1º. Workshop ITEHPEC de Cabelos reúne especialistas e aborda Desafios e Estratégias em Hair Care
Por Gabriel Rajão
Num momento de recuperação do setor de HPPC (Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos) o ITEHPEC – Instituto de Tecnologia e Estudos de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos convidou os executivos voltarem suas atenções para um segmento de produtos com grande possibilidade de expansão: o Hair Care. Foi pensando nos itens para cabelos, que representam 17% do mercado global de HPPC, que o Instituto reuniu renomados profissionais especialistas no tema, dando oportunidade às empresas de planejarem investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento e futuros direcionamentos de marketing e novos produtos para o setor. O 1º. Workshop ITEHPEC de Cabelos aconteceu na última sexta-feira (11/8), em São Paulo, com abertura do presidente do ITEHPEC, João Carlos Basilio e moderação do diretor regional de Inovação Scent & Care Latam da Symrise e membro do Conselho Científico do ITEHPEC, Adelino Nakano.
“Os eventos organizados pelo ITEHPEC atraem um público cada vez maior, uma vez que independente da crise econômica do País, com reflexos no setor em 2015 e 2016, os produtos de cuidados pessoais são essenciais e a indústria deve estar atenta nas inovações e exigências do consumidor. Possuímos mais de 420 associados, a maioria de pequenas e médias empresas. É principalmente para eles que dedicamos esse trabalho, tão bem estruturado em parceria com o conselho científico”, disse João Carlos Basilio.
“Nossa organização buscou atender a uma demanda crescente do mercado abordando tendências bem como legislação e normas técnicas. Assim que iniciamos esse workshop já começamos o planejamento para o próximo, em 2018”, disse Nakano.
Para os participantes o evento atendeu às expectativas, trazendo temas de grande relevância para uma área bem específica dentro das empresas: regulamentação, Pesquisa e Desenvolvimento. Rafaela Pepineli, técnica de pesquisa da Oxiteno, disse que “a palestra técnica sobre cabelos permite um acesso a informação que muitas vezes não está disponível, garantindo assim um resultado muito eficaz no acesso a novidades, tendências e tecnologias”.
Já Alessandra Rebouças, coordenadora de desenvolvimento da Unilever, falou que o workshop foi “um importante momento para nivelar conhecimentos, com linguagem diferenciada e conteúdo técnico bem direcionado para o dia-a-dia das empresas”.
Sabrina Gomes, presidente e responsável pelo desenvolvimento de produtos na De Sírius, disse que o objetivo central de sua participação foi “buscar um olhar novo e um chancelamento dos investimentos. Este é também um período quando podemos parar um pouco e pensar os desenvolvimentos, algo que nem sempre conseguimos na correria do dia-a-dia”.
Palestras
Tendências no mercado para cabelos
Manoela Hernandes, New Business Associate do Euromonitor.
Na palestra inicial do Workshop ITEHPEC de Cabelo o foco central foi a análise econômica do segmento de HairCare. Manoela Hernandes apresentou um panorama detalhado deste segmento, que representa 17% da indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos global, ficando atrás apenas de SkinCare, que possui 26% do total. “Para os próximos cinco anos esperamos um crescimento de 4,3% no mercado de HairCare. A categoria, hoje, é dominada principalmente pelos produtos básicos como xampu e condicionador, que possuem mais de 50% de participação. Logo atrás estão os colorantes, responsáveis por mais de 3% deste nicho, mas que já dão sinais de queda”, explicou.
Segundo a análise do Euromonitor o mercado latino americano é maduro, sofisticado e com grande volume no segmento de cabelos, chegando a 12 bilhões de dólares e com expectativa de crescimento de 6,25%, aumento apoiado muito mais pelo valor agregado que pelo volume, ou seja, há uma clara tendência de que esses produtos fiquem cada vez mais premium.
Semelhantes também são os hábitos de consumo dos brasileiros e dos americanos. No quesito escovação diária de cabelos a média é quase idêntica: 53% dos entrevistados no Brasil confirmaram realizar o ato diariamente contra 54% dos norte-americanos.
