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Filtro solar: Cosmético ou remédio?

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Marcas descoladas têm investido no item que, antes, era exclusivo das farmácias, mas que, agora, tem ganhado cada vez mais versões pop no mercado de beleza.

Antigamente, o protetor solar estava restrito aos dias de praia e de piscina. Os tubos brancos, com motivos praianos e com uma cara de verão, ficavam em uma parte específica da farmácia e lembrávamos deles apenas quando íamos curtir as férias, com medo das queimaduras de sol. Mas, com a popularização da rotina de cuidados com a pele do rosto e o avanço de pesquisas sobre os efeitos da exposição ao sol, o protetor deixou a sacola de praia entrou na nossa nécessaire de produtos faciais e ocupou um espaço importante na nossa penteadeira de maquiagem. E o mercado de beauté não dormiu no ponto e conseguiu, com o passar do tempo, transformar o item em um hit pop.

Antes do filtro ser tendência de skincare, os protetores faciais mais conhecidos eram de marcas como Vichy, La Roche-Posay e Avène. O design das embalagens são muito semelhantes a de medicamentos e elas estão, quase sempre, presentes nas prateleiras das farmácias, muito longe dos itens de beleza. Não à toa, eles se autointitulam “dermocosméticos”.

Em 2019, Sallve surgiu com uma pegada diferente: bombou nas redes sociais muito antes de ter um produto a ser vendido, com suas imagens com estética moderna e “instagramável”. Assim, quando disponibilizou um hidratante com vitamina C, não era só necessário como descolado tê-lo na rotina de beleza. Dois anos depois, a marca lançou limpador, um tônico, um sérum e, em junho, incluiu um protetor solar de fator 50 em seu catálogo. O item deixou os aficionados de beleza felizes por unir design a um FPS elevado. “Foi o item mais pedido desde o lançamento da marca”, comenta a COO Julia Petit.

Os pedidos dos clientes da Sallve não são à toa. O Brasil é o terceiro maior mercado do mundo de protetores solares, valendo US$ 536 milhões, ficando atrás somente dos EUA (US$ 1,5 bilhão) e China (US$ 1,25 bilhão). Em 2018, o relatório “Bronzeadores e Protetores Solares no Brasil”, da consultoria Mintel, mostrou que 28% dos brasileiros se interessam por filtros que protegem a pele das luzes visíveis.

O interesse por esse tipo de produto se dá por conta do aumento de pesquisas relacionando a exposição ao sol a casos de câncer de pele. A Fundação do Câncer de Pele diz que o uso diário de um filtro de pelo menos fator 15 diminui em 40% o risco de desenvolvimento de carcinomas e 50% de melanomas. O protetor FPS 30 protege, por sua vez, a pele de 97% dos raios UVB que causam queimadura de sol.

Mas, além de ser bom para saúde, o protetor tem um papel tão importante quanto qualquer tratamento cosmético. Ele é a última e mais importante etapa do skincare diário. “Na minha opinião, ele é o creme anti-envelhecimento mais importante”, afirma Daniel Cassiano. Nós já conhecemos bem os raios ultravioletas B, o UVB. Porém, há, também, os raios ultravioletas A, conhecidos como UVA, que causam o envelhecimento precoce da pele. Eles atuam sobre a derme e a hipoderme durante todo o tempo em que há claridade. E, ao penetrar as camadas mais profundas da pele, o UVA leva à formação de rugas, flacidez, manchas e ressecamento.

Assim, para evitar o aparecimento de sinais de envelhecimento, é importante que o produto seja de amplo espectro. “Que vai proteger tanto contra a UVB quanto contra a UVA. É preciso procurar um produto que tenha ambos os fatores altos para uma maior proteção”, diz Cassiano. No Brasil, felizmente, protetores com FPS alto também têm proteção contra UVA.

FILTRO DE BELEZA

Mas, mais do que proteção, os consumidores procuram por filtros que também atendam outras demandas de tratamento. A pesquisa da Mintel relatou, por exemplo, que 61% dos consumidores brasileiros buscam por protetores que também ofereçam hidratação à pele, e 51% procuram produtos que sejam resistentes ao suor.

Diante dessas demandas do mercado, os protetores solares que têm chegado ao mercado procuram oferecer uma experiência cosmética melhor. Ou seja, que não brigue com a maquiagem, não mude a tonalidade da pele e que interaja com outros produtos usados diariamente. “O nosso filtro foi o produto que levou mais tempo para ser desenvolvido”, afirma Petit. “Queríamos entregar um protetor com alto fator de proteção que não esbranquiçasse a pele negra, assim como um produtor de textura leve, que proporciona uma boa experiência”.

Outra marca queridinha dos consumidores de conteúdo de beleza, a Biossance já tinha um protetor solar no catálogo, mas reformulou sua versão do produto com zinco para que ele também ficasse transparente ao ser aplicado. “Ideal para a cidade, perfeito para todos os tons de pele, já que é hidratante e também calmante”, explica Ana Lia, gerente sênior global de educação da Biossance. A tendência da beleza limpa, que não seja agressiva para a pele nem para o meio ambiente, também tem interferido no desenvolvimento dos novos filtros. Esta foi uma preocupação da Biossance, que diz que o seu lançamento é seguro para o oceano e corais, não interferindo no equilíbrio dos biomas.

A diferença entre a Vichy e a Sallve, La Roche-Posay e Biossance não param no design de seus produtos, mas também chegam na forma que elas chegam aos consumidores. Em vez de pagar “publis” nos perfis de Instagram bombados, as marcas tradicionais procuram convencer os especialistas. “Estes fabricantes apresentam os estudos clínicos para os dermatologistas, porque eles querem que esses protetores sejam prescritos por eles”, revela Cassiano. É uma dinâmica semelhante aos de medicamentos, em que os laboratórios mostram a efetividade de seus produtos para médicos para, assim, convencê-los a receitá-los para pacientes.

Porém, por mais que estas marcas ainda joguem o jogo farmacêutico tradicional, a Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) considera o protetor solar um dermocosmético, assim como os cremes hidratantes e os esfoliantes. E, por terem passado pelos mesmos testes da agência reguladora, não há qualquer evidência de que o protetor solar de uma marca tradicional seja mais eficaz do que o de uma nova fabricante. “Todos eles são, rigorosamente, seguros”, reforça Cassiano. “Eles só atendem tipos de consumidores diferentes.”

 

 

 

 

 

Fonte: Elle 26.07.2021

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