Mercado de beleza aposta em diminuição do plástico nos produtos para acelerar agenda ESG
Faber-Castell Cosmetics anunciou nesta sexta-feira, 01º, parceria com Suzano e Grupo Boticário para produzir tampas dos lápis de maquiagem com material biodegradável
O mercado de beleza registrou no Brasil, no primeiro quadrimestre de 2023, um aumento de 30,9% de procura em relação a 2022, movimentando US$29,2 milhões (cerca de R$147 milhões) entre janeiro e abril, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). A expectativa é que o setor cresça R$ 23 bilhões até 2027 no País, assumindo um papel de destaque ainda maior na economia brasileira.
No entanto, esse mercado é também considerado um dos mais poluentes. O Brasil é o quarto país do mundo entre os que geram mais lixo plástico, segundo o Fundo Mundial para a Natureza (WWF).
Estima-se que a indústria de cosméticos use, no mínimo, 10 mil produtos químicos de difícil decomposição com alto potencial de poluição da água e do solo. Além disso, o uso de químicos tóxicos como os parabenos, os plastificantes, o BHA, o formaldeído e os pesticidas também é frequente na fabricação de muitos cosméticos.
Seguindo a agenda ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança), diversas empresas têm apostado no conceito de clean beauty (beleza limpa, em livre tradução), movimento que abarca produtos livres de ingredientes controversos, que podem causar algum tipo de dano à pele, ao organismo ou ao meio ambiente.
Neste sentido, startups estão sendo criadas com o intuito de trazer este conceito desde o seu nascimento, enquanto outras têm realizado mudanças mais recentes, alterando a composição de produtos, embalagens e até mesmo o conceito de marca.
A Faber-Castell Cosmetics, divisão da multinacional de EcoLápis voltada para a terceirização de produtos de maquiagens para abastecer grandes marcas, anunciou ao Estadão que ampliou sua agenda de sustentabilidade nos produtos visando diminuir o uso de plástico em parceria com a Suzano e o Grupo Boticário.
Com a parceria, que já vinha sendo desenvolvida pelas empresas em sigilo, as tampas dos lápis de maquiagem da empresa serão produzidas totalmente livres de plástico com o uso do papel Loop+, material biodegradável 100% brasileiro feito pela Suzano. Segundo a companhia, esta é a primeira tampa deste modelo a ser produzida no País.
O ‘braço’ de cosméticos da Faber-Castell ainda usa madeira de reflorestamento no “corpo” dos seus produtos, visando tornar o produto sustentável desde o seu conteúdo até a sua embalagem. A primeira marca a usar oficialmente essa solução foi o Grupo Boticário, com o delineador de olhos da linha Intense, já disponível para compra no mercado.
Uma nova marca que também tem apostado na sustentabilidade é a vegana Creamy. Ao Estadão, ela afirmou ter diminuído em 75% o plástico usado em seu portóflio com o lançamento de produtos em refis.
Neste primeiro momento, cinco produtos do seu portfólio foram contemplados com a mudança: retinol, vitamina C e os ácidos mandélico, glicólico e lático. Segundo a marca, a iniciativa visa também democratizar o acesso aos produtos, considerando que o consumidor terá 15% de desconto comprando o refil.
“A estratégia de permitir que os consumidores utilizem embalagens de produtos essenciais, aliada a um desconto significativo, incentiva a adoção de hábitos mais sustentáveis de maneira acessível, integrando a missão ambiental à experiência do consumidor”, afirma o diretor de produtos da Creamy, Luiz Romancini.
A Vult também tem apostado na sustentabilidade reformulando alguns de seus produtos e embalagens. Nas ações, estão englobadas a redução de plástico, de resíduos plásticos e o uso de brilho nas maquiagens sem o uso de plástico, por exemplo.
Outro exemplo é a Natura, que tem como um dos principais conceitos a sustentabilidade. Nesta semana, a marca lançou o primeiro hidratante concentrado para o corpo do mundo. Ele possui 81% menos plástico que o refil convencional e é envasado em frasco refilável, feito 100% com plástico retirado dos rios amazônicos.
Impacto das mudanças
Para Patrícia Lima, CEO da Simple Organic, uma das primeiras marcas a nascerem com o conceito de clean beauty no Brasil, houve uma mudança de posicionamento de muitas marcas nos últimos anos, mas, para ela, falta celeridade para o mercado deixar de ser poluente.
“Essa mudança das indústrias deveria ser mais rápida, mas elas só mudam na hora que elas veem o consumidor cobrando lá na ponta, porque o consumidor não compra mais. O que falta para uma mudança é informação. O cliente muitas vezes nem sabe quais são os ativos prejudiciais”, afirma.
Patrícia, que estará na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-28) falando sobre o conceito de beleza limpa, afirma que muitas marcas vendem imagens que não são verdadeiras com os seus produtos.
“A indústria está mudando, de fato? Falam que o nosso discurso de beleza é terrorista quando falamos dos perigos de passar petróleo no corpo, que está presente em vários produtos. Tem marcas que falam que tiraram o parabeno, mas mantêm os derivados de petróleo na formulação e o consumidor não sabe isso”, diz.
Ela destaca que sustentabilidade se tornou um agregador de valor às marcas, mas isso por si só ainda não vende. Ela dá como exemplo o engajamento que as campanhas de sustentabilidade têm no TikTok, onde a marca explodiu, em comparação com as campanhas de promoção ou de diversidade.
“Fizemos uma ação de promoção normal sem nada de apelo. Deu um pico de venda. Tivemos outra com o mesmo desconto falando de sustentabilidade e vendeu três vezes menos. As pessoas acham legal o conceito, as causa que a gente apoia. Mas, na prática, sustentabilidade não engaja por si só”, afirma.
Fonte: Estadão 01.12.2023