Embora o claim de biodegradabilidade em produtos de personal care tenha registrado o expressivo crescimento de 134% entre 2016 e 2020, segundo a Mintel, o resultado ainda deixa muito a desejar em relação ao número total de lançamentos no mesmo período, considerando que, idealmente, deveria acompanhar o ritmo de outros apelos relacionados à sustentabilidade e à proteção ambiental.
Crescimento do claim de biodegradabilidade
Mais frequentemente encontrado em produtos enxaguáveis de higiene pessoal e de cuidados com os cabelos, o claim de biodegradabilidade ainda é pouco utilizado em cuidados com a pele, sendo mais comum em produtos de fotoproteção. A Mintel também aponta que na Europa, região que costuma ser referência global para o setor, esse apelo é mais popular. “Por experiência, acredito que o claim de biodegradabilidade deva se expandir para outras regiões, incluindo a América Latina”, aposta Luciana Ferra, coordenadora técnica de personal care da Gattefossé.
Luciana Ferra, coordenadora técnica de personal care da Gattefossé
Luciana lembra que a biodegradabilidade de ingredientes cosméticos não é um conceito novo, já que a regulamentação REACH exige, entre outros requisitos, o estudo da biodegradabilidade e ecotoxicidade para qualquer novo ingrediente cosmético. “Já a popularidade da abordagem da biodegradabilidade em relação às formulações é relativamente recente e bastante variável em todo o mundo, o que explica por que ainda não há uma regulamentação mundial sobre esse tema”, avalia.
Confusão com microplásticos
Além disso, Luciana chama a atenção para alguns ruídos em torno da biodegradabilidade. Em cosméticos, a discussão sobre biodegradabilidade teve início com os microplásticos, em particular, na questão de microesferas de polietileno utilizadas como esfoliantes.
Quanto ao uso de microplásticos já houve muitos avanços. Entre 2012 e 2019, diferentes ações vêm sendo implementadas para reduzir e controlar seu uso em produtos cosméticos. Luciana cita como exemplo a assinatura do acordo Microbead-Free Waters Act nos EUA, que baniu o uso de microesferas de plástico em cosméticos enxaguáveis em todo território norte-americano, em vigor desde 2018.
Somente em 2019, a agência ECHA (European Chemicals Agency) publicou a primeira versão do documento que restringe o uso de microplásticos adicionados intencionalmente em produtos – não apenas em cosméticos – e estabeleceu uma definição para microplásticos: polímeros sólidos com tamanho entre 100 nanômetros e 5 milímetros. “Hoje, a maioria dos fabricantes de cosméticos estão dispostos a substituir não apenas as microesferas de plásticos, mas todos os polímeros que podem classificados como microplásticos, ou percebidos pelo consumidor como tal, como silicones e derivados de PEG”, diz Luciana.
Biodegradabilidade que se mede
Por definição, biodegradabilidade é a capacidade de degradação biológica de materiais orgânicos por organismos vivos até as substâncias de base, como água, dióxido de carbono, elementos básicos e biomassa. “Vale ressaltar que apenas é possível avaliar a biodegradabilidade de substâncias orgânicas, aquelas que contêm carbono em sua composição”, explica Luciana, reforçando que matérias-primas inorgânicas, como óxidos de ferro, por exemplo, não são passíveis de serem biodegradadas.
A Gattefossé possui equipe multidisciplinar dedicada ao tema biodegradabilidade, composta por colaboradores das áreas de assuntos regulatórios, P&D, laboratório de aplicação e marketing. Desde 2020, a empresa tem realizado diferentes testes em formulações de protótipos, de suas matérias-primas e também em alguns componentes de seus ingredientes para entender melhor o comportamento de cada um em relação à biodegradabilidade. De acordo com Luciana, realizados em um laboratório externo especialista em biodegradabilidade, os testes de protótipos priorizaram a avaliação de formulações enxaguáveis e algumas de proteção solar.
Luciana explica que há duas maneiras de determinar a taxa de biodegradabilidade de um produto. Uma delas é calculando porcentagem de biodegradabilidade de cada um de seus componentes. Contudo, nem sempre essa informação está disponível para todos os componentes. Além disso, esse método de cálculo não considera as potenciais sinergias que existem entre as substâncias, o que pode influenciar em sua disponibilidade para as bactérias e, assim, alterar sua biodegradabilidade.
