Perfumes feitos com captura de carbono industrial
A empresa de cosméticos Coty anunciou nesta quarta-feira (3) que, a partir de outubro, marcas selecionadas de seu portfólio utilizarão etanol oriundo de captura de carbono em suas linhas de fragrâncias.
A gigante da beleza é responsável por perfumes de marcas de luxo como Dolce & Gabbana, Gucci e Calvin Klein, além de CoverGirl e Rimmel.
A Coty, maior empresa de fragrâncias do mundo, firmou uma parceria com a empresa de biotecnologia LanzaTech para usar seu etanol, feito de emissões de carbono capturadas em fragrâncias, em marcas selecionadas do portfólio. A Coty ainda afirmou que pretende usar o etanol na maior parte de suas linhas de fragrâncias até 2023.
O álcool é um ingrediente-chave em muitas fragrâncias, porque carrega bem o perfume e evapora na pele. Atualmente, as fragrâncias da Coty usam etanol de cana-de-açúcar e beterraba. No entanto, este tipo de etanol, embora seja produzido a partir de materiais naturais, ainda tem um grande impacto ambiental.
O cultivo da cana-de-açúcar para a produção de etanol, feito em grande escala, é responsável por desmatamentos e degradação do solo, além de danificar focos de biodiversidade. Em 2018, o Brasil ampliou sua produção para mais de 630 milhões de toneladas métricas de cana-de-açúcar. Cultivar e colher todo esse material também requer muita água e fertilizantes.
A LanzaTech produz seu etanol a partir das emissões de carbono de fontes industriais, como as siderúrgicas. Em um biorreator que coleta essas emissões, as bactérias se alimentam dessa poluição e a transformam em etanol.
O etanol da empresa já foi usado para criar combustível de aviação e substitutos para plásticos, borracha e fibras sintéticas, além produtos de limpeza da empresa suíça Mibelle. A LanzaTech também usou sua tecnologia de captura de carbono para transformar a poluição de CO2 em lipídios e ácidos graxos ômega-3, que podem ser aplicados em uma variedade de produtos – de suplementos nutricionais a ração para peixes e substitutos de óleo vegetal.
Para os perfumes, cientistas da Coty e da LanzaTech desenvolveram um etanol de alta pureza, específico para uso em fragrâncias. Quando a Coty começar a implementar esse etanol em suas fábricas, ele será misturado a outros etanóis – mas, em última análise, a empresa espera usar todo o etanol de carbono reciclado em seus produtos.
O etanol de captura de carbono tem um duplo impacto ambiental: além de exigir menos terra e água, ainda evita que mais emissões de carbono sejam liberadas. A Coty trabalhou com a consultoria de sustentabilidade Quantis para uma avaliação do ciclo de vida e descobriu que o etanol de captura de carbono da LanzaTech quase não envolve consumo de água, reduz a necessidade de terras agrícolas e produz muito menos emissões de carbono do que o etanol derivado da cana-de-açúcar.
O que é captura de carbono?
A captura e armazenamento de carbono (CCS) é uma tecnologia que tem como objetivo diminuir as emissões de dióxido de carbono na atmosfera. Nesse processo, ela pode capturar até 90% das liberações desse gás produzidas a partir do uso de combustíveis fósseis na geração de eletricidade e processos industriais, do desmatamento e da utilização de calcário para a produção de cimento.
Com isso, a captura e armazenamento de carbono evita que grande parte de gás carbônico seja liberado na atmosfera e intensifique os fenômenos de efeito estufa e aquecimento global. Vale ressaltar que todo o gás é armazenado em formações geológicas, isto é, um conjunto de rochas ou minerais que tem características próprias em relação à sua composição, idade, origem ou outras propriedades similares.
Essa tecnologia gerou tantas especulações que, em 2005, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) publicou um relatório especial sobre o tema para melhor informar os formuladores de políticas, engenheiros e cientistas envolvidos na área de mitigação de mudanças climáticas.
Fonte: Mato Grosso Mais 04.03.2021