Biohacking: seria esse o futuro do mercado de skincare?
Especialista em saúde cutânea e entusiasta do universo de biohacking, Jasmina Vico, faz suas previsões sobre o futuro do skincare
Quando o assunto é skincare, Jasmina Vico, especialista em saúde da pele radicada em Londres, insiste em uma abordagem holística. Tendo a pele como um indicador do que está acontecendo dentro do corpo de seus pacientes, e vice-versa, a expert leva em consideração fatores como a saúde intestinal, padrões de sono, níveis de estresse, ingestão de micronutrientes, dieta e níveis de estresse para definir seus tratamentos sob medida, que incluem lasers, agulhas e peelings suaves de ácido. “Não existem soluções rápidas – apenas cuidados contínuos – e o investimento deve ser de longo prazo”, explica. É uma abordagem que lhe rendeu seguidores de alto nível, incluindo a maquiadora Isamaya Ffrench, a atriz de Killing Eve, Jodie Comer, e Claire Foy, de The Crown, além da modelo Shanina Shaik.
Com uma crença no poder da prevenção e um grande interesse em biohacking, Vico acredita em um futuro que seremos capazes de hackear nossos próprios corpos com a ajuda da ciência e tecnologias avançadas para prolongar nossa vida – ao rastrear padrões de sono, monitorar a saúde intestinal e até mesmo imprimir nossa própria cútis. Aqui, ela compartilha suas previsões para o futuro do skincare, desmascara alguns dos mitos e equívocos que sustentam a indústria e descreve as melhores maneiras de proteger sua pele.
O que as pessoas erram mais quando o assunto é skincare?
“O uso excessivo de produtos que não são adequados para o seu tipo de pele é algo que tento corrigir e educar meus clientes diariamente. Mais importante, gastar o seu dinheiro suado em cuidados com a pele pode ser uma loucura se você não estiver protegendo essa superfície todos os dias da luz do sol e da luz azul. Proteção é a chave. Existe um mal-entendido de que a pele é um escudo”.
Em que você acha que certas áreas da indústria de cuidados com a pele erraram?
“‘Siga a ciência’ é uma frase que todos nós ouvimos muito recentemente, mas quando se trata de cuidados com a pele, você não consegue ouvir o suficiente. Muitos produtos e procedimentos prometem resultados que a ciência não garante. Também acho que tem havido uma falta de foco da indústria na educação em torno do impacto que as escolhas de estilo de vida têm em nossa pele”.
Quando se trata de antienvelhecimento e saúde da pele, quais fatores devemos levar em consideração?
“Minha abordagem de cuidados com a pele é focada na prevenção – interna e externamente. Me preocupo com fatores como a sua saúde intestinal, ingestão de micronutrientes, dieta, padrões regulares de sono e níveis de estresse. Ficar fora do sol é obviamente o grande problema. Reduzir a inflamação da cútis é minha missão. A inflamação envelhece a pele, enfraquecendo sua estrutura e degradando o colágeno e a elastina. Nossa dieta – o açúcar é o pior agressor – nossos níveis de estresse e o ambiente em que vivemos (produtos químicos/poluição) impactam profundamente e acentuam essa inflamação. Muitos de nós vivemos na correria e todos experienciamos o estresse. É necessário desligar. A prática japonesa shinrin-yoku que se traduz como “banho na floresta”: uma caminhada na floresta, sem telefone, usando seus sentidos – todos nós deveríamos tentar essa prática. Uma caminhada na natureza, meditação, respiração, desaceleração e estar presente: tudo isso faz bem para a pele”.
Uma pele impecável é um ideal de beleza amplamente defendido. Você se preocupa em reforçar essa ideia?
“A perfeição é uma meta irreal. Isso não significa que não podemos melhorar drasticamente nossa pele e torná-la a melhor versão de si mesma. Sou uma solucionadora de problemas e uma das coisas que faço é identificá-los – mesmo quando não estão visíveis – e encontrar essas soluções”.
Os avanços técnicos estão acontecendo o tempo todo, para onde você vê o futuro dos cuidados com a pele?
