Google terá ferramenta para doenças da pele
Sistema à base de inteligência artificial (IA) pode ajudar o consumidor a autodiagnosticar centenas de doenças de pele
O Google está dando um dos passos mais significativos já empreendidos por uma grande empresa de tecnologia, ao entrar no campo da saúde. Lançou nesta semana uma ferramenta à base de inteligência artificial (IA) que ajudará o consumidor a autodiagnosticar centenas de doenças de pele.
O Derm Assist é o primeiro dispositivo do gênero e será lançado na Europa neste ano antes de ser canalizado para uma população mundial de quase 2 bilhões de pessoas que sofrem de doenças de pele, desde acne até melanoma.
Os usuários terão de entrar em suas contas do Google, enviar imagens de seu estado clínico por meio do site Derm Assist e responder a perguntas sobre seus sintomas. Em seguida, um modelo de IA analisa a informação e gera uma lista de possíveis doenças ligadas às imagens. O serviço será gratuito a todos os usuários do Google.
“A ferramenta não pretende fornecer um diagnóstico…em vez disso, esperamos que lhe dê acesso a informações confiáveis para que você possa tomar uma decisão mais embasada sobre seu próximo passo”, disse o Google.
O lançamento segue-se a três anos de desenvolvimento na empresa, que há muito encara a área de saúde como um mercado maduro para ser desestabilizado pela inteligência artificial avançada. Ocorre num momento em que as concorrentes Apple, Amazon e Microsoft também tentam entrar nesse espaço potencialmente lucrativo, ao montar serviços na área de saúde para consumidores, médicos e empresas farmacêuticas.
O Google optou pela dermatologia como seu primeiro alvo para um serviço de assistência médica devido ao enorme número de pessoas afetadas por doenças de pele. Todos os anos são feitas cerca de 10 bilhões de buscas no Google sobre problemas de pele, unhas e cabelos. Estudos mostraram que as pessoas apenas se autodiagnosticam corretamente em 13% das vezes, disse a gigante do setor de buscas.
“Como categoria, as doenças de pele são um fardo mundial enorme – as pessoas estão recorrendo ao Google para pesquisar suas preocupações com a pele. A maioria dos casos é curável, mas metade da população mundial enfrenta uma escassez drástica de dermatologistas”, disse a doutora Peggy Bui, gerente de produto da Google Health e especialista em medicina interna da Universidade da Califórnia, em San Francisco.
O sistema Derm Assist trabalha com um banco de dados de 16 mil casos dermatológicos do mundo real. De acordo com um estudo do ano passado, a ferramenta consegue identificar doenças de pele com a mesma precisão que dermatologistas credenciados pelo Conselho de Dermatologia.
Parte das informações fornecidas aos usuários é avaliada por dermatologistas humanos. Se um usuário mencionar quaisquer sintomas alarmantes, como dificuldade para respirar, alertas adicionais o orientam a procurar um médico imediatamente.
Estudo publicado na JAMA Network Open detectou que a ferramenta de IA melhorou significativamente a precisão do diagnóstico de não especialistas, como clínicos-gerais e enfermeiras hospitalares, que a empregaram para ajudá-los a diagnosticar doenças de pele.
“Nossas observações sugerem que a IA tem o potencial de aumentar a capacidade de [clínicos gerais e enfermeiras]… diagnosticarem e fazerem a triagem de doenças de pele com mais eficiência”, escreveu a autora do estudo, Yuan Liu, e sua equipe no estudo revisado por pares.
Eric Topol, professor de medicina molecular do Scripps Research Institute, e um especialista em IA e assistência médica, disse: “Isso certamente aconteceria em algum momento, já que foi o primeiro caso de uso de IA com aprendizagem profunda em medicina com alguma validade em 2017”.
Para evitar a não detecção de casos de câncer de pele por meio de falsas negativas, o algoritmo foi criado para ser cauteloso em sua tomada de decisões. “Quando projetamos isso, dissemos que queremos otimizar para alta sensibilidade, especialmente para doenças alarmantes ou assustadoras”, disse a dra. Bui.
Para contemplar preocupações de privacidade com relação aos dados do usuário, o Google disse que não vai usar imagens fornecidas para dirigir anúncios, e que só salvará as imagens a fim de munir o algoritmo do Derm Assist com instruções adicionais, caso o usuário dê permissão explícita para isso.
“Os usuários têm controle sobre seus dados com a opção de salvar, apagar ou doar dados para pesquisa”, disse a dra. Bui. “Esperamos estimular a doação, uma vez que os algoritmos só alcançam o nível dos dados com que foram instruídos…Vamos continuar a melhorar o modelo por meio da obtenção de outros conjuntos de dados de outras fontes, além dos dados doados.”
Fonte: Valor Econômico 20.05.2021