P&G vai formar profissionais negros
O projeto tem a parceria de Universidade Zumbi dos Palmares, escola de M.AD School of Ideas e agência Grey Brasil
Dona das marcas Oral-B, Downy e Pantene, a fabricante de produtos de limpeza e higiene pessoal Procter & Gamble (P&G) está lançando o projeto Cria da Quebrada, que irá formar profissionais negros na área de criação de peças publicitárias. O objetivo é aumentar a representatividade de pessoas negras no mercado de publicidade. O projeto tem a parceria de Universidade Zumbi dos Palmares, escola de M.AD School of Ideas e agência Grey Brasil.
Mesmo com 56% da população brasileira se declarando negra, as campanhas de publicidade não refletem essa participação. Dados coletados ao longo de 2021 pela pesquisa Todxs, da Organização das Nações Unidas (ONU), apontam que apenas 23% dos comerciais tiveram pessoas negras como protagonistas no país. Essa fatia é ainda menor quando são campanhas de produtos de higiene pessoal e beleza: menos de 20% de protagonistas negros.
A baixa representatividade na frente das câmeras dialoga diretamente com a participação ainda menor de profissionais negros na área de criação. O mercado criativo da publicidade e propaganda ainda é formado apenas por 15% de pessoas negras em cargos estratégicos de diretoria, mostra levantamento do Observatório de Sustentabilidade Racial em 2021.
O Cria da Quebrada nasce dentro do programa Racial 360º, lançado pela P&G Brasil em novembro de 2020. “Precisamos melhorar e criar um impacto na jornada étnico-racial”, disse o presidente da P&G Brasil, André Felicíssimo. O projeto vem em linha com uma iniciativa da matriz norte-americana com o projeto “Widen the Screen” (amplie a tela, na tradução literal), de 2021. Nos Estados Unidos, o primeiro ano do projeto permitiu que mais de 300 profissionais negros do setor audiovisual participassem de 12 produções.
É preciso uma mudança no sistema, observa Marc Pritchard, presidente global de construção de marcas da P&G. “Falta de representatividade é um problema, o outro é a falta de uma representação acurada. Nós sabemos que a publicidade afeta como nós nos vemos e vemos o mundo. Se há estereótipos, se diminui uma pessoa ou nem a representa, isso gera preconceito.”
A empresa não divulga quanto está investindo na iniciativa, mas, além de fomentar o curso, oferecerá ajuda de custo mensal por aluno para transporte e alimentação. Ainda de acordo com a P&G, mais de 50% dos investimentos de ESG (sigla em inglês para meio-ambiente, social e governança) no Brasil são para equidade étnico-racial, embora também mantenha esse montante confidencial.
O curso ministrado pela M.AD School of Ideas para formar redatores e diretores de arte tem duração de 7 meses e beneficia, nesta primeira etapa, 25 alunos e ex-alunos da Universidade Zumbi dos Palmares, instituição de ensino superior sem fins lucrativos.
A iniciativa também visa a inserção no mercado de trabalho. Por isso, os estudantes poderão apresentar seu portfólio criado durante o curso no evento de formatura, que contará com a participação de todas as agências que atendem a P&G. A Grey Brasil tem prioridade na contratação desses profissionais e promoverá intercâmbio de até cinco alunos para um estágio em uma das agências da Grey pelo mundo.
Os interessados deverão se inscrever no site do projeto. Os formulários serão analisados pela coordenação da M.AD School of Ideas. As aulas começam em outubro na Faculdade Zumbi dos Palmares, no laboratório “P&G Pela Criação”, desenvolvido para o projeto.
Fonte: Valor 26.08.2022