”, diz a atriz.
Um estudo da Resolution Foundation, na Inglaterra, evidenciou que os níveis de felicidade durante a vida são maiores depois dos 50 anos. A modelo Lisa Graham é prova disso: “Eu mentia sobre a minha idade; e só parei agora. Ter orgulho desse número é incrível!”. Lisa ingressou na Premier Model Management de Londres, em 1985, numa época em que havia uma pressão enorme da indústria da moda por rostos superjovens. “Lembro de me sentir velha aos 19, no meu primeiro trabalho”, se recorda, aos 54. Já Ana Costa, modelo e publicitária de formação, considera o envelhecimento libertador: “O legal de ter 59 anos é que eu não me importo mais com o que dizem ou pensam sobre a minha aparência”.
Uma onda de procedimentos estéticos de efeito natural já substitui métodos clássicos que evidenciavam a tal “luta contra o tempo”. “Eu opto por tratamentos que me deixam com a minha cara, mas que estimulam o colágeno e melhoram a flacidez”, diz a modelo Maria Roberta. A diretora de arte e set designer Greta Cuneo, que também estrela esta matéria, conta: “Já fiz plástica nos olhos, mas não gosto de botox, por exemplo. É difícil envelhecer, mas perder a naturalidade não pode ser a resposta”.
Fonte: Vogue 28.10.19