“Nossa atitude individual afeta o global”, diz fundadora da Simple Organic
Ao podcast Entre no Clima, Patrícia Lima fala sobre sua participação na COP 27 e a “urgência” por um setor de beleza mais transparente e engajado com a agenda ambiental
“Fiquei chocada”. Foi assim que a empresária Patrícia Lima definiu sua reação após ser convidada para participar da próxima reunião de clima das Nações Unidas, a COP 27, que acontece em novembro no Egito. A fundadora da Simple Organic, marca criada há cinco anos sob os preceitos do movimento de “beleza limpa”, falará no encontro mais importante para o enfrentamento da emergência climática sobre os compromissos da empresa com uma produção mais responsável, transparente e sustentável e, claro, o papel da indústria de beleza nessa ação coletiva.
“Sabe aquela realização não só pessoal, mas profissional? A ONU está vendo esse trabalho”, celebrou em entrevista ao podcast Entre no Clima, do Um Só Planeta. É uma batalha falar de sustentabilidade no Brasil”, justificou, enumerando desafios, que vão desde a falta de incentivos tributários até o que considera uma atitude frequente e perniciosa no setor de beleza — a prática de greenwashing, a famosa “maquiagem verde” ou “propaganda enganosa”, quando o rótulo traz alegações falsas ou que induzem o consumidor a julgar que um produto é ecológico quando não é.
Como exemplo, citou o uso isolado de termos como “reciclável” nas embalagens — “isso não significa que a embalagem é reciclada, a empresa fabricante precisa se responsabilizar por essa embalagem”. A marca possui Certificação Lixo Zero e o selo Eu Reciclo, iniciativas que ajudam a reinserir os materiais recicláveis na cadeia produtiva e neutralizam o impacto ambiental do resíduo. Plástico tem pouco espaço nas embalagens da Simple Organic, feitas em sua maioria de vidro e alumínio.
A preocupação com a origem e a destinação final das embalagens é um dos pilares do movimento “beleza limpa”, do inglês “clean beauty”, movimento que ganhou corpo na última década, estimulado por consumidores cada vez mais preocupados com a saúde, o meio ambiente e impacto daquilo em que investem seu dinheiro. Desde que nasceu, em 2017, a marca conta com um plano de neutralização do carbono para toda logística da cadeia de produção de seus produtos, além de ser a única rede de franquias com carbono neutralizado, como a loja do Shopping JK em São Paulo, que já nasceu carbon-friendly.
“Este é um movimento que precisa atingir as grandes marcas, para que tenhamos um chacoalhão e possa acontecer uma união [no setor]”, defende, referindo-se às gigantes da beleza que usam formulações majoritariamente à base de ingredientes sintéticos e que, não raro, incluem soluções derivadas da indústria petroquímica e conservantes amplamente utilizados, como os parabenos e outras substâncias com potencial de desregulação hormonal.
“O xis da questão é mostrar que temos uma geração jovem engajada, que é a geração Z e a geração Millenial, que nos apoia e tem esperança de um consumo consciente”, disse. Segundo Patrícia, a pandemia trouxe a certeza de que a atitude individual afeta o global, e isso vale para o que se escolhe comprar. Marcas do movimento de beleza limpa priorizam ingredientes naturais, orgânicos, livres de substâncias potencialmente tóxicas, e não realizam testes em animais.
Em 2021, a Simple Organic cresceu 300% nos canais digitais e fechou o ano com faturamento de R$ 34 milhões. Para 2022, a expectativa é de aumento de mais de 150% de venda nos canais digitais. Atualmente, a empresa conta com 27 lojas no país e está presente em cerca de mil farmácias. Todos os produtos da marca são sem gênero.
O segredo para o crescimento, segundo a empresária, está na união entre sustentabilidade na produção e alta performance na entrega de resultados, uma combinação que atende a públicos diversos. Faz dois meses que os produtos da marca estão à venda no site da Amazon nos Estados Unidos e, em setembro, a Simple Organic vai estrear na badalada loja de cosméticos Allure, em Nova York. “O fato de ser uma beleza brasileira sustentável foi o que chamou atenção”, comentou.
Para a fundadora, que tem entre seus fornecedores pequenos agricultores familiares, o futuro da indústria de beleza depende de um olhar mais atento para todos os elos da cadeia de valor. “Dizem que a beleza sustentável é uma tendência do setor, mas costumo dizer que é uma urgência. Quando falamos de uma indústria tão poderosa quanto a da beleza, se não mudarmos nossa forma de consumir e produzir, geraremos impactos negativos para as presentes e futuras gerações”.
E essa mudança já está acontecendo, é rápida e movida pela escolha do consumidor, garantiu. Marca nativa digital, plugada em estratégias de ação ligeiras e atenta às janelas de oportunidade do setor, a Simple Organic promete lançar, até o final do ano, uma linha de filtros de proteção solar ecológicos, que endereça efeitos nocivos que esse tipo de produto causa nos oceanos, e fará sua estreia na Europa com a inauguração de uma loja em Portugal. O aparente dinamismo e o apetite internacional não desvirtuam o propósito da marca, garante a fundadora. “Às vezes, tem produtos que ficaram fora de estoque pois estamos respeitando o ciclo da natureza”. O Planeta agradece.
Fonte: Um Só Planeta 22.07.2022