Boticário lança perfume feito com álcool do bagaço da cana-de-açúcar
Grupo Boticário quer liderar movimento sustentável no setor
O Grupo Boticário lançou na última semana dois perfumes que usam etanol de segunda geração em suas fórmulas. Com formulação igual ao álcool tradicional, o etanol celulósico é feito a partir da biomassa (bagaço da cana-de-açúcar e palha) que sobra da produção inicial de etanol.
De acordo com o grupo, em até cinco anos é possível que a maior parte dos produtos da empresa seja feita com álcool de segunda geração. A meta da empresa é liderar um movimento no setor.
“É o primeiro passo. Com a nossa alta demanda e se o restante do mercado seguir, acreditamos que o preço vai acabar sendo o mesmo que do álcool de primeira geração”, afirma Paulo Roseiro, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento do Grupo Boticário, do Boticário. Hoje o álcool ecológico é um pouco mais caro que o tradicional.
O ingrediente é produzido pela Raízen, que detém a patente para produzir álcool de segunda geração. “Aproveitamos a biomassa das nossas fazendas de cana. Temos a capacidade de gerar até 50% mais etanol da mesma área sem ter que aumentar o nosso footprint [pegadas]”, afirma Rodrigo Pacheco, gerente Industrial.
Pegada de carbono é o índice que mede o impacto que determinada atividade humana na natureza, a partir da quantidade de dióxido de carbono (CO2) emitido. Segundo Pacheco, a pegada do etanol celulósico é 35% menor que a do tradicional.
“Com isso, a gente precisa plantar menos, colher menos, transportar menos. É um ganho real no aumento da sustentabilidade”, afirma .
O etanol produzido a partir da biomassa não interfere no produto final, dado que sua fórmula é a mesma que o tradicional. Ainda assim, Pacheco afirma que é preciso haver um período para que as fábricas se adequem e substituam o álcool tradicional pela versão mais verde.
O etanol usado na indústria de biocombustível é o mesmo que vai para a perfumaria. A primeira safra de etanol celulósico produzida em 2014 pela Raízen encheu bombas de combustível de Piracicaba. Foi a primeira e única vez do produto em postos, desde então ele é exportado e usado como matéria-prima em diversas indústrias dos EUA e Europa.
A parceria com o Grupo Boticário visa abrir as portas do setor nacional de perfumaria e cosméticos.
Quando começou a ser produzido, há cerca de cinco anos, o etanol de segunda geração foi tido como o grande salvador para o setor de combustíveis alternativos. Sem atingir produções em escala industrial, muitas companhias no Brasil e no mundo desistiram dos projetos.
Segundo Pacheco, nas safras seguintes a Raízen optou por vender para quem pagava melhor —no caso, empresas fora do país. Por causa dos perfumes, esse ano pela primeira vez parte da produção ficará no país desde que foi lançado.
Entre 31 de março de 2017 a 31 de abril de 2018, a Raízen produziu 12 milhões de litros de etanol de segunda geração.
Fonte: Folha 13.04.2019