Vida longa à beleza natural, com ética e sustentabilidade na obtenção de seus ingredientes
Estrelas dos cremes de luxo e de marcas com apelo natural, as algas se tornaram alvo de preocupação ambiental
Por Estela Mendonça
De acordo com novas pesquisas da empresa inteligência de mercado Mintel, os produtos de beleza naturais continuarão sendo a grande tendência em 2018. Por outro lado, as marcas terão de assumir uma abordagem ética e sustentável sobre como são obtidos os ingredientes de suas formulações.
Entre esses ingredientes, o grande destaque são as algas. No ano passado, outra pesquisa da Mintel revelou que 40% dos millennials dos Estados Unidos usaram produtos que continham algas marinhas, que se tornaram cada vez mais presentes em produtos de skin care, a partir de 2014, por suas propriedades que hidratam, combatem os radicais livres e firmam a pele.
Empresas de luxo como a La Mer, Phytomer, La Prairie e Kiehl construíram boa parte de sua reputação com cremes formulados com caviar e algas marinhas, que também caíram no gosto do consumidor de produtos naturais. Com isso, marcas como Lush, The Body Shop e St. Ives também passaram a explorá-las em suas formulações.
Cadeia sustentável
Por outro lado, começou a surgir o questionamento: até que ponto essa tendência de beleza prejudica o ecossistema?
Nos EUA e na Europa, existem regras para obtenção das algas, mas em águas não regulamentadas, a extração indiscriminada para vários fins reduziu a população de peixes. Diante disso, algumas empresas colhem elas mesmas suas algas de forma sustentável e outras compram de fornecedores certificados ou que realizam o cultivo ético.
A Mintel recomenda que as marcas que formulam produtos com algas marinhas como um ingrediente funcional chave devem desenvolver uma mensagem saudável, ecológica e ambiental, especialmente para os millennials, para os quais a sustentabilidade tornou-se fator de decisão compra.
“É no desenvolvimento sustentável e na busca da maior consciência em torno das questões ambientais que se volta a preocupação da indústria cosmética quando se pensa em ingredientes naturais inovadores. Obviamente, a eficácia e segurança também são pontos extremamente importantes nessa avaliação”, afirma Leonardo Cerqueira Lima, especialista em marketing de ingredientes funcionais da Merck.
A companhia alemã, em parceria com a Agrimer, buscou no oceano a inovação para desenvolver o novo ingrediente ativo RonaCare RenouMer, que é produzido a partir do extrato da alga vermelha Polysiphonia elongata. A espécie é encontrada e cultivada na Costa da França, próximo à região da Bretanha.
Cultivo marinho
Para se aprofundar sobre a cultura de novas espécies de algas, a Agrimer, juntamente com especialistas em cultivo marinho, participou do projeto de pesquisa Aquactifs, certificado Pôle Mer Bretagne, que visa preservar a diversidade natural.
Lima explica que, em comparação com essa agricultura sustentável, outros produtores de extratos de algas que apresentam taxas de crescimento aceleradas e sem o controle adequado, podem colonizar áreas que normalmente não são habitadas por espécies de algas nativas, causando mudanças no ecossistema de modo invasivo.
A Polysiphonia elongata convive com mais outras 13 espécies similares de algas em seu ecossistema, segundo o especialista da Merck, que destaca que o cuidado na identificação correta desses organismos é feita por meio do método de “código de barras” (método de caracterização genética), indispensável para amostragem e desenvolvimento controlado da cultura. Para Lima, múltiplas características fazem do RonaCare RenouMer um ativo natural inovador, desde a sua produção, identificação, controle de qualidade e composição até seu desempenho e performance no produto final. “O uso de algas e seus extratos é relativamente novo na indústria cosmética. Portanto há uma preocupação no processo produtivo quanto à identificação e controle de qualidade. O cultivo dessas algas também respeita a biodiversidade do seu habitat e atende aos aspectos sustentáveis”, afirma.
“O uso de um processo holístico de produção e estudos inovadores em termos de eficácia e performance (in vitro e in vivo) fazem do RonaCare RenouMer o principal ingrediente marinho disponível hoje no mercado cosmético”, garante.