Como expectativa para o futuro, a Euromonitor enxerga três tendências principais: a Beleza Sustentável (para atender aos milleniuns, ingredientes naturais, storytelling e ‘free from’); a Diversidade/ Multiculturalidade (Halal Beauty e Grupos Étnicos) e a Influência do SkinCare (ciclos mais rápidos de adaptação; aplicações, formulações e entregas multifuncionais).
Estrutura do Cabelo e Processos de Danificação: Implicações nos Aspectos Físicos e Químicos.
Carolina Lourenço, Global HairCare Center Coordinator da Symrise
No segundo encontro da manhã, Carolina Lourenço pontuou as informações técnicas sobre a estrutura capilar, lembrando aos presentes que a composição do cabelo é proteica, sendo que 86% é de queratina, 4,5% de outras proteínas sulfuradas, 4% de melanina e 4% de lipídios, entre outras composições. “Na região externa estão as cutículas em escamas, responsáveis pela estrutura. As pontas, claramente, sempre sofrem mais”, relembrou.
Na ativa proteção ao cabelo, o CMC (Cimento Celular Capilar) é majoritariamente lipídico, mas este é vulnerável aos cosméticos. O córtex é a estrutura com filamentos, constituída de melanina e que dá cor aos fios por meio de dois pigmentos. A borda (cutícula) não é pigmentada. “Na região central está a medula, sobre a qual pouco se sabe, pois pode estar presente ou ausente nos fios. Mas estudos dizem que a medula pode estar ligada ao brilho dos cabelos”, afirmou.
Lourenço também apontou as cinco fases de crescimento do cabelo: anágena (de 6 a 8 anos com crescimento anual de 12 centímetros anuais no máximo); catágena (quando começa a atrofia do folículo e a perda da atividade biológica, durando algumas semanas), telógena (fase terminal quando não há mais produção celular mas o fio continua ligado à estrutura) e exógena (quando o fio se desprende).
No Workshop ITEHPEC de Cabelo também foram apontados os tipos básicos de cabelo (asiático, caucasiano e africano) e a evolução da classificação com 8 novas categorias, sendo o nível 1 mais liso e o nível 8 mais crespo.
Novas tecnologias e conceitos que regem o processo de criação e desenvolvimento de produtos para colorações e descolorações dos cabelos
Celso Martins Junior, Diretor Técnico da Grandha Professional Hair Care
Em sua apresentação Celso Martins Junior teve como foco central a questão tecnológica envolvendo os processos de coloração e descoloração. Ele lembrou que estes delicados procedimentos precisam ser planejados e que é essencial construir uma metodologia técnica para previsibilidade de coloração do cabelo.
Os processos para criação de produtos no nicho são a soma da emulsão base mais agrupamento de corantes, alcalinizantes e claim. A atenção deve se voltar também para a questão do PH no cabelo, sendo que 7,5 é o início do descolamento da placa cuticular.
“Mas não podemos confiar na teoria, pois o cabelo da mulher brasileira já mudou tanto e possui tantos procedimentos que precisamos sempre realizar o teste”, reforçou Junior. Mas o entendimento do processo continua o mesmo: quanto maior o dilatador maior o favorecimento para que o corante altere a textura da coloração do cabelo. “Cada produto tem uma faixa ideal de inserção ou modificação da estrutura e o ideal para a descoloração e super coloradores é entre 10 e 11. O semi permanente possui faixa ideal no PH 9”, explicou. O palestrante também lembrou que a Anvisa proíbe produtos acabados com ph menor que 2, pois são considerados corrosivos.
Alisantes Capilares, tecnologias disponíveis e seus impactos sobre os fios
Guilherme Cardoso, gerente de marketing Hair Care na Chemyunion
Com o polêmico tema do alisamento capilar, Guilherme Cardoso afirmou de maneira bem clara que a questão do fim da ditadura fashion de cabelos lisos está longe de acabar. Apesar do claro avanço em defesa dos cachos naturais, segundo ele, o cabelo liso é mais fácil de cuidar e o tempo escasso das mulheres cada vez mais inseridas em altos cargos deve levar a um breve retorno ao desejo pelo liso absoluto.