Reproduzindo o ambiente
A outra estratégia, considerada mais precisa e a adotada pela Gattefossé, é a realização de um ensaio de biodegradabilidade em condições bem definidas. Trata-se do método OECD 301, que simula como uma substância será degradada em estações de tratamento de águas residuais e na maioria dos compartimentos ambientais. “Podemos dizer que o ensaio reproduz como a substância será biodegradada antes que a água volte ao domínio público”, afirma Luciana, citando duas variações de ensaios por esse método: OECD 301B e OECD 301F. Ambos avaliam a biodegradação aeróbica, misturando a substância-teste a um inóculo bacteriano, meio mineral e água.
Enquanto o método OECD 301F mede a biodegradabilidade comparando, após 28 dias, o consumo de oxigênio com a demanda teórica de oxigênio para a mineralização completa da substância, o método OECD 301 B avalia a biodegradação do material pela evolução da formação de dióxido de carbono. Nos dois métodos, a substância é considerada “prontamente biodegradável” quando se atinge a taxa de pelo menos 60%, ao final do teste (28 dias).
A Gattefossé já realizou a avaliação de biodegradabilidade de vários de seus produtos, entre eles Acticire® MB, Compritol® 888 CG MB, Definicire®, Emulium® Dolcea MB, Emulium® Illustro e Plurol® Stearique MB. “Todos foram classificados como prontamente biodegradáveis”, afirma Luciana, que informa que os testes do Emulium® Kappa MB e Emulium® Mellifera MB também já estão em andamento.
Atributo chave
Um dos ingredientes que passou a fazer jus ao atributo de biodegradabilidade imediata é o Emulium® Dolcea MB, um emulsionante O/A livre de PEG de origem 100% natural. A Gattefossé realizou a avaliação da biodegradabilidade da matéria-prima por meio do método OECD 301F. Ao final dos 28 dias, 100% de Emulium® Dolcea MB foi biodegradado.
Avaliação de biodegradabilidade de Emulium® Dolcea MB
A Gattefossé também avaliou a biodegradabilidade de um creme hidratante para a pele formulado com 4% de Emulium® Dolcea MB pelo método OECD 301B. A formulação mostrou-se prontamente biodegradável, atingindo 97% de biodegradação ao final do teste. “A partir desse ensaio, é possível afirmar que Emulium® Dolcea MB é ideal para formulações naturais e biodegradáveis”, afirma Luciana.
Avaliação de biodegradabilidade de formulação com Emulium® Dolcea MB
A biodegradabilidade imediata se alia a outros benefícios de Emulium® Dolcea MB, segundo Luciana: “Com forte assinatura sensorial, Emulium® Dolcea MB proporciona extrema suavidade às emulsões cosméticas, além de ser fácil de formular e flexível, permitindo a criação desde texturas fluidas até manteigas espessas, com alto poder hidratante imediato e duradouro, trazendo funcionalidade e eficácia para uma ampla gama de aplicações”.
Avaliação em hair care
Considerando formulações de hair care, nas quais a biodegradabilidade é uma preocupação crescente entre os consumidores, Luciana destaca os resultados obtidos com o agente de textura biomimético Definicire®. Após avaliação pelo ensaio OECD 301F, os resultados mostraram que 95% de Definicire® foi biodegradado em apenas 28 dias. “Considerado um agente de textura ativo, Definicire® recria a camada lipídica protetora do cabelo, garante uma disciplina capilar perfeita em todos os climas e um toque macio e confortável”, destaca.
Avaliação de biodegradabilidade de Definicire®
Fundada em 1880, com sede em Saint-Priest (Lyon, França), a Gattefossé está presente em mais de 70 países, por meio de uma rede estabelecida de filiais e distribuidores. A empresa é especializada na criação, desenvolvimento, fabricação e comercialização de ingredientes especiais e soluções de formulações inovadoras para as indústrias de saúde e beleza em todo o mundo. A filial brasileira é responsável pelo suporte técnico e comercial a clientes e distribuidores da América do Sul e Central. No Brasil, o Grupo MCassab é o distribuidor de todos os ingredientes da Gattefossé para as indústrias cosméticas e farmacêuticas.