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Cosmetic Innovation - Know More. Create More.Destaque Empresas & Negócios EntrevistaEntrevista: Douglas Rocha, vice-presidente de Pesquisa e Inovação na L’Oréal EUA

Entrevista: Douglas Rocha, vice-presidente de Pesquisa e Inovação na L’Oréal EUA

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Aos 38 anos, o paulistano Douglas Rocha, engenheiro químico, está na terceira experiência internacional, à frente da Vice-Presidência de Pesquisa e Inovação/Avaliação da L’Oréal nos Estados Unidos.

O executivo contou em entrevista exclusiva ao Portal Cosmetic Innovation um pouco de sua trajetória profissional, dos desafios de trabalhar longe de seu país e da importância de Pesquisa & Desenvolvimento na criação de novas demandas.

Como foi esse processo até você assumir uma posição importante em outro país?

Esta na verdade é minha terceira experiência internacional. Eu iniciei minha carreira na Unilever, trabalhando com P&D para a Categoria de Lavanderia, quando ainda cursava a universidade. Apesar de na época ter sido uma rotina intensa de trabalho e estudos, me ajudou muito a ganhar anos de experiência e vivência, mesmo antes de formado e também utilizar na prática o que ia aprendendo em Engenharia Química. Logo que me formei, fui transferido para o Centro Global de P&D da Unilever em Port Sunlight, Reino Unido, inicialmente para um período de 6 meses mas que acabou se tornando uma expatriação de 4 anos. Durante essa época tive também a oportunidade de viajar praticamente para todos os Centros da Unilever no mundo e estar exposto a diversas nacionalidades, culturas e costumes diferentes.

Em 2012, aceitei uma oportunidade na Reckitt Benckiser Brasil. Trabalhei 2 anos em São Paulo, onde era responsável por P&D para as categorias de Home e Personal Care. Em 2014, assumi a liderança de P&D Regional para a Europa Central e Oriental, tendo vivido quase dois anos em Varsóvia e liderando os times de P&D baseados na Polônia, Alemanha e Rússia.

Em 2015, após 15 anos de experiência em Home e Personal Care, aceitei uma proposta da L’Oréal, no Rio de Janeiro, para liderar a equipe de Avaliação de Produtos no Centro de Pesquisas do Brasil. Paulistano que sou, no inicio me senti como numa expatriação, mas em pouco tempo simplesmente me apaixonei pelo Rio de Janeiro. Lá trabalhei durante 4 anos, tendo participado da construção e inauguração do belíssimo Centro de Pesquisas da Ilha do Bom Jesus, até ser transferido para os EUA, onde resido hoje.

Como você descreve essa experiência de trabalhar fora do seu país? Quais são os pontos positivos e negativos?

Acho que poucas experiências são tão engrandecedoras quanto trabalhar em outro país. Particularmente, sinto como se fosse ganhar 10 anos de experiência em apenas um ano, pois somos forçados a sair de nossa zona de conforto, entender e empatizar com diferentes pontos de vista, diferentes culturas, além, é claro, de influenciar essas culturas sobre seu próprio ponto de vista. Essa diversidade de pensamentos quando funciona devidamente é uma grande fonte de inovação.

Aprender a criar essa empatia e saber influenciar é fundamental. Do contrário, ao invés de se adaptar rapidamente às diferentes realidades, você passará sua experiência reclamando do inglês ser pontual e formal, do francês adorar debater ou do americano ser tão competitivo. Afinal, não existe certo ou errado. Esse aprendizado, aliás, me ajudou a me tornar um líder mais completo mesmo trabalhando no Brasil.

O ponto negativo com certeza é estar longe da família e amigos, porém hoje em dia, num mundo tão mais conectado, esse negativo é aliviado um pouco a com a ajuda da tecnologia.

Em que sua experiência no Brasil contribui em processos de inovação internacionais?

O Brasil é o quarto maior mercado de beleza no mundo e o país é estratégico para a L´Oréal, por isso temos um dos sete hubs de Pesquisa & Inovação do Grupo.

Tive a grande oportunidade de participar ativamente desde o começo da construção de nosso Centro de P&D no Rio de Janeiro, com uma infraestrutura de última geração e símbolo do nosso forte compromisso de longo prazo no mercado brasileiro – refletindo a confiança no grande potencial do país.

