Essa tal de Epigenética… afinal, o que é isso?
Atualmente, muitas empresas e profissionais da área de saúde e beleza vêm utilizando este termo, como o “futuro” dos cosméticos. Mas, afinal, o que é essa tal de Epigenética? Será que ela tem mesmo o poder de revolucionar a Cosmetologia?
Os produtos para a pele sempre foram impulsionados pela química. Formuladores são, nada mais, nada menos do que químicos que conhecem princípios ativos e texturas e conseguem, assim, transformar uma poção em uma loção. Hoje, porém, estamos à beira de uma mudança muito mais profunda – a área de skincare vai ser cada vez mais conduzida pela biologia. Especificamente, uma compreensão mais profunda da genética será capaz de dizer o que há no seu armário do banheiro. Há alguns que acreditam que isso irá revolucionar a indústria da beleza com tratamentos personalizados, capazes de realizar suas funções em dias, e não mais em meses.
Parece um assunto muito interessante, mas serão mesmo descobertas científicas ou somente ficção?
Todas as células do nosso corpo possuem o mesmo genoma, ou seja, o mesmo código genético. Porém, diferentes genes são ativados ou desativados em momentos distintos. E isso pode acontecer como resultado de efeitos externos ou ambientais. É aí que a ciência da Epigenética entra. A Epigenética descreve a reprogramação fisiológica que ocorre na célula sem que a sequência do seu DNA seja alterada. Claramente, os cientistas estão muito interessados nos efeitos da Epigenética sobre o envelhecimento, uma vez que, teoricamente, torna-se possível alterar ou retardar a sua velocidade. Felizmente, a pele é um órgão facilmente estudado, uma vez que é grande e visível, e por isso está recebendo uma boa dose de atenção dos epigeneticistas.
Exemplos de estudos muito óbvios seriam o bronzeamento da pele ou as consequências do hábito de fumar. É sabido que essas atividades originam rugas, mas o que está se compreendendo agora é que esses hábitos também afetam nossos genes. E esses efeitos são intergeracionais, ou seja, podem ser transmitidos para as gerações futuras. Nos testes, ratos que foram alimentados com uma dieta pobre em ácido fólico durante a gestação tiveram a expressão do gene responsável pela cor dos pelos de sua prole alterada permanentemente – neste caso, a alteração foi de pelos negros para pelos claros – em todas as suas gerações futuras.
Testes genéticos estão mostrando aos pesquisadores diferenças na forma como os genes são expressos em peles mais jovens e mais velhas, e como certos ingredientes podem afetar esses genes (fonte: https://www.aad.org/media/news-releases/understanding-the-science-of-good-genes-could-lead-to-better-skin-care-products-recommendations).
Genes fazem proteínas e são as proteínas que permitem a comunicação entre as células. É por isso que os peptídeos, que são seqüências de proteínas, foram uma inovação tão útil para a pele (e os cabelos). Nada acontece em uma célula sem o envolvimento de um gene. No entanto, os genes precisam de um direcionamento; é aí que o epigenoma entra, para direcionar os genes das células da pele, sem alterar o DNA. Há, somente como curiosidade, 40 genes de colágeno, 200 genes de antioxidantes, 700 genes de hidratação, entre muitos outros. Há um gene chamado NFR2, que é importante para a longevidade e para combater a inflamação.
De acordo com a Dra. Rebecca Gadberry (pesquisadora da UCLA e especialista em Biologia Celular e Molecular), alguns ativos para a pele podem direcionar os genes nas células da pele. Até agora, entretanto, atingir o seu alvo específico tem sido uma missão um tanto quanto aleatória. Uma maior compreensão dos genes e da Epigenética conduzirá a uma maior precisão e eficácia destes métodos.
Alguns dos ativos que a Dra. Gadberry menciona são a astaxantina (um antioxidante que dá ao salmão sua cor averemelhada), a superóxido dismutase (que protege as células contra a toxicidade dos radicais livres), sulforofano (presente em folhas verdes), e certos peptídeos.
As aquaporinas, proteínas na membrana da célula que regulam o fluxo de água, estão sendo pesquisadas atualmente, a fim de se compreender como ingredientes cosmecêuticos podem beneficiar a pele. Elas cobrem as paredes das células, permitindo que a água flua para dentro e para fora da mesma – em um mecanismo muito parecido com um bico de água. E, apesar de parecer improvável, a boa e velha glicerina, um ingrediente hidratante tão comum, foi eleita para o estudo de sua interação com as aquaporinas.
Ao mesmo tempo, algumas das grandes marcas de beleza têm aproveitado seus poderosos departamentos de P&D para mergulharem no movimento da Epigenética. Infelizmente, as formulações finais não sobrevivem até as campanhas publicitárias de mercado. A Estée Lauder entrou na briga com a sua linha Re-Nutriv Ultimate Lift Age Correcting, com a frase “inspirada no campo da Epigenética”. A linha Clinique Smart também homenageia a Epigenética. Os produtos da DNA HAVVN, por sua vez, citam “A Ciência da Epigenética nos Cuidados com a Pele”, mas, em geral, essas referências são vagas em detalhes e não parecem ser os destaques óbvios entre os ingredientes, em sua maioria botânicos.
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