Mercado Étnico – Um olhar Técnico
Margareth da Silva Cerqueira, gerente de P&D e Controle de Qualidade do Instituto Beleza Natural
As informações apresentadas por Margareth da Silva Cerqueira acompanham a filosofia da Beleza Natural, que valoriza a beleza afrodescendente e empodera os negros. “A teoria racialista dizia que a cor preta interferia negativamente na estima das pessoas, por isso houve interiorização das pessoas de raça negra e exteriorização das pessoas de raça branca. Hoje o movimento é de desconstrução e libertação deste conceito”, explicou.
Margareth discordou de Guilherme Cardoso ao dizer que o motivo do abandono do liso é que as mulheres começam a se sentir cansadas pelas imposições sociais, força que pode fazer com que os cachos ainda continuem em alta. “No Brasil, os cidadãos negros são 6,5% mais que os brancos, mas uma a cada 3 mulheres já disse ter sofrido preconceito devido aos cabelos e 4 em cada 10 já sentiram vergonha por causa do cabelo cacheado”, disse. Ao mesmo tempo uma análise do Google mostra que as pesquisas pelo termo “cabelo cacheado” foram 232% maior que “cabelos lisos” no período do ano de 2016.
Para atender às novas consumidoras é preciso que as empresas conheçam as necessidades, busquem novas matérias-primas ou concentrações de uso (o que define o claim), procurem novas técnicas de aplicação e consigam novas propostas de produtos.
Mapeamento estratégico de inovações globais em HairCare
André Coutinho, Sócio-Diretor da Symnetics
Para falar de tendências, André Coutinho disse que isso não é previsão e nem adivinhação: é exploração. E foi explorando o presente que trouxe informações importantes às adaptações das companhias, como a questão da economia compartilhada e as expectativas digitais de um novo perfil de consumidores que já são nativos da era dos computadores. “Em 5 anos, 60% da população do mundo será de nativos digitais. E os resultados dessa convivência natural é visível. O Uber, por exemplo, apresentou as pesquisas feitas nos locais onde chega mostrando que depois de 2 a 3 anos as pessoas ficam mais impacientes e irritadas com a espera do seu carro”, disse.
Estratégias em Formulação para cuidados dos cabelos
Cristiane Canto, gerente de Pesquisa & Desenvolvimento da Oxiteno
Focando nas três mais importantes tendências de produtos para cabelos atuais (multiculturalidade, Green beauty e SkinCare influence), Cristiane Canto destacou que os atributos mais pedidos dentre desses grupos são a multifuncionalidade, a suavidade, o conceito de natural e o ‘free from’. Para o formulador o desafio maior passa, portanto, a ser otimizar o portfólio de ingredientes com custos e processos eficazes, montar uma estratégia de formulação sabendo se serão criados linha ou variante, quais os benéficos, os claims e o benchmarking. Já os direcionadores passam a ser otimização de matérias-primas, sinergias, multifuncionalidade e versatilidade. O conjunto dessas ações determinará a performance do produto.
Uma defesa clara da palestrante foi a questão de que não é necessário, para cada tipo de cabelo, um tipo de surfactante. “Tudo depende da modulação de concentração, sendo possível, para isso, o uso de um chassis surfactante único”, disse. Bem desenhado esse surfactante pode utilizar no xampú, por exemplo, os amônicos, anofênicos, não iônicos ou carbônicos para aspectos básicos (limpeza com suavidade). Também são valorizados os aspectos sensoriais, a versatilidade e o custo. Nas tendências podem ser definidos o sulfate free, o low poo ou no poo, o co-wash, o biodegradável ou o Green.
Ainda no xampu podem ser definidos ingredientes funcionais, como modificadores reológicos, booster de espuma, perolizantes e opacificantes e agentes condicionantes. Assim conseguem-se produtos multifuncionais, sensoriais e com custo x benefício. Já os performance boosters são emolientes, polímeros, formadores de filme e umectante, que podem incentivar o consumo devido à alta performance, multifuncionalidade e versatilidade.
