WestRock ergue no Brasil sua maior fábrica de papelão
Uma das principais fabricantes de embalagens do mundo, a americana WestRock vai construir no Brasil sua maior fábrica dedicada a papelão ondulado.
A unidade, na qual serão aplicados mais de US$ 125 milhões, também será a maior de toda a indústria na América Latina e ampliará em 25% a capacidade instalada da multinacional no país. Com início das obras em Porto Feliz (SP) previsto para o próximo mês, o projeto dá sequência a investimentos de mais de US$ 600 milhões realizados pela empresa no mercado brasileiro nos últimos sete anos.
Desse total, US$ 480 milhões foram destinados à construção da nova máquina de papel kraftliner na unidade de Três Barras (SC), inaugurada em 2012.
Naquele momento, já estava nos planos erguer mais uma unidade de papelão, que usa o kraft em sua composição. Mas a crise do país atrasou a execução do projeto e a decisão de seguir em frente acabou sendo tomada agora, diante dos sinais de estabilidade da economia doméstica.
“O terceiro trimestre mostrou uma situação mais clara de estabilidade do consumo”, disse ao Valor, na sexta-feira, o presidente da WestRock Brasil, Jairo Lorenzatto. Consideradas um importante termômetro da economia, as expedições brasileiras de papelão mostram recuperação em 2017, que fechará com sinal positivo após dois anos de quedas superiores a 2%. No acumulado até setembro, a alta estava em 4,28%, a 2,61 milhões de toneladas, segundo a ABPO, que representa o setor. A entidade projeta expansão de 3,8% em 12 meses.
Além da melhora macroeconômica, a capacidade de conversão de papelão ondulado da multinacional – antiga Rigesa – no país já está se aproximando do limite. Assim, o investimento na nova fábrica vai assegurar a continuidade do fornecimento a clientes em contratos de longo prazo. “Esse movimento adere ao momento econômico e de reforço do nosso posicionamento comercial”, explicou.
A WestRock não divulga capacidade total instalada, mas é a segunda maior fornecedora de embalagens de papelão no fragmentado mercado brasileiro, com participação de 8% considerando-se as expedições por metro quadrado no ano passado da ABPO, atrás da líder Klabin. O terceiro lugar é disputado ponto a ponto por Celulose Irani, International Paper (IP) e Smurfit Kappa (SKG). E uma parcela de quase 44% do mercado é atendido de forma pulverizada por fabricantes de menor porte.
Globalmente, a multinacional americana ocupa a vice-liderança em seu segmento de atuação, com 300 unidades fabris e presença nas Américas, Europa e Ásia-Pacífico. No ano fiscal de 2017, encerrado em setembro, teve vendas líquidas consolidadas de US$ 14,86 bilhões, enquanto a operação brasileira, a de maior rentabilidade no universo da WestRock, teve faturamento da ordem de R$ 1,4 bilhão.
Companhia chegou a avaliar a alternativa de crescer no país com aquisição de ativos, diz o presidente no Brasil
De acordo com Lorenzatto, a companhia chegou a avaliar a alternativa de crescimento por aquisição no Brasil – a WestRock tem sido bastante ativa em compras nos Estados Unidos. O volume de contenciosos de diversas naturezas e a idade média do parque fabril, porém, desencorajaram a empresa. “A consolidação seria interessante para todos, mas essa não é a escolha para o país”, comentou.
Mais do que adicionar capacidade ou consolidar a vice-liderança, explica Lorenzato, a nova fábrica representará o “estado da arte” em termos de tecnologia para a fabricação de embalagens de papelão e permitirá à companhia incrementar o nível de atendimento ao cliente. Nessa relação, um dos principais objetivos é evitar desvios de produção no cliente por eventuais problemas na embalagem, ao mesmo tempo em que as características técnicas necessárias ao transporte dos produtos são atendidas. Reduzir custos e riscos no cliente e entregar uma embalagem sustentável e que ajude a vender mais – tendência mais recente nessa indústria -, também orientam os negócios. “Cada produto que vai para a gôndola tem uma especificação de papelão ondulado”, comentou.
Reconhecida pelo alto rendimento de seus papéis, a WestRock utiliza em suas embalagens quase 70% do papel que produz em Três Barras e o restante é vendido a terceiros, tanto no mercado interno quanto externo. Para as caixas de papelão, conta com quatro unidades produtivas, em Blumenau (SC), Valinhos (SP), Araçatuba (SP) e Pacajus (CE).
Segundo o executivo, a companhia avaliou a possibilidade de expansão das operações existentes, mas optou pela construção de uma nova diante da escala e das tecnologias que serão aplicadas. O investimento resultará na desativação da unidade de Valinhos, que entrou em operação em 1942 e também chegou a ser a maior da América Latina. Segundo dados da matriz, quando estiver operando em capacidade plena, a nova fábrica produzirá mais de 400 milhões de metros quadrados de papelão por ano.
Com metade da capacidade que será instalada em Porto Feliz, a unidade de Valinhos não passa por atualização tecnológica relevante há pelo menos 15 anos e o fato de estar instalada no centro da cidade inviabiliza seu crescimento. Ainda não há decisão sobre o que será feito do maquinário, que não será aproveitado na nova fábrica, e a WestRock vai buscar “a melhor destinação” para o imóvel.
Em Porto Feliz, a nova fábrica ocupará uma área de 240 mil metros quadrados, com início de operação no segundo trimestre de 2019 – na mesma data, haverá o fechamento de Valinhos. A escolha do município, de acordo com o executivo, levou em conta sobretudo a logística, de atendimento aos clientes e de recebimento do papel de Três Barras. A disponibilidade de uma área tão grande perto da rodovia Castelo Branco e utilidades também pesou na decisão.
Inicialmente, a unidade vai gerar 200 empregos.
Embora o curto prazo tenha contribuído para a decisão de investimento, o ciclo dessa indústria de embalagens, que é de base florestal e depende da maturidade de florestas, exige planejamento de longo prazo. Assim, se já era sabido em 2012 que haveria necessidade de uma nova fábrica de papelão para sustentar o crescimento dos negócios, já se sabe agora que, nos próximos cinco anos, será necessário avaliar uma nova rodada de expansão em papel. “O curto e médio prazos preocupam por causa de percalços temporais. Mas sob a ótica de longo prazo, acreditamos no crescimento sustentado do mercado doméstico”, disse Lorenzatto.