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Cosmetic Innovation - Know More. Create More.Fragrâncias Tecnologia Verde & SustentabilidadeUpcycling na perfumaria: como a indústria de perfumes está apostando no reaproveitamento de materiais

Upcycling na perfumaria: como a indústria de perfumes está apostando no reaproveitamento de materiais

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Em busca de soluções mais sustentáveis, dar nova vida a frutas e pétalas descartadas e até sobras de serragem de fábricas de móveis passa a ser uma realidade no mercado de perfumes

Cada vez mais recorrente no nosso vocabulário, o upcycling vem angariando espaço em algumas das indústrias mais poluentes do mundo – a moda entre elas. Foi apenas uma questão de tempo até a prática invadir do mercado de skincare ao de maquiagem e aterrissar na perfumaria. Depois de anos de pesquisa, os primeiros perfumes upcycled surgem no mercado. É um novo nicho para os perfumistas, que veem sua paleta de materiais se enriquecer de aromas inesperados, o que contribui para uma perfumaria mais sustentável.

As composições dessas fragrâncias são derivadas de resíduos e ingredientes naturais descartados, como frutas, sobras de serragem da indústria de mobiliário ou até pétalas de jasmim recuperadas após cerimônias religiosas na Índia. Uma característica atraente é que esse método de criação reduz o cultivo e a colheita de novas matérias-primas, o que economiza água e terra, além de proteger espécies vegetais ameaçadas, como patchouli, vetiver e sândalo. Dado que a indústria de fragrâncias produz 92 milhões de toneladas de resíduos a cada ano durante o processo de fabricação, garantir que esses subprodutos sejam reutilizados, ao invés de acabar em aterros sanitários, é um grande avanço para o planeta.

As fontes de materiais são amplas e criativas. “Os cítricos usados nos perfumes vêm das raspas de frutas descartadas da indústria alimentícia”, conta Valérie De La Peschardière, diretora de inovação responsável pelo desenvolvimento natural da Givaudan, uma das maiores fabricantes de fragrâncias do mundo, que fixou como objetivo trabalhar com 100% de ingredientes renováveis até 2030. “Observamos um aumento da consciência de fabricantes e consumidores nos últimos anos. Além disso, a moda tem contribuído para a democratização do upcycling, associando-o ao luxo”, afirma Judith Gross, diretora de marketing, inovação e criação da IFF, outra gigante do desenvolvimento de perfumes. Para ilustrar seu raciocínio, a executiva dá como exemplo o projeto precursor Petit H, da Hermès, que transforma sobras de materiais em objetos de luxo.

O primeiro perfume de luxo com ingredientes upcycled foi da marca de nicho francesa conhecida pelas fragrâncias de nomes provocativos Etat Libre d’Orange, que lançou em 2018 o pioneiro I Am Trash – Les Fleurs du Déchet, cujo viés criativo (um perfume que dê sentido e celebre os resíduos) acabou sendo uma ótima estratégia de marketing – o produto se tornou o mais vendido da marca. A fórmula usa essência de maçã (coproduto da indústria de sucos), rosa (recuperada de pétalas já utilizadas), cedro (do resto da serragem da indústria de móveis) e akigalawood (molécula obtida a partir das folhas descartadas de patchouli). O resultado, suave e refinado, passa longe da ideia de “lixo” pressagiada pelo nome.

Em 2022, não faltam exemplos que reclamem esses ingredientes inusitados: o Beautiful Magnolia, da Estée Lauder, usa rosas redestiladas; Burberry Hero apresenta nota sofisticada de cedro criada com sobras de serragem. No Brasil, o movimento começa a ganhar força, ainda que as marcas não comuniquem esses componentes virtuosos: no Essencial Mirra, da Natura, a akigalawood, angariada dos restos de patchouli, assegura a intensidade do corpo amadeirado; já no Amyi 2.14, da marca de nicho brasileira Amyi, a mandarina coeur, ingrediente upcycled da laranja-amarga, assegura o efeito refrescante do perfume inspirado em uma gota de orvalho. “Além de ampliar a paleta dos perfumistas, esses ingredientes exclusivos fornecem uma assinatura única”, acrescenta Judith Gross.

Uma das novidades mais empolgantes desse setor vem da Coty, que produz linhas para Gucci, Chloé e Calvin Klein. Em 2023, seus cientistas planejam utilizar álcool produzido a partir da poluição de locais industriais, incluindo siderúrgicas, na maioria de suas fragrâncias. Um biorreator coleta essas emissões em vez de despejá-las na atmosfera; as bactérias comem a poluição e a transformam em álcool, um ingrediente de suma importância para os perfumes.

Uma fragrância 100% upcycled, uma realidade próxima? “É um desafio criativo”, confessa César Veiga, expert em perfumaria do Grupo Boticário. “Por que não? Mas só o faremos quando tivermos segurança para entregar um produto que una esses benefícios e performance”, finaliza Erica Pagano, vice-presidente de inovação do Grupo Hinode.

 

 

 

Fonte: Vogue 24.01.2022

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