Uma introdução sobre o microbioma da pele e os cosméticos
Um número impressionante de microrganismos habita o corpo humano. Sendo a pele o nosso maior órgão exposto ao meio externo, é também um dos maiores habitats microbianos. No entanto, estamos apenas começando a entender as complexas relações dos microorganismos entre si e com o nosso organismo, além dos produtos cosméticos e medicamentosos que aplicamos à nossa pele.
Descobrindo a microbiota humana
Até pouco tempo, os métodos usados para identificar e estudar a microbiota da pele dependiam da capacidade de cultivar espécies individuais no laboratório. Os métodos de cultura dependem de uma compreensão dos nutrientes e fatores ambientais que promovem o crescimento de microrganismos específicos, mas na realidade os vários habitats da pele são muito diversos e dinâmicos para serem replicados em uma placa de Petri. Agora, novas técnicas metagenômicas baseadas em sequências permitem a análise de nichos ambientais inteiros e demonstraram que as técnicas de cultura anteriores subestimaram substancialmente a população e a diversidade microbiana da pele.
O Human Microbiome Project (HMP), lançado em 2008, já começou a mudar drasticamente a nossa compreensão da ecologia microbiana da pele. O projeto visa definir o microbioma da pele além de outros 4 microbiomas humanos. Um microbioma é definido como todos os micróbios e suas interações entre si e seu hospedeiro em um habitat definido. Os objetivos futuros do projeto são identificar o papel do nosso microbioma na doença e na manutenção da nossa saúde.
Pesquisa de microbioma
Esta pesquisa metagenômica já forneceu novos insights sobre o microbioma da pele em termos de sua diversidade e composição. Grice et al. amostraram o cotovelo interno de 5 voluntários e encontraram Pseudomonas e Janthinobacterium, dois gêneros comumente encontrados no solo, água e no intestino, que não são tipicamente considerados micróbios da pele, baseados em ensaios de cultura. É possível que esses organismos tenham sido inicialmente adquiridos de exposição ambiental transitória e colonizados porque não foram eliminados do habitat por defesas físicas ou imunológicas.
Adicionalmente, os dados indicaram que Staphylococcus epidermidis e Propionibacterium acnes, no total, representavam menos de 5% da microbiota recuperada, o que contrasta com a crença comum de que S. epidermidis é um membro dominante do habitat epidérmico de estudos baseados em cultura. Porém, é importante ter em mente que este estudo foi limitado ao pequeno tamanho da amostra e seleção de apenas um habitat microbiano. Em um segundo estudo, publicado em maio de 2009, Grice et al. sondou 20 locais em dez indivíduos saudáveis para desenvolver um mapa corporal maior do microbioma da pele. Este estudo mostrou que as corinebactérias (62%) foram, de longe, as mais frequentemente detectadas, seguidos pelas propionibactérias (23%) e os estafilococos (16,8%).
Diversidade no Microbioma
Uma publicação de 2009 por Costello et al., descobriu que os locais do corpo em indivíduos (n = 7 a 9) como palma e antebraço exibem altos níveis de diversidade microbiana (uma medida de similaridade evolutiva) enquanto outras áreas, como a testa, mostraram níveis mais baixos de diversidade. O alto nível de diversidade nas mãos não é uma surpresa, considerando a freqüência com que nossas mãos tocam várias superfícies e a habilidade de vários microrganismos de persistir em superfícies inanimadas por dias ou meses. O ambiente rico em lipídios da testa pode favorecer a adesão de organismos como o P. acnes, que hidrolisam os triglicérides em ácidos graxos livres, o que pode inibir outros microrganismos.
Esses estudos sugerem que a diversidade de todo o microbioma da pele é mais complexa do que se esperava anteriormente. Um alto grau de diferenças interindividuais também existe na composição da microbiota da pele e essas diferenças nas populações microbianas mostraram-se suficientemente distintas.
Mais pesquisas adiante
É claro que o microbioma da pele é bastante complexo e ainda há muito a aprender. Esses estudos e outros avanços na pesquisa metagenômica nos permitirão compreender melhor o papel dos micróbios na doença e na saúde da pele, o que poderia fornecer abordagens mais holísticas para o desenvolvimento de produtos tópicos que considerem as contribuições integrais deste microbioma.
Fonte: chemistscorner.com