Todas essas virtudes colocaram o RonaCare RenouMer, que possui certificação Cosmos e Ecocert, entre os finalistas do Sustainable Beauty Awards 2017, prêmio concedido pela Ecovia Intelligence (anteriormente conhecida como Organic Monitor), que reconhece organizações que promovem a sustentabilidade no setor de beleza.
Propriedades cosméticas
De acordo com Lima, o ingrediente ativo de RonaCare RenouMer é uma solução aquosa (extrato) do citoplasma da alga vermelha Polysiphonia elongata. A formulação do produto inclui ainda água, ácido cítrico e benzoato de sódio. As substâncias principais desse extrato de citoplasma que promovem a eficácia no uso em cosméticos são: Prolina, Micosporina, e Digeneaside.
O citoplasma da Polysiphonia elongata contém elementos nutritivos e protetores, que são favoráveis à saúde de qualquer célula, inclusive das células da pele humana. Segundo Lima, existem outros ativos no mercado que utilizam extratos secos ou isolam substâncias de algas, porém o processo de secagem prejudica os componentes sensíveis ao calor do citoplasma e substâncias isoladas podem perder sinergias para serem totalmente eficazes. “RonaCare RenouMer prioriza preservar o poder da natureza em sua essência vital. Esta abordagem é inovadora e representa seu ponto principal de diferenciação”, destaca.
Efeitos antienvelhecimento
Muitos estudos se concentram nos efeitos antienvelhecimento de aminoácidos semelhantes à micosporina (MAAs). A literatura sugere efeitos protetores e de suporte no colágeno humano. Além disso, o aminoácido de l-prolina é o precursor da hidroxi-prolina (HP) um constituinte do colágeno.
Segundo Lima, teste in vitro comprovou um aumento de 35% de colágeno em fibroblastos tratados com RonaCare RenouMer. Já os testes in vivo com 2% do ativo mostraram um efeito de alisamento e antirrugas superior, em comparação com outro ativo a base de algas, e efeitos primários e secundários de melhora da matriz de colágeno, como densificação da derme, hidratação profunda e melhora da elasticidade.
O testes toxicológicos também garantiram que o produto não é irritante à pele nem aos olhos, o que torna RonaCare RenouMer aplicável também em produtos específicos para a área dos olhos.
O que quer quem já envelheceu
O professor, farmacêutico e bioquímico Emiro Khury, diretor da EK Consultores, empresa de consultoria especializada no desenvolvimento de produtos cosméticos e dermatológicos, acredita que as empresas fornecedoras de matérias-primas estão conseguindo corresponder ao movimento do consumidor de buscar opções naturais de produtos de skin care voltados ao envelhecimento.
“Este movimento é mundial e se encontra atualmente mais forte em países com população mais idosa e com hábitos de cuidados com a pele. O Brasil está acompanhando esta tendência à medida que a geração dos baby boomers nativos se tornam mais idosos e desembarcam na terceira idade querendo manter seu charme e sedução. Esta geração não tem medo de envelhecer, mas sim de perder o gosto pela vida e a aparência se torna cada vez mais importante para as pessoas idosas”, avalia.
A tendência, segundo o professor, está reforçando mais os lançamentos de produtos de manutenção da qualidade da pele envelhecida, ao contrário da prática mais comum no mercado privilegiar produtos para a prevenção do envelhecimento. “É muito importante a prevenção do envelhecimento, mas com o aumento da idade da população, os produtos de manutenção se tornaram interessantes”.
Para Emiro, os produtos naturais realmente são eficientes para tratamentos anti-idade: “A ciência cosmética oferece aos formuladores alternativas naturais muito eficientes na prevenção e manutenção das funções bioquímicas, imunológicas e fisiológicas da pele. Produtos naturais anti aging têm a mesma eficácia dos produtos formulados com ingredientes sintéticos, garante.
Envelhecimento e renda
“Quanto mais nossa população envelhece e melhora seu poder aquisitivo maior se torna o mercado de produtos específicos para a terceira idade”, avalia, mas alerta que é comum, ainda, encontrar no mercado produtos que aproveitam alguns de seus benefícios para “estender” a recomendação para peles mais idosas. “Isso não convence mais o consumidor exigente e as empresas mais antenadas já estão oferecendo produtos específicos para pele senil”.
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