No condicionador os chassis de formulação podem usar surfactantes carbônicos como agente de consistência, assim o condicionamento e o quesito sensorial se destacam. Nos performance boosters há emolientes, polímeros, formadores de filme, umectantes, agentes de condicionamento e etc. Esses visam performance, multifuncionalidade e versatilidade. “É uma questão de modular concentração e ingredientes”, reforçou Cristiane.
Métodos de Avaliação da Eficácia de Produtos HairCare
Marcela Gabarra, pesquisadora da USP-Ribeirão Preto
As técnicas de teste da fibra capilar estão intimamente ligadas aos objetivos que se esperam analisar. Para isso é preciso selecionar corretamente os métodos existentes.
Um dos exemplos apresentados pela pesquisadora é a avaliação de resistência mecânica, que como os testes de tensão (antes e depois do tratamento capilar com alisantes, por exemplo). Ela também mostrou as possibilidades de torção (rotação da fibra 360 graus e análise com laser em 3 ou 4 regiões). Para definir a resistência a penteabilidade é analisada a força necessária para se pentear antes e depois do aplique de BB Cream, por exemplo, fator que pode reduzir em até 14 vezes esse esforço. A Reflectância analisa o brilho e a avaliação da cor é feito pela escala LAB (para processos de coloração, manutenção de cor e novas formulações). A definição do conteúdo aquoso de um produto é feito diretamente via espectrometria, indiretamente via Dinamic Vapor Sole (secamento e reidratação) e FIR, por análise do espectro de ligação.
Já a avaliação de temperatura pode levar a fibra a um estresse de até 200 graus e a análise de imagem MEV (Microscopia Eletrônica de Varredura ou Virascope 1500) busca em nível microcelular os problemas no fio. “Por último é a análise sensorial, que é um acompanhamento, em ambiente controlado, das sensações do voluntário. Apesar de mais subjetivo é também um dos mais usados, pelas possibilidades de obtenção de resultados”, disse Marcela Gabarra.
Eficácia Clínica de Produtos para o couro cabeludo
Maria Inês Harris, diretora-executiva do Instituto Harris
Uma lembrança fundamental feita por Maria Inês Harris foi o reforço sobre as Boas Práticas Clínicas, que levam em consideração a Ética (proteção dos participantes), a Qualidade (gerenciamento e tratamento dos dados) e a responsabilidade (que recai sobre os patrocinadores – a empresa – os pesquisadores e o Sistema CEP/CONEP).
Para uma boa eficácia, segundo Harris, o caminho deve ser o planejamento, a avaliação e aprovação, a condução e a finalização. Todas essas etapas devem ter o acompanhamento próximo da companhia contratante, tendo em vista a responsabilidade do envolvimento.
“Sobre os temas mais comuns para teste de produtos a palestrante informou que 17% das queixas estão relacionadas a queda, representando 12% das consultas pagas. A Caspa é explorada comercialmente e estima-se que 50% da população sofrerão com este mal em algum momento da vida. Outras necessidades, como a pediculose, também entram no sistema de análise” indicou Maria Inês.
Entre as técnicas para estudo há divisões como não invasivas (exames gerais, fotografias, questionários), semi invasivas (análise capilar) e invasivas, como a biópsia. Para produtos capilares as mais comuns são as duas primeiras. Em análises de temas subjetivos, como prurido, a pesquisadora reforçou a importância da criação de parâmetros, como: em que momentos você sente a coceira. Assim é possível tabelar resultados.
Necessidades e Dificuldades enfrentadas pelos profissionais de salão em relação aos cosméticos
Eleandro Fernandes Morila, SENAC
Eleandro Fernandes Morila trouxe uma visão da ponta dos salões, sendo sincero sobre as dificuldades em mostrar as revoluções seguras para cabelo versos os resultados de sistemas perigosos, casos dos formaldeídos. “O consumidor tem dificuldade em entender a gravidade do tema e muitas vezes prefere arriscar. Os resultados de outros sistemas de alisamento ainda não são tão rápidos e precisamos sensibilizar a população cada vez mais”, afirmou.
O evento contou com o apoio de mídia do Portal Cosmetic Innovation.