Ingredientes são as estrelas da beleza limpa

Origem, transparência, sustentabilidade e saúde prevalecerão cada vez mais nas escolhas dos consumidores
Por Estela Mendonça
A previsão da Future Market Insights é que o mercado global de cosméticos naturais feche 2019 com vendas de US$ 36 bilhões e alcance a marca de US$ 54 bilhões até 2027, com uma elevação anual de 5,2% durante esse período. Para a empresa de pesquisa londrina, esse boom é baseado principalmente na mudança da percepção dos consumidores em relação aos ingredientes naturais em seus cosméticos.
Segundo a FMI, o crescimento será impulsionado pela expansão dos canais de distribuição, o aumento do alcance do cliente online e a aposta de grandes varejistas em disponibilizar produtos de higiene pessoal premium nas prateleiras. “Além disso, o desenvolvimento de novos produtos, propagandas e o aumento da capacidade de gastos dos consumidores em produtos premium são fatores primordiais que impulsionarão o crescimento global do mercado de produtos naturais e orgânicos para produtos de higiene pessoal”, diz o relatório.
Skincare manterá no período o maior faturamento, seguido de perto pelos cuidados com os cabelos. “Isso significa que os produtos de cuidados com a pele e os de cuidados com os cabelos naturais e orgânicos responderão pela metade do mercado total de beleza natural e orgânica”, aposta a empresa. O desempenho é atribuído à demanda por produtos de rótulo limpo, juntamente com o aumento do número de consumidores preocupados com a saúde em todo o mundo.
Crescimento acima da média
Os dados da Nielsen também mostram que as marcas consideradas limpas em relação aos ingredientes cresceram 4,2%, comparadas àquelas sem esse apelo, que aumentaram 2,6% em 2018. Já as marcas sustentáveis superaram todas, expandindo 5,8% no ano passado, segundo o estudo.
De acordo a Mintel, 44% dos consumidores de produtos naturais e orgânicos dos Estados Unidos dizem que vivem de forma sustentável. “Os consumidores tendem a desejar mais a sustentabilidade nas formulações, o que tem um impacto relativamente limitado nas pegadas de carbono em comparação com processos, uso do consumidor e descarte de produtos. É notável, então, que embalagens sustentáveis e negócios éticos e sustentáveis estejam nas mentes dos consumidores”.
Beleza azul
Um estudo da NPD observou que muitas marcas adotaram práticas ecológicas que se concentram em limitar os danos às pessoas e ao planeta, ao mesmo tempo em que oferecem transparência em torno de ingredientes e práticas comerciais. Entretanto, uma parte dessas marcas evoluiu ainda mais, avançando para o que é conhecido como Blue Beauty, que visa evitar danos e, ao mesmo tempo, considerar ou desfazer danos do passado.
“As marcas de beleza não podem ignorar as megatendências, como a vida ética, a vida saudável, os consumidores conectados e o multiculturalismo, que continuarão a gerar mudanças nos valores do consumidor. As marcas devem perceber essas mudanças não como ameaças, mas como oportunidades para alcançar e encantar novos e atuais públicos. Esses valores inconstantes dão às marcas já estabelecidas e emergentes oportunidades de se apresentar como um amigo com um propósito claro e uma história que transcende seus produtos nas mentes dos consumidores”, disse em artigo Kayla Villena, analista sênior da Euromonitor International.
Foco nos ingredientes
Este ano, no encontro Talk Science, que aconteceu na FCE Cosmetique, realizada em maio em São Paulo, a analista da Factor Kline, Juliana Bondança, reforçou a importância que os ingredientes cosméticos vêm assumindo para dar base a outras inovações do setor. “O que percebemos no último ano foi uma maior demanda do P&D pelo setor de ingredientes para cosméticos, e como ele está moldando esse mercado. Vivemos uma era de minimalismo. Por isso, as pessoas buscam ingredientes mais funcionais e a eliminação daquele rótulo repleto de fórmulas que não se sabe a origem; as pessoas querem saber o que estão consumindo”, explica Juliana.
Com a incontestável maior participação dos fornecedores de ingredientes nas estratégias das marcas, eles estão cada vez mais envolvidos em desenhar soluções para apressar a entrada dos players de cosméticos nessa que talvez seja a maior transformação no mercado de beleza do século.
Contribuindo com o engajamento
Um exemplo desse empenho dos fornecedores de matérias-primas para acelerar o engajamento das marcas é a iniciativa Natural 4 Life da Embacaps, que atua na distribuição de especialidades químicas em todo o território nacional, oferecendo um amplo portfólio de ingredientes cosméticos. O conceito foi lançado na FCE Cosmetique e apresenta formulações que seguem os conceitos vegan, clean beauty, natural, organic e green. “São produtos capazes de oferecer soluções eficazes para as pessoas que clamam por cosméticos sustentáveis, que respeitam a natureza e a vida”, explica Fabiana Smaniotto Krolikowski, gerente de marketing técnico da Embacaps.

“Depois de uma década de excessos, o natural surge como uma redenção”
“Do fim dos anos 90 para cá, vivemos a era da intensidade. As pessoas só se interessavam pelo que fosse mega, ultra, hiper ou power. Nesse contexto, aquela máxima que a gente cresceu ouvindo cabe como uma luva: ‘tudo que é demais faz mal’. Depois de mais de uma década de excessos, os sinais nocivos começam a aparecer e o natural surge como uma redenção, uma tendência de comportamento que cresce e dá início a um período de ruptura”, contextualiza.
Por que Natural 4 Life
O conceito Natural 4 Life, segundo Fabiana, baseou-se na representação das forças naturais de seus quatro elementos principais: ar, água, fogo e terra. “Eles são marcantes e essenciais às diferentes formulações e se encontram amplamente difundidos por tudo que existe no planeta Terra. É o equilíbrio perfeito”, justifica.

Conceito Natural 4 Life baseou-se nos elementos ar, água, terra e fogo
O material de divulgação traz as definições atualmente utilizadas para cosméticos que seguem os claims apresentados. De acordo com a peça, vegan compreende os cosméticos isentos de ingredientes de origem animal e que não foram testados em animais. Já os que se enquadram com clean beauty, são os desenvolvidos e produzidos sem quaisquer ingredientes tóxicos comprovados ou suspeitos, não necessariamente de origem natural, mas que prezam pela transparência.
Na definição de natural, de acordo com a referência COSMOS, são cosméticos formulados com ingredientes de origem natural, presentes na lista positiva. Classificados como % green são os que contêm no mínimo 50% de composição de origem natural, seguindo a naturalidade definida pela ISO 16128. Por fim, organic, que também se baseia no referencial COSMOS, incluem os produtos formulados com ingredientes certificados, que devem possuir 95% de matérias-primas orgânicas fisicamente processadas e que só podem conter os ingredientes sintéticos que estejam presentes na lista positiva e 20% do total da fórmula deve ser orgânica.
Primeira etapa
As formulações que exploram os elementos água e ar foram apresentadas na FCE Cosmetique. Já os elementos fogo e terra serão abordados no segundo semestre, na in-cosmetics Latin America.

Formulações apresentadas pela Embacaps na FCE Cosmetique, seguindo o conceito Natural 4Life
Comments are closed.