Pigmentos naturais são aposta de empresas com foco no ambiente
Mancha Orgânica e projeto Organicolor criam negócios inovadores que valorizam biodiversidade brasileira
A preocupação dos consumidores brasileiros com a sustentabilidade tem levado pequenos negócios a buscarem soluções em segmentos dominados pela grande indústria. No setor de pigmentos, com empresas como Cromex e Multicel, empreendedores identificaram uma brecha para propostas inovadoras de produção e aplicação de tintas orgânicas.
A Mancha Orgânica atua no nicho com produção de tintas atóxicas e 100% orgânicas a partir de produtos da biodiversidade brasileira como açafrão, urucum, cacau e erva-mate. Segundo o cofundador Amon Pinto, uma das estratégias da empresa carioca é atingir o público infantil para que os produtos sirvam como ferramenta de educação ambiental e de incentivo à livre experimentação artística.
“Queremos resgatar os conhecimentos ancestrais de colorir com tintas naturais para favorecer a saúde e minimizar os impactos da indústria no ambiente”, conta Amon, que criou a empresa em 2017 ao lado de outros designers da agência Zebu Mídias Sustentáveis, no Rio. Agora, a Mancha desenvolve parcerias com escolas e redes de ensino na capital fluminense. “Como o produto é livre de metais pesados, as crianças podem colocar na boca, passar a mão nos olhos e experimentar uma interação com a tinta sem limitações.”
Os potinhos são comercializados em quatro cores: amarelo (açafrão), vermelho (urucum), verde (erva-mate) e marrom (cacau). Até o fim do ano a expectativa é lançar mais três opções, atingindo uma média mensal de 250 potes de tinta vendidos. Com viés educativo, a Mancha planeja expansão por meio de um modelo de revenda em papelarias e lojas de brinquedo. Mais para a frente, a empresa também quer atuar nas áreas de mobiliário e tintura têxtil.
Outro projeto que envolve o uso de pigmentos naturais e vem chamando a atenção de grandes empresas é o Organicolor. Fruto de um trabalho de conclusão do curso de Técnicas em Plástico do Senai de Jundiaí, em São Paulo, a equipe de estudantes desenvolveu uma tecnologia de tingimento de plásticos por meio de matéria-prima orgânica.
Para pintar plástico
Nesse caso, a empresa não produz o pigmento, como a Mancha Orgânica, mas desenvolveu a tecnologia que faz com que o pigmento natural pinte o plástico de embalagens sem materiais de origem química e industrial.
“Principalmente nos ramos de cosméticos e alimentos, o consumo desses materiais precisa ser pensado com cautela para não contaminar os produtos que vêm dentro da embalagem.Podemos dar um direcionamento inteligente para o setor, alimentando um ciclo renovável de geração de receita e lucros sem degradar o ambiente”, afirma o professor Eduardo Garcia, orientador da turma do Senai. Segundo ele, a iniciativa passou por um processo de construção de modelo de negócio que foi apresentado pela Organicolor para a Natura, gigante de cosméticos que teria ficado interessada no produto para aplicação em suas embalagens, diz ele. Procurada pela reportagem, a Natura não comentou a negociação.
Como o foco da iniciativa de Jundiaí é a tecnologia da aplicação das cores, a obtenção da matéria-prima ocorre por meio de fornecedores terceirizados. Já no caso da Mancha Orgânica, todas as etapas da produção são realizadas pela equipe, desde o contato com produtores em diferentes regiões do País.
“A gente obtém a erva-mate em parceria com uma cooperativa que disponibiliza os resíduos do cultivo orgânico. Pegamos esse resto que seria descartado e o transformamos em um produto, contribuindo para o reflorestamento da mata atlântica”, conta Amon, segundo quem a empresa também leva em consideração as relações de trabalho nas plantações.
O propósito da marca vai ao encontro de um consumidor brasileiro mais consciente. De acordo com a pesquisa Estilos de Vida 2019, divulgada em junho pelo instituto Nielsen, 42% dos brasileiros estão mudando hábitos de consumo para reduzir o impacto no ambiente, sendo que 30% dizem estar atentos aos ingredientes que compõem os produtos e 65% dizem não comprar de empresas associadas ao trabalho escravo.
Fonte: O Estado de S.Paulo 04.07.2019