“Acho que o futuro vai se concentrar mais na prevenção do que no que já está feito, e em um nível celular. Rastrearemos nossos padrões de sono e a “profundidade do nosso sono” com monitores nas camas e usando esteiras de aterramento para ajudar a reduzir a inflamação. Usaremos nossas próprias impressoras de pele 3D pessoais para criar folhas de pele. Isso parece estranho, mas uma impressora portátil já foi desenvolvida para depositar bio-tinta em grandes queimaduras para ajudar na recuperação das feridas. A bioimpressão da pele usará peptídeos e aminoácidos de automontagem que criam quase uma estrutura semelhante a um andaime que cresce dentro da pele. Haverá mais dispositivos bioelétricos, biotecnologia e nanorrobôs para rastrear nosso sono – porque o sono é um dos fatores mais importantes para a pele”.
De onde vem seu interesse em biohacking?
“Sou naturalmente uma pessoa curiosa – quero saber como o corpo funciona, perceber como envelhecemos, aumentando a nossa longevidade. Sempre me interessei por ciência e desenvolvimentos em tecnologia. O autocontrole de nossa saúde nos ajudará a entender como nosso corpo funciona e responde a fatores internos e externos, que serão diferentes para cada um de nós e serão a chave para entender o que desencadeia inflamações, por exemplo. O transumanismo já está entre nós, estejamos prontos ou não. Já somos todos cyborgs de certa forma – afinal, sou certamente mais inteligente apenas por ter meu telefone ao meu lado”.
O que te deixa mais animada em termos de desenvolvimento em biohacking?
“Acho que vai nos oferecer algum controle e autonomia sobre nossa saúde, pois teremos mais acesso às informações – mas também por meio de nossa própria experimentação. Mas assim como estou interessada no impacto sobre os indivíduos, também estou interessada em padrões sociais e maior compreensão. Estamos todos conectados, fisicamente, cognitivamente, mentalmente e socialmente. Também sou fascinada com a evolução [do estudo do] sono e os efeitos que têm na nossa saúde em geral – não apenas na pele. Tenho usado meu anel Oura por cerca de dois anos para rastrear meu sono. É essencial para a saúde mental e física ter um sono reparador e adequado. Os desenvolvimentos em tapetes de aterramento estão nos ajudando também a promover uma boa noite de sono”.
Qual será o futuro do envelhecimento?
“A socioeconomia terá um grande papel. Compreendemos muito mais sobre o envelhecimento por causa da pesquisa investida em ciência e biotecnologia. Vai ser sobre como monitorar sua saúde. As marcas de cuidados com a pele que conseguem customizar e fazer produtos sob medida para o indivíduo com biotecnologia se sairão bem. Mas apenas se forem transparentes e não fizerem afirmações enganosas. Também olharemos mais para os pilares da saúde, que tem sido minha abordagem há muitos anos, para garantir que eles estejam trabalhando em sinergia e funcionando no seu melhor. A autodisciplina terá um grande papel nisso”.
Qual é o futuro do mercado de beleza?
“Eu gostaria de pensar que é sobre ser único e feliz em sua própria pele. Quando estou com meus clientes, quero liberar sua essência, sua inocência – que está associada à juventude e felicidade. Ter coisas que gostaríamos de melhorar é uma coisa, mas a aceitação é importante: juventude engarrafada não existe … ainda. Mas quem sabe no futuro com bioimpressão, pele de matriz 3D, IA etc. Tenho a sorte de ter uma irmã gêmea com quem posso me comparar. No futuro, todos teremos um gêmeo digital que olharemos todos os dias no espelho, em nosso telefone ou como um holograma. O gêmeo será sua dupla e o ajudará a controlar sua saúde. Por exemplo, permitirá que você veja seu rosto após a exposição aos raios UV, seu rosto intestinal, seu rosto de ressaca. Também permitirá que você veja sua idade biológica e, portanto, ajudará você a experimentar e encontrar soluções preventivas”.
Fonte: Vogue 05.01.2021