O país desempenha um papel fundamental no mercado de cosméticos devido ao seu tamanho, à sua diversidade étnica e cultural e à importância da beleza para os brasileiros.  No Brasil, a beleza não é uma característica superficial, mas um valor: é o fundamento essencial da autoconfiança; é um sinal de autoexpressão e de autoafirmação. No que diz respeito à beleza, as mulheres brasileiras estão, portanto, entre as mulheres mais exigentes do mundo! Em produtos de beleza, os consumidores são especialistas e a estratégia de P&D da L’Oréal é dar a eles uma voz ainda maior no processo de inovação.

O trabalho de P&D no Brasil traz um enorme aprendizado, dada a ampla diversidade existente e também ao fato das mulheres brasileiras serem particularmente exigentes, principalmente nos cuidados com os cabelos, na proteção solar e higiene pessoal. Decodificar e satisfazer as necessidades delas nessas categorias nos faz satisfazer praticamente qualquer consumidor no mundo.

Do ponto de vista cultural e de liderança, acho que ser brasileiro e ter esse nosso jeito de ser mais maleável, e principalmente humilde, sempre me ajudou muito na adaptação às diferentes culturas e a criar confiança – fundamental para uma função de liderança. Assumi cargos altos nesses diversos países, ainda jovem, tendo a responsabilidade de liderar times grandes com grandes cientistas, vindos de universidades de muito renome internacional.

Criar confiança, construir sentimento de time, promover a discussão e sempre aceitar ser desafiado em minha opinião é fundamental. Sempre peço e dou liberdade às pessoas do meu time para me questionar, me desafiar, e deixo muito claro que jamais vejo isso como desrespeito, mas como uma forma de crescermos juntos e, principalmente, de inovarmos juntos. Saber debater de forma construtiva é fundamental, sem necessidade de ficar fazendo demonstrações de poder.

Na sua experiência pessoal, quais peculiaridades, necessidades e diferenças você destacaria entre os consumidores brasileiros e os norte-americanos?

Apesar do grande crescimento anual da China, o mercado americano ainda é o maior para a L’Oréal globalmente. Logo, nosso portfolio de produtos aqui, em todas as divisões, é gigantesco. Em comum temos a grande diversidade e miscigenação da população, o que nos faz ter que atender uma ampla variedade de tipos de pele e cabelo.

Nos EUA, especificamente os mercados de maquiagem e cuidados com a pele são mais desenvolvidos do que no Brasil, e a penetração dessas categorias é bem maior aqui.

No Brasil, na categoria de cuidados para o cabelo, um fator que exige bastante atenção e desenvolvimentos específicos é a grande presença de tratamentos químicos feitos pelas consumidoras, bem como a vida na praia, especialmente em cidades como o Rio de Janeiro – que também torna muito importante toda a categoria de proteção solar.

Como você analisa a interação cada vez maior entre as áreas de desenvolvimento e de marketing em FMCG?

Acho essa interação extremamente benéfica, e sempre fui um grande entusiasta dessa proximidade, principalmente na geração de ideias para comunicação e claims. Afinal, ninguém melhor do que o próprio cientista para descrever a forma de ação e o beneficio entregue por uma inovação, de forma honesta e sincera, sem ludibriar os consumidores. Além disso, importante de forma a identificar prontamente necessidades de mercado e facilitar desenvolvimentos de forma ágil.

Porém, também ressalto a importância do trabalho, digamos, em separado. Num cenário onde falamos de inovações mais revolucionárias, muitas delas não serão ditas através de pesquisas de insights ou necessidades de consumidor. Vejo P&D com um papel superimportante em criar novas demandas, que os consumidores ainda nem sabem que existem. Nesses casos, vale um trabalho um pouco mais separado, de pesquisa mais avançada, com envolvimento posterior de marketing para contar a história dessa nova inovação.

Para o mercado cosmético acho isso fundamental, evitando comoditização.

Com o crescimento de abordagens cada vez mais científicas para o desenvolvimento de produtos de personal care, como microbioma e biotecnologia, como você avalia essa fronteira cada vez mais tênue entre as áreas cosmética e farmacêutica?  

Acho que é algo que realmente tende a aumentar a cada dia. A indústria cosmética hoje já é em muitos casos bastante similar à indústria farmacêutica. Empregamos muitos farmacêuticos em nossos times e realizamos testes de eficácia com protocolos muito similares. Existem também todos os aspectos funcionais de muitos de nossos produtos, como os cremes anti-idade, protetores solares e outros, que tornam nossas industrias bastante próximas, bem como vários canais de vendas e comercialização.

A evolução cientifica na área de Biotecnologia e Microbioma é também com certeza algo que estamos acompanhando e desenvolvendo há algum tempo. Já temos produtos como Genifique de Lancôme e Lipkar de La Roche-Posay desenvolvidos a partir da ciência do microbioma.

Na sua avaliação, quais os principais caminhos que a inovação em cosméticos deverá seguir nos próximos anos?

Vejo uma aproximação muito grande da indústria cosmética com a indústria de tecnologia. Afinal, hoje é muitíssimo importante a aparência no mundo virtual, selfies, etc. E temos que estar preparados para essas mudanças e tendências também.

A L’Oréal tem se mostrado muito ativa nessa área com diversas inovações como o UV Patch, um adesivo para pele que mede e monitora a exposição da pele aos raios ultravioletas, e também com diversos aplicativos lançados para auxiliar as consumidoras na escolha de maquiagem ou coloração para os cabelos. Sem contar na recente aquisição da ModiFace, uma líder global na área de realidade aumentada e inteligência artificial.

Como está o seu trabalho agora com a pandemia?  

Aqui nos EUA, trabalhando em home office já há 2 meses. Tenho mantido contato diário com meu time de liderança, e a cada duas semanas faço uma atualização via videoconferência com o time inteiro. Nos adaptamos até que bem, mas claro que nada ainda substitui o contato humano.

Temos que definitivamente aprender muito com todas essas mudanças, pois a forma de trabalho pós-pandemia com certeza não será igual à forma pré-pandemia.

Quais são suas perspectivas pessoais, econômicas ou de comportamento do consumidor em relação ao futuro, considerando os impactos da pandemia? 

Todos nós temos que aprender muito com a pandemia e nos adaptar rapidamente. Ainda é cedo para prever como será o futuro, mas com certeza haverá diversas mudanças de hábitos e as empresas que continuarão na liderança serão aquelas que mais rapidamente aprenderem com tudo. A fase que vivemos hoje é daquelas que mudam totalmente alguns costumes, algumas atitudes, assim como foi, por exemplo, o 11 de Setembro. Alguém consegue imaginar hoje embarcar num avião sem ser revistado? Talvez em 10 anos, olharemos para trás e acharemos estranha uma época em que não usávamos máscaras nas ruas – e o impacto disso para categorias como, por exemplo, maquiagem será enorme.

Que conselhos você poderia dar para profissionais de pesquisa, desenvolvimento e inovação em produtos de FMCG para acelerar a carreira?

Acho que o principal – e isso vale para qualquer carreira – é faça algo que você gosta. Se se seu emprego não é ainda aquilo que você tanto sonhou, encontre prazer naquilo que você faz, ou então, assim que possível, busque outra coisa. Quando você faz algo com paixão, todo o restante vira uma mera consequência, pois essa paixão é “contagiosa”, inspira e transmite confiança.

Seja empático. Tenha em mente que sempre a mesma historia possui duas versões e é fundamental sempre se colocar em ambas as perspectivas para criar uma posição bem pensada. Isso é fundamental em inovação e em qualquer carreira.

Sempre se desafie, nunca se contente com o status atual. Se você chegou à sua zona de conforto, procure alguém que te desafie, que te inspire, que discorde de você, pois isso sempre fará você subir de nível. Essa é uma característica que trago comigo do esporte e que, sem duvida, serve todos os dias na vida pessoal e profissional também.

Tem algo mais a acrescentar?   

Talvez um complemento para a questão anterior. Sempre pratiquei esportes e já faz alguns anos pratico Triathlon, especificamente distância Ironman. Isso me demanda muitas vezes 20 horas de treino semanais, o que muita gente acha impossível, mas como eu disse acima, se você faz algo por gosto, tempo nunca será um problema.

Quando fiz o primeiro, queria apenas terminar, mas gostei tanto que quis repetir e melhorar e, para isso, sempre fui buscando pessoas que eram melhores do que eu. Isso me motiva a me desafiar, de forma saudável a, pelo menos, chegar ao mesmo nível delas, e me inspira.

E esse pensamento vale muito na construção de nossa carreira também.

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